Especial

Histórias marcadas pela vacinação: proteja você e os outros

Referência mundial quando o assunto é imunização da população, o Brasil vive um momento de retrocesso na adesão às vacinas. Conheça história de pessoas que não abrem mão de se protegerem

Yasmin Isbert* e Ailim Cabral
postado em 07/05/2023 07:00 / atualizado em 07/05/2023 15:56
 03/05/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Zé Gotinha e a importância da vacinação contra a Polio. -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
03/05/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Zé Gotinha e a importância da vacinação contra a Polio. - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Ambulantes vendendo picolé, maçã do amor, balões e brinquedos coloridos. Crianças com o rosto marcado pelas lágrimas logo transformam o choro em sorriso ao ganhar alguma das recompensas disponíveis após terem sido corajosas e tomado as suas vacinas.

Com a presença do aclamado Zé Gotinha, essa era a realidade do famoso Dia D durante as campanhas de vacinação infantil no Brasil. Os postos de saúde ficavam lotados de famílias, e os sons de gritos e lamentações se uniam às risadas e às palavras reconfortantes dos pais.

As memórias dos dias de "tomar vacina" povoam as lembranças das gerações que viveram nas décadas de 1980 e 1990, quando os esforços para erradicar doenças como a poliomielite e o sarampo colocaram o calendário anual de vacinação como uma das prioridades da Saúde no Brasil.

A conquista, porém, tem sido ameaçada com a queda de adesão aos imunizantes. Os índices caíram vertiginosamente nos últimos anos, e isso traz uma série de perigos. A 500 quilômetros do Acre, na cidade de Loreto, no Peru, evidencia-se uma realidade não registrada há mais de 30 anos na América do Sul — a poliomielite retorna, perto da fronteira brasileira, e especialistas se preocupam com a possibilidade de uma nova epidemia. A doença já chegou a paralisar mais de 1.000 crianças por dia — o último caso de pólio nas Américas tinha sido no Peru, em 1991, e agora volta, com um caso registrado em 21 de março de 2023.

O país comunicou à Organização Pan- Americana de Saúde (OPAS) que o vírus foi identificado em um bebê indígena, no distrito de Manseriche. A justificativa do acontecimento se dá pela baixa da cobertura vacinal infantil, que também está acontecendo na Colômbia e no Brasil.

Mesmo sendo referência mundial no quesito vacinação, os números brasileiros chamam atenção de entidades e profissionais, que enxergam a motivação da baixa como algo multifatorial. Problemas para registrar, falta de disponibilidade e, agora, o ataque à confiança são mencionados pelo diretor do Departamento de Programa Nacional Imunização (DPNI), Eder Gatti, quando se refere às mudanças dos dados da vacinação, principalmente do grupo infantil.

 03/05/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Zé Gotinha e a importância da vacinação contra a Polio.
03/05/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Zé Gotinha e a importância da vacinação contra a Polio. (foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Cobertura nacional

Um artigo publicado pelo Instituto Fiocruz, em 2019, explica a trajetória das campanhas de vacinação no Brasil, que começaram em 1961, com a regulamentação do Código Nacional de Saúde. No mesmo ano, experimentos da vacinação oral contra a poliomielite foram desenvolvidos no sudoeste brasileiro — Rio de Janeiro e São Paulo.

No ano seguinte, entra a campanha contra a varíola, que só deixou de ser obrigatória depois da sua erradicação em 1971, mas, ainda assim, não eram programas fortes o suficiente para proteger a população das doenças imunotransmissíveis. Apenas em 1980 temos a primeira campanha de vacinação contra poliomielite que, de fato, erradicou a doença.

O diretor do Departamento de Programa Nacional Imunização (DPNI), Eder Gatti, diz que o Brasil se tornou referência no que faz, pelo aprimoramento das campanhas ao redor do território nacional. O acúmulo de experiências advindas dessas estratégias, além de erradicar, diminuiu a proliferação de doenças que ainda estão presentes nos dias atuais, a exemplo do sarampo.

