
O governo brasileiro conseguiu abrir uma janela de diálogo com os Estados Unidos em meio às incertezas em torno do tarifaço prometido pelo presidente norte-americano, Donald Trump, desde que tomou posse, em janeiro. O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, conversou, nesta quinta-feira, com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, e o Representante de Comércio dos EUA (USTR, na sigla em inglês), Jamieson Greer, por videoconferência.
O tema principal da conversa foi o comércio bilateral e as políticas tarifárias conduzidas pelo republicano. Em nota, o vice-presidente disse que a conversa foi positiva e destacou que acredita ser possível chegar a um bom entendimento a respeito da política tarifária, por meio do diálogo, além de outras questões que envolvam a política comercial entre os dois países.
O comunicado de Alckmin também lembrou que os Estados Unidos mantêm um superavit comercial de US$ 200 milhões na balança comercial com o Brasil. Além disso, a corrente de comércio entre os dois países gira em torno de US$ 80 bilhões. Ele ainda afirmou que em oito dos 10 produtos que o Brasil mais exporta para os Estados Unidos, a tarifa total é zero atualmente.
De acordo com os dados do Mdic, a taxa média ponderada efetivamente recolhida é de 2,73%, bem abaixo do que sugerem as tarifas nominais, ressaltou o ministro. Ele acrescentou que o Brasil responde, atualmente, pelo sétimo maior superavit da balança comercial de bens dos Estados Unidos.
O vice-presidente da República ressaltou, ainda, que o governo brasileiro busca fortalecer a complementariedade econômica entre os países, "além de aumentar a reciprocidade, fortalecer as empresas e contribuir para boas práticas comerciais entre ambos". Pelo lado dos norte-americanos, eles concordaram em manter as reuniões bilaterais nos próximos dias.
Ao que tudo indica, Alckmin tomou para si a liderança das conversas bilaterais com o segundo maior parceiro comercial do Brasil sem a participação de autoridades do Ministério das Relações Exteriores (MRE), pasta que costuma negociar com o USTR e não deu informações sobre a pauta da conversa desta quinta-feira.
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Conversa positiva
O diplomata José Alfredo Graça Lima, vice-presidente do Conselho Curador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), destacou ser natural que a conversa ocorra entre Alckmin e a contraparte do Mdic no governo norte-americano. Ele ressaltou que o Representante de Comércio é o responsável por preparar as tais tarifas recíprocas. Logo, o fato de ele também participar da reunião foi certamente positivo.
"E os dados são muito favoráveis ao Brasil, mas não está claro quais os critérios que vão ser utilizados para impor sobretaxas a outros países que não sejam México, Canadá e China", frisou o diplomata.
No último dia 10, Trump assinou um decreto que institui uma tarifa de 25% sobre todo aço e alumínio importados pelo país, a partir de 12 de março. Um dos objetivos do governo brasileiro é garantir condições melhores para o aço brasileiro, visto que o Brasil é o segundo maior exportador do produto para os Estados Unidos. Trump também anunciou novos aumentos de tarifas a partir de abril para vários países, inclusive, o Brasil. Logo, há muitas incertezas sobre o impacto dessas novas medidas internamente.
Segundo Graça Lima, somente em 2 de abril teremos mais clareza sobre o impacto do comércio exterior brasileiro. O ex-cônsul-geral do Brasil em Nova York e em Los Angeles lembrou, ainda, que, por ora, "caso (1) se mantenham as sobretarifas chinesas para produtos do agronegócio norte-americano, e (2) o Brasil disponha de oferta exportável de tais produtos, há perspectivas de desvio de comércio e ganhos para o Brasil". Contudo, ele acrescentou que haverá perdas nos setores brasileiros de aço e de alumínio e, eventualmente, no acesso ao mercado norte-americano de etanol.
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