Saúde

Cuidados com a coluna devem começar, ainda, na infância

Mochilas muito pesadas ou carregadas indevidamente podem provocar problemas ortopédicos sérios que repercutem, inclusive, na vida adulta. Veja medidas para evitar dores e lesões

Letícia Mouhamad*
postado em 23/01/2023 08:25 / atualizado em 23/01/2023 07:19
 (crédito: Reprodução: Jeremy Bishop/Unsplash)
(crédito: Reprodução: Jeremy Bishop/Unsplash)

O papo de dor na coluna e no joelho não combina muito com a energia da infância e da adolescência. Os conselhos para evitar peso demasiado nas costas, com a enorme quantidade de livros para estudar — típica desse período — passam tão despercebidos quanto o famoso "leva um casaquinho". Mas os incômodos vêm e, na vida adulta, não deixam de ser notados. Acredite!

Por isso, a importância de se atentar ao peso das mochilas carregadas pelas crianças durante o período escolar, visto que a carga, quando exorbitante, pode causar problemas ortopédicos na coluna vertebral. O ortopedista e traumatologista Juliano Bernadelli Guerra, do Hospital Anchieta, explica que a criança, por ser um indivíduo em desenvolvimento, têm tecidos ósseo e cartilaginoso em constante formação, sendo suscetíveis à força externa deformante.

"A dor muscular na musculatura paravertebral, que inclui o músculo rombóide, o músculo grande dorsal, o músculo elevador da escápula e o músculo piramidal, é o sintoma mais comum do uso de mochilas com carga excessiva", complementa. Ademais, a curvatura exacerbada da coluna torácica e da coluna cervical para frente, conhecida tecnicamente como cifose postural, também pode ser observada.

No que concerne à escoliose, Guerra pontua que o peso acentuado do utensílio escolar, por si só, não é a causa da deformidade, idiopática, mas ocasiona o aumento das dores musculares em pacientes que têm a patologia, além de afetar principalmente meninas na idade de 9 a 13 anos. O ortopedista Flávio Patto, do Instituto de Neurologia de Goiânia, ressalta que, na prática, a carga da mochila não pode exceder 10% do peso da criança. Assim, quem pesa 50kg deve ter uma mochila de, no máximo, 5kg, por exemplo.

Zelo à saúde dos estudantes

É essencial, neste contexto, que as escolas adotem medidas para amenizar essas situações. O Colégio Ideal, por exemplo, tem diferentes estratégias com o fim de reduzir o peso do material didático, dividido em volumes que são entregues aos alunos durante o ano de forma bimestral. “Dessa forma, o planejamento dos professores é pensado nessa distribuição, e um estudante no terceiro bimestre não precisa se preocupar em levar o primeiro volume à sala”, comenta Hérik Hédem, coordenador dos segmentos ensino fundamental (anos finais) e ensino médio.

Outra iniciativa da instituição é a disponibilização de armários para os estudantes, que podem alugá-los. Nas unidades em que há ensino infantil, as salas dos pequenos ficam no térreo, para que não precisem subir escadas com o material, e naquelas com mais de um andar o acesso é feito pelo uso de rampas, favorecendo o uso de mochilas com rodinhas.

“Uma boa dica é ter um caderno com poucas matérias. Assim, o aluno tem um caderno que utilizará nas disciplinas daquele dia e não carregará um sobrepeso desnecessário. Lembrando que sempre que houver a troca do caderno, as anotações precisam estar bem organizadas para que não haja qualquer prejuízo pedagógico”, complementa.

Segundo os especialistas consultados pela Revista e conforme as recomendações da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), essas são as principais medidas para evitar problemas com a carga das mochilas:

- A mochila deve ter alças justas, macias e firmes nos ombros, com largura mínima de 4cm.

- Dê preferência para a aquisição daquelas que possuem alças ajustáveis na cintura, pois auxiliam a equilibrar o peso do acessório, evitando que a criança se tensione para frente ou para trás.

- A borda inferior da mochila deve se acomodar na região lombar e não pode ficar batendo no bumbum, ficando até 5cm abaixo da linha da cintura.

- As mochilas com alças devem ser utilizadas da forma como foram planejadas, com as duas tiras nos ombros. O peso não será distribuído adequadamente se somente uma alça for usada.

- Evite deixar materiais soltos na mala e opte pelas que têm compartimentos para ajudar a separá-los.

- Nos utensílios com alças, os itens mais pesados devem ficar no compartimento central, mais próximo ao corpo e encostado às costas, para melhor distribuição do peso.

- Mochilas de rodinhas podem ser uma opção para quem carrega muitos objetos, principalmente quando a carga ultrapassa 10% do peso corporal. Nestes casos, o puxador deve ficar na altura do quadril, de modo que não seja necessário inclinar o corpo para o lado ao carregar.

- Escolha modelos feitos para crianças, dado que têm materiais mais leves do que os fabricados para adultos.

- Estimule o estudante a levar somente itens necessários para a escola, evitando peso extra.

Palavra do especialista

No que tange às mochilas excessivamente pesadas, não basta adaptá-las, é necessário adequar também a postura de quem as utiliza. Portanto, qual a postura ideal para carregar o utensílio?

Primeiro evitar ao máximo mochilas pesadas, carregando somente o necessário. A carga não pode exceder 10% do peso. O acessório tem de estar justo ao corpo, com a parte inferior encaixando na curvatura lombar, de modo que a criança fique com uma postura retilínea, sem inclinação lateral ou para frente.

Quais as repercussões de carregar tal peso, em idade escolar, na vida adulta?

As crianças estão em crescimento, desenvolvendo a musculatura e o esqueleto. No futuro, sobrecargas excessivas e má postura podem ocasionar desvios na coluna lombar para compensar a força anômala exercida, causando escoliose ou cifose.

Como as escolas podem se mobilizar para reduzir o peso do material carregado diariamente pelas crianças?

Planejar as atividades diárias, informar o material que tem de ser carregado pelas crianças e proporcionar um local seguro para o armazenamento de itens pesados.

Márcio Rogério Borges Silveira é médico ortopedista, subespecialista em traumatologia esportiva, cirurgia do joelho e ortopedia do idoso, em Brasília. Atende na clínica Salus Ortopedia e Fisioterapia.

*Estagiária sob a supervisão de Roberto Fonseca

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