"A criação do Sistema Único de Saúde (SUS) também atuou muito para que a vacinação chegasse aos extremos brasileiros, dando estrutura para as campanhas e permitindo a consolidação de um programa amplo", afirma o diretor. "O cenário era de altíssima cobertura, consolidada na segunda metade dos anos 1990 até meados de 2010."

  • Simone na formatura do seu filho, Miguel. Arquivo pessoal
  • Na infância, Ricardo Gadelha, que ficou com sequelas por causa da poliomelite, usava botas com ferros para conseguir andar Arquivo pessoal
  • Sabrina Vieira Tosi cresceu com a cultura da vacinação Arquivo Pessoal
  • Bárbara Lima exibe o cartão de vacinação. Na foto menor, Edmilson no aniversário de 74 anos com as cinco filhas Arquivo pessoal
  • Quadro vacinal da poliomielite entre 2010 e 2023. Secretaria de Saúde do DF
  • 03/05/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Ricardo Gadelha importância da vacinação contra a Polio. Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  • 03/05/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Ricardo Gadelha importância da vacinação contra a Polio. Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  • 03/05/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Ricardo Gadelha importância da vacinação contra a Polio. Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  • 03/05/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Zé Gotinha e a importância da vacinação contra a Polio. Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  • 02/05/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Revista. Iimportância da vacinação na vida. Na foto, Bárbara Lima. Ed Alves/CB/DA.Press
  • 02/05/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Revista. Iimportância da vacinação na vida. Na foto, Bárbara Lima. Ed Alves/CB/DA.Press

Orgulho do Zé Gotinha

Com um cartão de vacinação impecável, a produtora autônoma Sabrina Vieira Tosi, 26 anos, tem orgulho de dizer que, mesmo morrendo de medo de agulhas, não perde uma campanha. O hábito começou na infância. A mãe de Sabrina costumava fugir do Dia D e das filas, acordava a filha mais cedo em algum dia da semana de vacinação e a levava para ser imunizada antes das aulas. "Além de evitar as filas, ela nunca queria que eu perdesse a aula. Só isso poderia ter sido um pouco diferente, ter uma folga depois da dor", brinca a produtora.

Ao chegar na UBS 01, do Lago Sul, o posto em que tomou todas as vacinas da infância e o que frequenta até hoje, Sabrina lembra do olhar feliz e orgulhoso da mãe. "As enfermeiras diziam que minha carteirinha era linda, toda completa, e elogiavam muito minha mãe, dizendo que ela cuidava muito bem de mim."

Apesar do sabor amargo das gotinhas e da dor da famosa "picadinha", as lembranças que ficaram marcadas para Sabrina foram as positivas, o momento com a mãe e o pirulito que ganhava quando se comportava bem.

Quando começou a dirigir para ir à faculdade, por volta dos 20 anos, ela recebeu também a responsabilidade de se vacinar sozinha, o que sempre levou muito a sério. Ela ia morrendo de medo e rindo de si mesma vendo as crianças se vacinando sem tanto pavor, mas nunca deixou passar uma campanha.

"Nunca passou pela minha cabeça não me vacinar. Sempre fui muito cuidadosa com a minha saúde, com exames, médicos. Prevenir é sempre minha prioridade, e as vacinas são um dos aspectos mais importantes desse cuidado com a própria saúde e com o coletivo", afirma.

Sempre que vai ao posto, por ficar confusa com as anotações no cartão, ela se certifica de que nada está faltando e, se tiver, já aproveita e atualiza tudo. O cuidado com a saúde já rendeu até uma vacina desnecessária. Depois de uma consulta de rotina no ginecologista, ela e a mãe fizeram um checape, e Sabrina descobriu que seus anticorpos contra a hepatite B estavam em baixa. "Fui e tomei um reforço, mas logo depois descobrimos que esse era o exame da minha mãe e ela precisou ir tomar também", conta, rindo.

