BICHOS

DSTs em cachorros e gatos: formas de contágio, tipos e tratamento

Muitas vezes desconhecidas pelos tutores, as doenças sexualmente transmissíveis, quando não tratadas, podem causar danos graves para a saúde do pet

Luna Veloso*
postado em 10/07/2022 08:04
 (crédito: arquivo pessoal)
(crédito: arquivo pessoal)

Falar sobre doenças sexualmente transmissíveis é algo delicado em qualquer espécie. E, quando se trata dos animais domésticos, o assunto é ainda menos divulgado, causando muitas dúvidas entre os tutores. Assim como nos humanos, entre os pets, há inúmeras dessas infecções, cada uma com causas e consequências específicas.

A Revista listou algumas das principais doenças que atingem os bichinhos para acabar de vez com a desinformação e ajudar a prevenir o sofrimento deles, que muitas vezes passa despercebido pelos donos.

TVT

O tumor venéreo transmissível é a doença mais comum quando se trata das sexualmente transmitidas pelos cães. O contágio é mais fácil do que parece porque, mesmo se tratando de uma DST, ele pode ocorrer ao se cheirar ou lamber o órgão de um animal infectado — atividades bastante comuns entre os cachorros.

Esse tumor se aloja nos órgãos genitais do animal e pode ser tratado por meio de quimioterapia, variando entre quatro e oito sessões, com eficácia em mais de 90% dos casos. De acordo com a médica veterinária Anna Carolina Godinho, a prevenção é feita por meio da castração, pois ainda não existe vacina. Além disso, deve-se evitar ao máximo o contato com animais desconhecidos.

Os sintomas físicos, como aumento de volume dos órgãos genitais, sangramentos e secreções, podem ser percebidos pelos donos mas o médico veterinário é responsável pelo diagnóstico final, por meio de exames laboratoriais. Anna Carolina explica que o maior problema relacionado a TVT são as infecções secundárias, resultantes do não tratamento, como anemia e miíase, que podem ter evoluções rápidas e muito sérias.

Márcia Mossmann, terapeuta, jornalista e designer gráfica, é amante dos animais desde criança. Mesmo não seguindo pelo ramo da veterinária, um dos seus sonhos de infância, passou a vida inteira ajudando animais abandonados a terem uma vida digna. Hoje ela é tutora de cinco — quatro cachorros e uma
gatinha, todos adotados.

Bono, o último a ser resgatado, foi encontrado pela primeira vez na padaria ao lado de seu condomínio, com o pelo sem brilho, magro, apático e vários machucados pelo corpo. Mesmo sem intenção inicial de levá-lo para casa, teve ajuda de algumas amigas para pagar consultas, exames, vitaminas, ração especial e remédios até conseguir encontrar um lar temporário para ele.

Semanas depois, porém, foi descoberto que Bono estava contaminado com TVT e, por ter outros animais em casa, a pessoa que ia ficar com ele desistiu. Márcia decidiu, então, adotá-lo para começar o mais rápido possível a quimioterapia. “Na última sessão, ele teve uma reação muito forte e quase se foi. É um guerreiro!”

Bono passou quase um ano usando colar elisabetano, com a cabeça enfaixada e experimentando vários unguentos, pomadas, preparos fitoterápicos até tudo cicatrizar por completo e seus pelos começarem a crescer de novo. “Todo esse sofrimento (dos animais e de quem escolhe ajudá-los) pode ser evitado com conscientização da posse responsável. Ter um pet é um ato de amor, mas amor sem responsabilidade é cruel.”

Brucelose

É uma bactéria que, geralmente, infecta as cadelas. O maior problema está na contaminação quando elas estão prenhas, pois a bactéria pode causar aborto, fetos natimortos e infecção uterina. Já os machos, quando infectados, podem desenvolver prostatite e algumas outras infecções associadas ao órgão reprodutor. Na maioria dos casos, quando o animal está infectado com a brucella, ele não apresenta sintomas, dificultando a tomada de providências e, muitas vezes, resultando em uma partida repentina e com motivo “desconhecido”.

A transmissão ocorre por meio do contato com as secreções de animais infectados, seja por meio de relação sexual, seja pela própria placenta, secreções do parto ou até urina. Como medida preventiva, a veterinária Anna Carolina Godinho indica que a higienização frequente do ambiente, com amônia quaternária e água sanitária, deve ser prioridade, mesmo que a castração dos cães seja a mais eficiente.

Leishmaniose

Essa não é considerada exatamente uma DST, pois essa não é sua principal forma de contágio, porém também é, sim, transmitida sexualmente. A infecção ocorre, principalmente, pelo mosquito palha. Ele carrega em seu sangue protozoários que atacam o sistema imunológico de cachorros, gatos, humanos e diversos outros animais.

A leishmaniose tem grande incidência na região Centro-Oeste e mata em quase 90% dos casos de contágio. A castração é, mais uma vez, uma forma de controle da doença. Ela previne que um animal contaminado, durante a relação, infecte o parceiro e todos os filhotes da ninhada.

FIV

O vírus da imunodeficiência felina, conhecido popularmente como aids felina, também não é considerado uma doença sexualmente transmissível. O comparativo com o HIV ocorre pela semelhança de comportamento dos vírus no organismo e não pela forma de transmissão.

O contágio se dá por meio das secreções corporais, normalmente pela saliva — onde está a inoculação do vírus. Segundo a a médica veterinária Luane Santana, essa é passada por meio de brigas, mordidas e até no coito — pelo hábito de morder a fêmea. A transmissão também pode ser placentária — de mãe para filhotes.

O diagnóstico se dá por meio de exames laboratoriais, mas a desconfiança deve partir de casa. “Em gatos, qualquer sinal fora do comum é importante”, salienta a veterinária. “Os felinos escondem muito o que estão sentindo e, quando percebemos a doença, muitas vezes, ela já está em um estágio muito avançado.” Então, qualquer coisa fora do habitual, como o gato ficar sem comer, se esconder, mudar de hábito repentinamente, ficar mais quieto que o normal, perder peso, apresentar doença de pele, intestinal, respiratória ou ocular, vômitos, dificuldade para respirar, são sinais preocupantes.

Na maioria das vezes, essa condição não possui cura, somente tratamento, ou seja, o óbito virá mais rápido e mais sofrido se o tutor não buscar tratamento. Ainda não existe vacina contra a FIV. O mais indicado é manter o paciente o mais longe possível das ruas, colocar tela de proteção nas janelas, castrá-los, para que não tenham o instinto de sair, e mantê-los com checapes sempre em dia. Não existe um tratamento protocolado para a doença, cada caso exige um tipo de medicamento de acordo
com sua condição clínica.

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação