Legislativo

Lei Maria da Penha pode ser aplicada em casos que envolvem militares

Presidente do STM apoia rigor contra militares agressores, previsto no projeto de lei que transfere esses julgamentos da Justiça militar para Justiça comum

Se o projeto virar lei, Justiça Militar deixa de julgar violência doméstica contra PMs e membros das Forças Armadas -  (crédito:  CNJ/Divulgação)
Se o projeto virar lei, Justiça Militar deixa de julgar violência doméstica contra PMs e membros das Forças Armadas - (crédito: CNJ/Divulgação)
postado em 15/01/2024 03:55 / atualizado em 15/01/2024 23:20

O presidente do Superior Tribunal Militar (STM), brigadeiro Joseli Parente Camelo, apoia todo rigor na punição para militares que cometem violência doméstica contra a cônjuge também integrante de força de segurança. Para o magistrado, a agressão às mulheres é inaceitável, e citou o feminícidio como algo intolerável, assim como todas as formas de violência que se manifestam na relação entre casais de militares.

O ministro foi abordado pelo Correio, no Congresso Nacional, no fim do ano passado, e perguntado especificamente sobre o projeto aprovado na Câmara, da (agora) deputada suplente Kátia Sastre (PL-SP), que transfere da Justiça Militar para a Justiça comum casos como esses, que envolvem violência entre casais de militares.  

Camelo lembrou que, hoje, esse tipo de ocorrência é tratado pelo Código Penal Militar, mas não vê objeção na tramitação da proposta da suplente paulista e disse que concorda que a punição seja dura.

"Concordo, não vejo objeção. São casos que acontecem e que precisam ser julgados com rigor", afirmou o presidente do STM, em sua passagem pelo Senado Federal.

O projeto da deputada insere na parte do Código Penal Militar que trata de crimes militares em tempos de paz um artigo para "atribuir à Justiça comum a competência para o julgamento de crimes que envolvam violência doméstica e familiar contra a mulher, quando praticados por militar da ativa contra militar na mesma situação".

Relatora do projeto na Câmara, a deputada Laura Carneiro (PSD-RJ) deu parecer favorável e afirmou que esses agressores hoje se "escondem" e se "protegem" na Justiça Militar e que nunca são julgados por esse tipo de crime.

"Já que não se quer punir como se deve, que se transfira para uma Justiça mais rigorosa. Não pode é ficar impune. O que se visa com essa proposta é a proteção da mulher militar, de sua dignidade, da proteção de seu corpo", disse a relatora.

Intimidade e disciplina

Sastre se elegeu deputada em 2018 após se notabilizar por uma ação em Suzano, no interior de São Paulo. Em maio daquele ano, ela reagiu com um tiro a um assaltante que chegou apontando uma arma para um grupo de pessoas, na frente de uma escola. Na eleição daquele ano — e graças à popularidade que conquistou com o episódio —, ela foi a sétima deputada federal mais votada no estado, com 264 mil votos. Tentou se reeleger no ano passado, mas recebeu bem menos apoio, cerca de 60 mil votos, e não conseguiu ser eleita como titular. É suplente da bancada.

Na justificativa de seu projeto, a autora argumenta que fatos ocorridos na intimidade do casal não impactam a disciplina ou a hierarquia militar nem ofendem bens jurídicos exclusiva ou essencialmente militares.

"Não há razão para submetê-los à jurisdição castrense. Sabemos que as distorções existentes entre essa Justiça especializada e a Justiça comum acabam por gerar injustiças, tendo em vista o menor rigor da lei penal militar e o abrandamento das punições em relação a crimes que tanto ofendem a sociedade brasileira", afirmou.

O projeto, que segue para tramitação no Senado, foi aprovado em uma sessão dedicada à campanha mundial 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher. A bancada feminina selecionou sete projetos de iniciativa masculina com conteúdo de defesa das mulheres. E também escolheu sete propostas de deputadas com o mesmo objetivo.

Foi incluído também no pacote a criação de um serviço médico específico para cuidar e acolher a mulher alcoolista, fim da prescrição para quem cometer crimes sexuais contra mulheres, fim de atenuante para menor de 21 anos e maior de 70 que violentar mulher, e ações de prevenção contra as mulheres em casas de show e bares, como a campanha batizada de "Não é não".

 

 

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

-->