E a mentalidade da produtora não mudou com a chegada das vacinas da covid-19. "Estava naquele time dos ansiosos pela vacina, entrei em listas de xepa e fiquei radiante quando finalmente pude tomar as minhas doses", completa. 

 

Sabrina Vieira Tosi cresceu com a cultura da vacinação
Sabrina Vieira Tosi cresceu com a cultura da vacinação (foto: Arquivo Pessoal)

Sobrecarga materna 

A consequência de o adulto não se vacinar é responsabilidade dele — é importante levar em consideração a logística e a acessibilidade, mas, de modo geral, é algo que ele pode resolver sozinho. Agora, quando falamos da vacinação infantil, precisa-se de um responsável comprometido para que a criança seja imunizada.

Na maioria dos casos, no Brasil, essa responsabilidade recai sobre as mães, figuras pré-determinadas pela sociedade a realizarem atos de cuidados básicos. Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Locomotiva e pela Pfizer Brasil mostra que seis em cada 10 mães brasileiras já atrasaram a vacinação dos filhos.

Os motivos são variados. Entre eles, estão falta de informação e de conhecimento sobre o calendário vacinal, horários incompatíveis com o posto de saúde e falta de tempo devido a uma rotina de trabalho menos flexível. E, com menos de 20% das causas, aparecem a baixa percepção dos riscos da doença, a falta de profissionais da saúde e de documentação e a desconfiança na vacina.

Os números aumentam quando falamos das camadas mais vulneráveis, mulheres negras, de baixa renda, com filhos que estudam em escolas públicas. Em coletiva de imprensa, Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, explica que a pesquisa foi feita com duas mil mulheres de diversas regiões. As entrevistadas com melhor estrutura social alegam ter mais informação sobre o calendário de vacinas, enquanto, do outro lado, a falta de informação é mais abrupta.

Percebe-se, com esses dados, que a carência de suporte e de rede de apoio às mães influencia na queda vacinal. Ao contrário do que muitos pensam, a falta de confiança na vacina é um problema, mas não o principal. Também não se pode culpar as figuras maternas por essa queda, afinal, a presença do pai é imprescindível para que esse cenário mude.

Para a estudante Simone Xavier Santana, 29 anos, é difícil acompanhar todas as vacinas do filho, pois mora longe do posto de vacinação e nem sempre tem horários compatíveis com a rotina de trabalho. Ela conta que, quando trabalhava como diarista, não tinha como sair mais cedo. Conseguiria levar o filho apenas se faltasse ao trabalho, correndo, assim, o risco de não receber o salário.

Simone na formatura do seu filho, Miguel.
Simone na formatura do seu filho, Miguel. (foto: Arquivo pessoal )

Também relata ter feito confusão com o calendário vacinal, já que a responsabilidade em levar a criança ao posto recai sempre sobre ela. O marido, por ser pedreiro, também tem horários inacessíveis, mas a preocupação maior é sempre dela.

Uma solução na educação

Para Renata Rabelo, enfermeira ponto focal da imunização, que trabalha na Coordenação de Atenção Primária à Saúde (Coaps), as escolas têm papel fundamental nessa história. Boa parte das crianças passa a maior parte do tempo nas unidades educacionais, lugares que permitem uma abordagem correta e acessível da vacina. "Essas ações têm caráter preventivo, ou seja, as vacinas são aplicadas antes de qualquer surto epidêmico, assim, quando ele acontecer, as crianças estarão protegidas", detalha a enfermeira.

Outra estratégia inteligente é a parceria entre o Ministério da Educação e o Ministério da Saúde, com a verificação da caderneta de vacinas dos estudantes ao se matricularem na escola. Além de ações educativas, que aproveitam para verificar a caderneta vacinal de professores e profissionais de saúde.

