Operação Tempus Veritatis

Um dia após reunião golpista com Bolsonaro, militares atacaram as urnas na Câmara

Ministro da Defesa à época, general Nogueira participou da reunião com o então presidente, em julho de 2022, na qual foi proposta "virada de mesa". No dia seguinte, o militar esteve no Congresso; hoje, ele é investigado pela PF

General Paulo Sérgio Nogueira participa de audiência na Câmara, após reunião de Bolsonaro articulando um  golpe, em julho de 2022 -  (crédito:  Câmara dos Deputados/Divulgação)
General Paulo Sérgio Nogueira participa de audiência na Câmara, após reunião de Bolsonaro articulando um golpe, em julho de 2022 - (crédito: Câmara dos Deputados/Divulgação)

Um dia depois da reunião organizada por Jair Bolsonaro, em 5 de julho de 2022, na qual o então presidente Jair Bolsonaro ataca o sistema eleitoral e diz a seus principais auxiliares que é preciso reagir antes das eleições e incita seus ministros a "agirem", o ministro da Defesa à época, general Paulo Sérgio Nogueira, compareceu a uma audiência pública na Comissão de Relações Exteriores da Câmara. O assunto da pauta era "prioridades do ministério" para aquele ano, mas o militar tratou de outras temas e criticou as urnas eletrônicas.

Disse aos deputados que não há programa imune ao ataque e citou como exemplo o cartão de crédito clonado de sua mulher. Nogueira foi um dos alvos da busca e apreensão da operação "Tempus Veritatis", nesta quinta-feira (8/2), da Polícia Federal, na investigação sobre a tentativa de um golpe de Estado.

"Sabemos muito bem que esse sistema eletrônico necessita sempre de aperfeiçoamento. Não há programa imune a um ataque, imune a uma invasão. Não há! Estão aí os bancos que gastam milhões de reais com segurança. Eu tive meu cartão clonado há 3 semanas e minha esposa, no ano passado. Então, isso é fato", declarou Nogueira, numa audiência pública da Câmara, em 6 de julho de 2022. O general foi um dos atingidos pela operação de ontem.

Na reunião no Planalto, cujo conteúdo agora vem à tona, Nogueira estava sentado muito próximo de Bolsonaro, que, apesar do tom golpista do encontro, se dirigiu a ele dizendo que não falava em "providência de força". E disse ao general: "Não é dar tiro. Ô Paulo Sérgio, vou botar a tropa na rua? Tocar fogo aí? Metralhar? Não é isso, porra". O vídeo dessa reunião foi revelado pela colunista Bela Megale, do O Globo.

Na audiência pública da Câmara, estavam presentes outros militares do governo, como o então comandante da Marinha, Almir Garnier, outro alvo da PF nesta quinta. Ele também duvidou das urnas eletrônicas e afirmou que nenhum sistema está "imune a falhas".

"Eu sou brasileiro, tenho direito a ter opinião. Ninguém vai dizer que eu não tenho direito a ter opinião. É assim, como disse o nosso ministro, em qualquer sistema digital. Não é característica de um ou outro sistema digital ser imune a falhas, a sabotagens, a erros. Nada disso está garantido por decreto. Tudo isso tem que ser comprovado", declarou Garnier na reunião.

"Reelegê-lo presidente de todos nós"

No encontro do dia 5, no Palácio do Planalto, o general Nogueira, ao ouvir o apelo do então presidente Bolsonaro por esforços para que o ajudassem a ser reeleito, afirmou que fazia reuniões semanais com os três comandantes das Forças (Exército, Marinha e Aeronáutica) para avaliar o que poderia ser feito.

"Estou realizando reuniões com os comandantes das Forças, quase que semanalmente. Esse cenário nós estudamos, nós trabalhamos e temos reuniões decisivas pela frente, para ver o que pode ser feito", afirmou o general, que falou no risco de reações diante de medidas que poderiam ser adotadas.

"Reações poderão ser tomadas para que se possa ter transparência, segurança e condições de auditoria. E que as eleições se transcorram com tranquilidade, como a gente sonha, e como pelo que a gente vê no dia a dia, e terminamos por reelegê-lo presidente de todos nós."

 

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postado em 09/02/2024 11:57 / atualizado em 09/02/2024 14:52
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