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Répteis em casa: entenda quais são os passos necessários para ter um

A era das redes sociais trouxe à tona uma tendência de mostrar a criação de répteis como um estilo de vida atraente. Mas é importante ponderar se ter esses animais em casa é realmente benéfico para eles e para o meio ambiente

Ubaldo é uma das cobras criadas pela família de Fernando Evaristo  -  (crédito: Arquivo pessoal)
Ubaldo é uma das cobras criadas pela família de Fernando Evaristo - (crédito: Arquivo pessoal)
Iza Carvalho*
postado em 04/09/2023 09:53 / atualizado em 04/09/2023 10:12

Os répteis, uma linhagem antiga que remonta dos dinossauros, ostentam adaptações notáveis que lhes conferem sucesso em uma variedade de habitats. A característica mais marcante é a pele escamosa que reveste os corpos, fornecendo proteção contra perda de água e agressões externas. A maioria dos répteis é exotérmica, dependendo do ambiente, para regular a temperatura corporal, uma estratégia que pode resultar em comportamentos como a basking — exposição ao sol para aquecimento.

O gerente de Gestão e Fauna do Brasília Ambiental (Ibram-DF), Rodrigo Lima Santos, informa que há uma legislação vigente que regulamenta a posse e a criação de répteis domésticos no Brasil. "A Portaria nº 2.489, de 9 de julho de 2019, traz, em seu anexo, a lista de espécies isentas de controle para fins de operacionalização do Ibama, sendo a norma aplicada no Distrito Federal."

Rodrigo ressalta a existência de alguns riscos ambientais associados à soltura de répteis domésticos na natureza. "Répteis exóticos podem causar mudanças nos ecossistemas, afetando ciclos de nutrientes, vegetação e a estrutura da cadeia alimentar, podendo levar à hibridização com espécies nativas, resultando em descendentes prejudiciais ao ambiente. Em ecossistemas aquáticos, isso pode desequilibrar a qualidade da água e da fauna. No geral, controlar populações estabelecidas de répteis exóticos é difícil e de alto custo."

De acordo com o especialista, a importação de répteis exóticos está proibida no Brasil desde 1998, devido aos riscos de acidentes, intoxicação, abandono e introdução de espécies ao ambiente. Além disso, o deferimento de solicitações de criadouros comerciais para criação desses animais está suspenso desde 2002. "Répteis são importantes nos ecossistemas, mas criá-los como animais de estimação requer responsabilidade e consideração ao impacto ambiental. Pesquise as espécies e suas necessidades antes de adquirir. Equilíbrio entre admiração e responsabilidade ambiental é essencial", recomenda.

Desafios e cuidados

Thiago Luczinski, professor de medicina veterinária no Ceub, é especializado em animais silvestres e salienta a importância de se atentar à origem legalizada da espécie para evitar problemas com autoridades fiscalizadoras. "Os répteis abrangem uma classe diversificada, desde crocodilianos e quelônios, como jabutis e tartarugas, até serpentes e lagartos. Os cuidados essenciais variam de acordo com o tipo de réptil. Por exemplo, cuidar de um jabuti requer abordagens distintas daquelas empregadas com serpentes. O conhecimento da espécie é fundamental para um planejamento adequado de criação."

No que tange à dieta dos répteis de estimação, Luczinski esclarece: "Isso depende da espécie. Um jabuti não tem a mesma dieta que um lagarto, que, por sua vez, é diferente da de uma serpente. Mesmo entre os lagartos, várias espécies possuem dietas únicas. Enquanto um jabuti consome vegetais e até carne, uma serpente carnívora alimenta-se de ratos, aves e lagartos. A dieta ideal varia conforme a espécie sob seus cuidados".

O professor ressalta alguns sinais de alerta que podem indicar que um réptil está doente e requer atenção veterinária. "Mudanças de comportamento e no estado geral do animal são indícios de doença, mas isso depende do tipo de réptil. Por exemplo, uma cobra que fica sem comer por dez dias pode estar bem, já que algumas espécies têm intervalos prolongados entre as refeições. Contudo, tal comportamento seria preocupante em um jabuti. Alterações no comportamento e na aparência geral podem sinalizar a necessidade de assistência veterinária."