Em pesquisa do Instituto Locomotiva, das mulheres entrevistadas no âmbito nacional, 77% dizem que não atrasaria a vacina do filho, caso fosse uma responsabilidade escolar. Mas é importante reforçar que esse quadro também pode mudar, caso o apoio e o incentivo à vacinação seja feito da forma correta, sem colocar essa responsabilidade em apenas um lado da moeda.

Quando a Covid-19 entrou em cena 

Cada uma em uma frente, cinco irmãs, Fran, Francismara, Flávia, Fernanda e Bárbara Lima, lutaram pela vida do pai quando a vacina da covid-19 ainda não estava disponível no Brasil, mas já era aplicada ao redor do mundo. Enquanto algumas, que eram da área de direito, tentavam encontrar uma vaga na UTI por meios burocráticos, outras mobilizaram amigos e família para que Edmilson Gonçalves Lima, aposentado, pudesse obter o melhor tratamento possível.

Bárbara Lima exibe o cartão de vacinação. Na foto menor, Edmilson no  aniversário de 74 anos com as cinco filhas
Bárbara Lima exibe o cartão de vacinação. Na foto menor, Edmilson no aniversário de 74 anos com as cinco filhas (foto: Arquivo pessoal )

No período pandêmico, toda a família morava no mesmo condomínio, convivia muito e tomava as medidas recomendadas para se proteger. Em dezembro de 2020, o marido de Fernanda pegou o vírus. Com isso, todos acabam infectados.

Edmilson entrava no grupo de risco em duas frentes — tinha 74 anos e possuía problemas cardíacos —, mas, com a esposa doente, insistiu em cuidar dela. “Ele era uma pessoa teimosa, quis cuidar da minha mãe a todo custo”, menciona Bárbara Lima, assistente administrativa e filha de Edmilson.

O exame realizado para confirmar a doença de Edmilson, no começo, apresentou resultados negativos. O aposentado escondia os sintomas e não acreditava ser algo sério. “Ele fez um exame na segunda, que deu negativo. Apenas na sexta, admitiu que não estava bem, como tinha se conformado com o resultado do teste, foi difícil convencê-lo em buscar outras respostas”, explica. No dia em que, finalmente, aceitou ir ao hospital, Edmilson estava com 80% do pulmão comprometido.

Foi internado e, no dia seguinte, precisou ser transferido para a UTI. Foram duas semanas de angústia para a família Lima, sem saber se o patriarca retornaria para casa, mas as complicações foram maiores, e após uma parada cardíaca, deixou as pessoas amadas. “A gente não tem como saber se o fato de ele estar vacinado evitaria a situação, mas tenho certeza de que as chances seriam bem maiores”, considera. “O sentimento de frustração e revolta veio à tona quando recebemos a informação da disponibilização das vacinas”, recorda-se.

O acontecimento, por outro lado, reforçou, para Bárbara e para a família, o papel imprescindível das vacinas. Ela, hoje, tem uma filha de 1 ano e 4 meses. Lynda não teve a oportunidade de conhecer o avô, mas graças a ele vai crescer aprendendo sobre a importância dos imunizantes.

Bárbara, como a maioria das mães da pesquisa conduzida pelo Instituto de Pesquisa Locomotiva e pela Pfizer Brasil, já teve dificuldades em vacinar a filha pela falta de logística em casa, mas mantém a caderneta da primogênita completa.

 02/05/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Revista. Iimportância da vacinação na vida. Na foto, Bárbara Lima.
02/05/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Revista. Iimportância da vacinação na vida. Na foto, Bárbara Lima. (foto: Ed Alves/CB/DA.Press)

Quando vacinar 

Quanto antes, melhor. O sistema imunológico é um grande leitor e coletor de informações; se houver o reconhecimento de algo diferente do costume, em porções inofensivas, ele vai saber identificá-lo em quantidades perigosas. Ou seja, quanto antes o corpo reconhecer a ameaça, mais efetiva será a proteção. Por isso que, ao nascer, as crianças tomam vacinas contra uma série de doenças — a memória é recente, o corpo precisa aprender a se proteger, e a vacina é uma parte dessa memória.

