CÚPULA CELAC-UE

Lula foca no multilateralismo em cúpula na Colômbia

Em discurso na Colômbia, presidente brasileiro demonstra otimismo para conclusão de acordo de livre-comércio UE-Mercosul, no fim deste ano, e evita falar sobre a Venezuela às véspera de novo encontro entre Brasil e EUA

Presidente Lula cumprimenta o líder colombiano Gustavo Petro, durante a cúpula de países latinos e UE, em Santa Maria -  (crédito: Luis Acosta/AFP)
Presidente Lula cumprimenta o líder colombiano Gustavo Petro, durante a cúpula de países latinos e UE, em Santa Maria - (crédito: Luis Acosta/AFP)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou o otimismo para a conclusão do acordo de livre-comércio entre União Europeia (UE) e Mercoul no fim deste ano e defendeu, que a América Latina e a UE são fundamentais "para a construção de uma ordem mundial baseada na paz, no multilateralismo e na multipolaridade".

Fique por dentro das notícias que importam para você!

SIGA O CORREIO BRAZILIENSE NOGoogle Discover IconGoogle Discover SIGA O CB NOGoogle Discover IconGoogle Discover

"O acordo entre o Mercosul e a UE prova que é possível fortalecer o multilateralismo também na frente comercial", declarou. Ele afirmou esperar que, na próxima cúpula do Mercosul, em dezembro, os blocos possam finalmente concluir o tratado. "Espero que os dois blocos digam sim para um comércio internacional baseado em regras, em resposta ao unilateralismo. Nossas cadeias produtivas resilientes podem reverter o papel da América Latina e do Caribe de fornecer mão de obra barata para o mundo desenvolvido", ressaltou ele, ontem, em discurso na 4ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União Europeia, em Santa Marta, na Colômbia. No discurso, defendeu o diálogo e maior cooperação política e econômica entre os dois blocos.

O petista ainda criticou a falta de cooperação entre os países, afirmando que as cúpulas se tornaram um ritual vazio e que muito do que é colocado em pauta não sai do papel. "Estamos deixando de cultivar nossa vocação de cooperação e permitindo que conflitos e disputas ideológicas se imponham. Vivemos de reunião em reunião, repletas de ideias e iniciativas que não saem do papel", afirmou Lula. Ele ficou algumas horas na Colômbia, apenas para participar da Cúpula, que foi esvaziada, porque não teve a presença de todos os líderes dos 27 países da UE e, muito menos, das nações da América do Sul. As sanções econômicas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o governante colombiano Gustavo Petro afugentaram a maioria dos presidentes sul-americanos.

Não à toa, Lula foi mais cometido no discurso e evitou citar diretamente a Venezuela, e, muito menos, o polêmico presidente do país vizinho, Nicolás Maduro, que vem sendo ameaçado, nos últimos meses, com ações do governo dos Estados Unidos, que tem enviado porta-aviões para o Caribe, visando o combate ao narcoterrorismo. Logo, prevaleceu o bom senso do petista, uma vez que o Brasil vem tentando se reaproximar do governo dos EUA, visando negociar uma redução do tarifaço de 50% sobre as exportações brasileiras que está em vigor desde agosto.

Um novo encontro entre o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, para a negociação para a revisão da sobretaxa aos produtos brasileiros está previsto para acontecer ainda nesta semana.

No início do discurso, Lula criticou os retrocessos democráticos e também a intolerância em relação aos pontos de vista na região. "Voltamos a conviver com as ameaças do extremismo político, da manipulação da informação e do crime organizado. Projetos pessoais de apego ao poder, muitas vezes, solapam a democracia", afirmou.

O petista também disse que as guerras na Europa seguem semeando incertezas e que o investimento em equipamentos bélicos deixa de ser aplicado para o desenvolvimento "justo e sustentável". "A ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e do Caribe. Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais", afirmou, frisando que "somos de uma região de paz e queremos permanecer em paz".

União de forças

O presidente brasileiro ressaltou a importância da união de forças entre os países para combater, juntos, o crime organizado. Segundo ele, é preciso ações coordenadas, troca de informações e operações conjuntas. "Nenhum país pode enfrentar esse desafio isoladamente", disse. Ele citou, como exemplo, a criação do Conselho de Cooperação Policial Internacional da Amazônia, que reúne agentes de nove países sul-americanos. "Essas são plataformas permanentes de cooperação para combater crimes financeiros e o tráfico de drogas, de armas e de pessoas", reforçou.

Lula também aproveitou para falar sobre a COP30, afirmando que é uma oportunidade para a América Latina e para o Caribe mostrarem ao mundo que a conservação das florestas é essencial para o futuro do planeta. "O Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) é uma solução inovadora para que nossas florestas valham mais em pé do que derrubadas." Ele também defendeu que a transição energética é inevitável. "Nossa região é fonte segura e confiável de energia limpa e pode acelerar a redução da dependência dos combustíveis fósseis."

O petista aumentou o tom ao afirmar que democracias não combatem o crime violando o direito internacional. "A democracia também sucumbe quando o crime corrompe as instituições, esvazia os espaços públicos, destrói famílias e desestrutura negócios." Ele destacou também que a segurança pública é dever do Estado e um direito humano fundamental. "Não existe solução mágica para acabar com a criminalidade. É preciso reprimir o crime organizado e suas lideranças, estrangulando seus financiamentos e rastreando e eliminando o tráfico de armas."

Contradições

Apesar de demonstrar resistência para a escolha de uma mulher como ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) para a vaga deixada pelo ministro Luís Roberto Barroso, Lula defendeu a igualdade de gênero na política global, além de apoiar um comando feminino na Organização das Nações Unidas (ONU).

"Somos duas regiões pioneiras na promoção da igualdade de gênero. Podemos abrir um caminho para a superação do trabalho não remunerado das tarefas de cuidado, que recai de forma desproporcional sobre as mulheres. Mulheres que, apesar de representarem mais da metade da população mundial, nunca exerceram a mais alta função das Nações Unidas. É chegada a hora de termos uma latino-americana no cargo de secretária-geral da ONU", defendeu.

O chefe do Executivo concluiu a fala afirmando que regiões estratégicas como a América Latina, o Caribe e a Europa estão comprometidas com uma agenda global mais promissora. "Precisamos enviar ao mundo um sinal de que América Latina e Europa estão comprometidas com uma agenda de paz, cooperação, ampliação do comércio e dos investimentos, geração de emprego e crescimento sustentável."

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

 

?

 

  • Apesar de evitar escolher uma mulher para o STF, Lula defendeu uma liderança feminina na ONU
    Apesar de evitar escolher uma mulher para o STF, Lula defendeu uma liderança feminina na ONU Foto: Reprodução Canal Gov
  • Apesar de evitar escolher uma mulher como ministra do STF, Lula defendeu uma liderança feminina na ONU em discurso
    Apesar de evitar escolher uma mulher como ministra do STF, Lula defendeu uma liderança feminina na ONU em discurso Foto: Ricardo Stuckert / PR
  • Google Discover Icon
postado em 10/11/2025 03:00
x