Um mundo de escolhas

A crescente popularidade dos répteis domésticos trouxe uma variedade de espécies ao alcance dos entusiastas desses animais. De lagartos de língua azul a serpentes de milho, a escolha requer consideração cuidadosa das necessidades individuais e do comprometimento necessário para o cuidado responsável.

Fernando Evaristo, 51 anos, sempre amou animais de estimação e tinha fascínio por répteis. Ele decidiu ter uma serpente após pesquisar sobre cuidados e recursos em Brasília, além de adquirir a devida autorização. "Pareciam animais pré-históricos, esquecidos pelo tempo. Após algumas leituras e pesquisas, verifiquei que as serpentes eram fáceis de manter, não precisava ser nenhum expert em répteis", afirma.

Guilherme filho de Fernando segurando a Capitu, uma salamanta do cerrado, da espécie Epicrates Crassus
Guilherme, filho de Fernando Evaristo, segurando a Capitu, uma salamanta do cerrado, da espécie Epicrates Crassus (foto: Arquivo pessoal)

Antes de adquirir a serpente, Fernando pesquisou se havia veterinários que tratavam desse tipo de animal em Brasília e lojas especializadas em produtos. "Busquei criatórios legalizados, pedi informações aos profissionais da área de veterinária e quais os criatórios mais qualificados para isso. Pesquisei também biotérios disponíveis (para aquisição do alimento das serpentes, no caso o rato) e, só depois de todas as informações, adquiri a serpente."

Ele destaca que a temperatura e a umidade são cruciais para esses animais, além de um terrário adequado em tamanho e estrutura. "O terrário deve ter tocas quentes e frias, vasilha de água e substrato. A alimentação deve ser conforme o tamanho da serpente."

A professora Bárbara de Velasco, 42 anos, conta que seus jabutis, Calixto e Jabuticaba, têm liberdade para acordar e circular pela casa. Ela os leva ao veterinário duas vezes por ano e se adapta à rotina deles e garante que são animais sociáveis e interativos. "Calixto e Jabuticaba acordam de manhã, gostam de tomar banho e pedir carinho. Reconhecem a voz do veterinário e expressam emoções pelo olhar e pelos gestos."

  • Bárbara e seus jabutis Calixto e Jabuticaba Arquivo pessoal

Convivendo com os jabutis há quase sete anos, a tutora notou suas personalidades distintas. Calixto é ativo, enquanto Jabuticaba é mais tranquilo. Ambos têm boa memória e hábitos fixos. "Cuidar de um jabuti é uma responsabilidade, e tenho alegria na jornada. Busco conhecimento especializado e destaco a importância do respeito, do carinho e da paciência ao lidar com eles, pois podem se tornar companheiros para toda a vida".

 

Especialização

O médico veterinário de animais silvestres Matheus Rabello faz uma alerta para os tutores: “Doenças como pneumonia ou problemas metabólicos devido ao aquecimento ou à dieta inadequada estão relacionadas a erros no ambiente. Manter répteis sob cuidados humanos, muitas vezes, envolve erros de manutenção, como não respeitar as exigências específicas de umidade e ambiente das diferentes espécies, por isso consultar um veterinário especializado é fundamental."

O médico veterinário especializado em animais silvestres Matheus Rabello segurando uma iguana
O médico veterinário especializado em animais silvestres Matheus Rabello segurando uma iguana (foto: Fotos: Arquivo pessoal)

Cuidados legais

Para evitar que o interessado caia em golpes, está disponível no site do Brasília Ambiental (Ibram-DF) os links para checagem da autenticidade do certificado de origem ou da autorização de transporte, que devem ser fornecidos ao comprador pelo empreendimento comercial e asseguram a origem legal do animal (https://www.brasiliaambiental.df.gov.br/sistema-nacional-de-gestao-de-fauna-silvestre-sisfauna/)

 

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte


 

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