 

A preocupante queda vacinal na infância 

“Agora, de cinco anos para cá, as taxas de cobertura vacinal decaíram muito e, obviamente, pioraram com a covid-19", Renato Kfouri, presidente da Associação Brasileira de Pediatria

As memórias da infância, quando os pais mantinham o cartão de vacinação em dia, e as campanhas intensas promovidas pelos órgãos de saúde durante os anos de formação são alguns dos motivos que fazem com que pessoas de 30 a 40 anos se esforcem para tomar todas as vacinas disponíveis. Além do fato, claro, de elas terem tomado algumas das principais ainda na infância.

Para os mais velhos, as lembranças são um pouco mais negativas. Muitos chegaram a perder parentes e amigos para algumas das enfermidades posteriormente erradicadas, outros carregam no corpo as marcas dessas doenças. E isso também é um grande incentivo para manter a vacinação em dia — não somente a própria, mas a dos filhos e netos.

O presidente da Associação Brasileira de Pediatria, Renato Kfouri, corrobora a importância da memória daqueles que conviveram com essas doenças, que vivenciaram o medo do contágio e, hoje, se vacinam com frequência. “Agora, de cinco anos para cá, as taxas de cobertura vacinal decaíram muito e, obviamente, pioraram com a covid-19”, diz o médico.

O grande motivo dessa baixa também é o processo contrário: a falta de memória das pessoas com relação a essas doenças, de não saber como era conviver com elas. Dados da Secretaria de Saúde do Distrito Federal mostram um quadro da baixa vacinal infantil contra a poliomielite entre 2010 e 2023, na região, de mais de 20%, o que já pode resultar em cenários catastróficos. Em 2010, a cobertura chegou a 92% da população em idade para receber o imunizante. Este ano, o índice é de, em média, 70%.

Quadro vacinal da poliomielite entre 2010 e 2023.
Quadro vacinal da poliomielite entre 2010 e 2023. (foto: Secretaria de Saúde do DF )

Esse panorama pode acontecer com qualquer outra doença, pois as motivações da baixa procura pelos postos de vacinação são as mesmas. Renato Kfouri explica, ainda, que é preciso estar atento à homogeneidade e que se dentro de uma mesma unidade federativa existem variações muito altas de números.

Não adianta, por exemplo, toda a cidade administrativa de Planaltina vacinar, e o Plano Piloto não. A região não vacinada vai contaminar a região vacinada. Por isso, falar da imunização de grupo é tão importante. Existem pessoas com condições físicas e de saúde que não podem tomar a vacina, e a única forma de proteção é se a população ao seu redor estiver imunizada.

 

Calendário e caderneta 

O Programa de Imunização Nacional disponibiliza 48 imunizantes — imunobiológicos especiais, soros, imunoglobulinas e as vacinas — distribuídos entre adultos, crianças, gestantes e idosos. Cada calendário possui suas especificidades, mas, de acordo com o Ministério da Saúde, 20 delas são ofertadas para todos os grupos. São elas:

1. BCG
2. Hepatite B
3. Penta
4. Pólio inativada
5. Pólio oral
6. Rotavírus
7. Pneumo 10
8. Meningo C
9. Febre amarela
10. Tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola)
11. Tetra viral (sarampo, caxumba e rubéola e varicela)
12. DTP
13. Hepatite A
14. Varicela
15. Difteria e tétano adulto (dT)
16. Meningocócica ACWY
17. HPV quadrivalente
18. DTPA
19. Influenza (está ofertada durante Campanha anual)
20. Pneumocócica 23-valente (Pneumo 23)

A caderneta de vacina comprova e mantém o controle de imunização. A falta do documento não impede, porém, a vacinação. Vale lembrar dos imunizantes para viajar, que têm suas especificidades, e manter a caderneta física por perto é uma boa opção nesse caso.

 

 

O poder da imunização nas crianças 

 

Em novembro de 1973, no Ceará, os pais de um bebê recém-nascido o levaram ao médico, devido a noites inces - santes de muito choro, febre e desconforto. Na época, poliomielite, rubéola e sarampo eram comuns e confundidas, entre elas, no momento do diagnóstico.

O cearense Ricardo Gadelha, 49 anos, hoje servidor público da Coordenação de Apoio à Imunização do Ministério da Saúde, foi diagnosticado com poliomielite antes dos dois meses de idade. Os sintomas chegaram a ser confundidos com os de sarampo, antes da confirmação.

Na infância, Ricardo Gadelha,  que ficou com sequelas por causa da poliomelite, usava botas com ferros para conseguir andar
Na infância, Ricardo Gadelha, que ficou com sequelas por causa da poliomelite, usava botas com ferros para conseguir andar (foto: Arquivo pessoal)

Ele lembra que não foi fácil lidar com as complicações da doença, teve os dois membros inferiores comprometidos — a perna esquerda é um pouco mais fina e atrofiada. “Faço cirurgias até hoje em virtude da pólio, já perdi alguns movimentos e, atualmente, eu manco”, descreve o servidor.

Seus familiares nunca o trataram com distinção, por mais que sempre fosse visto como diferente pela maioria das pessoas. Já teve de se abster de várias brincadeiras que envolviam corrida ou muita movimentação e era sempre considerado o “café com leite”. “Apesar de a pólio ser comum na época, eu nunca estudei com outras pessoas que tivessem a doença na turma. Recebo olhares até hoje. Não me incomoda sempre, mas é difícil. Tive que trabalhar muito isso desde a infância”, relembra.

A vacina já era existente e recomendada, mas ainda não havia programas com a efetividade que conhecemos hoje. No mesmo ano do nascimento de Ricardo, desenvolveu-se um marco importante para a vacinação no Brasil: a criação do Programa Nacional de Imunização (PNI). Em 1974, o servidor tomou sua primeira dose contra a poliomielite, e desde então, mantém a caderneta completa.

 

 03/05/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Ricardo Gadelha importância da vacinação contra a Polio.
03/05/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Ricardo Gadelha importância da vacinação contra a Polio. (foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

 

Ambiente de risco 

Veja algumas doenças que têm caráter de alta transmissibilidade, podem levar à morte, causam sequelas severas e podem ser evitadas com a vacina:

•Poliomielite
•Sarampo
•Rubéola
•Difteria

 


  • Simone na formatura do seu filho, Miguel. Arquivo pessoal
  • Na infância, Ricardo Gadelha, que ficou com sequelas por causa da poliomelite, usava botas com ferros para conseguir andar Arquivo pessoal
  • Sabrina Vieira Tosi cresceu com a cultura da vacinação Arquivo Pessoal
  • Bárbara Lima exibe o cartão de vacinação. Na foto menor, Edmilson no aniversário de 74 anos com as cinco filhas Arquivo pessoal
  • Quadro vacinal da poliomielite entre 2010 e 2023. Secretaria de Saúde do DF
  • 03/05/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Ricardo Gadelha importância da vacinação contra a Polio. Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  • 03/05/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Ricardo Gadelha importância da vacinação contra a Polio. Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  • 03/05/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Ricardo Gadelha importância da vacinação contra a Polio. Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  • 03/05/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Zé Gotinha e a importância da vacinação contra a Polio. Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  • 02/05/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Revista. Iimportância da vacinação na vida. Na foto, Bárbara Lima. Ed Alves/CB/DA.Press
  • 02/05/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Revista. Iimportância da vacinação na vida. Na foto, Bárbara Lima. Ed Alves/CB/DA.Press

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

 

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