Casa

Decoração que fala à alma: transformando espaços de lares em conexão

Em um mundo muitas vezes dominado pela estética fria e impessoal, a decoração afetiva surge como um antídoto, lembrando da importância de incorporar memórias e emoções nos espaços habitados

De acordo com Renata Vieira, o espaço de 200m², com varanda, é caracterizado por camadas e texturas que representam a autenticidade. Pedra natural, teto vinílico, portas muxarabis em madeira e abundante vegetação marcam o ambiente. -  (crédito: Edgar Cesar)
De acordo com Renata Vieira, o espaço de 200m², com varanda, é caracterizado por camadas e texturas que representam a autenticidade. Pedra natural, teto vinílico, portas muxarabis em madeira e abundante vegetação marcam o ambiente. - (crédito: Edgar Cesar)
postado em 01/10/2023 08:00

Na busca por lares que proporcionem mais do que apenas abrigo, a arquitetura e a decoração afetivas emergem como elementos essenciais para criar espaços que não são apenas bonitos, mas também significativos. Essa é a tendência apresentada pelos ambientes Casa Intter, da designer de interiores Vivian Maia, e Casa Raízes, do Studio Arch+, na CasaCor Brasília 2023, que demonstra que um lar pode ser muito mais do que quatro paredes, pode ser um portal para o passado, um abraço acolhedor no presente e uma inspiração para o futuro.

Indo além do mero senso de estética, esse estilo se concentra em incorporar elementos que evocam memórias, sentimentos e histórias pessoais em um espaço, onde a magia da decoração afetiva realmente acontece. Móveis, cores, objetos de arte e até a disposição de elementos podem transmitir histórias e emoções. Itens herdados da família, lembranças de viagens ou arte criada por familiares queridos ganham destaque.

Afeto no projeto

Inspirada no tema deste ano da mostra, Corpo e Morada, a arquiteta Vivian Maia criou uma versão de um apartamento decorado. Para dar vida e personalidade ao ambiente de 189m², escolheu peças com referências em memórias afetivas e em tendências contemporâneas. O living foi "vestido" com linho persa e aposta na integração dos ambientes para criar conexão.

De acordo com Vivian, conhecer bem a família que vai habitar o novo lar é essencial — visitar sua morada atual, fazer um briefing bem detalhado e saber quais as expectativas em relação ao novo projeto. Todas essas informações se tornam o processo criativo para basear a funcionalidade, a estética e a expectativa dos clientes, gerando, assim, identidade entre os moradores e o novo lar.

"O ponto de partida foi o tema da mostra, cuidar da nossa casa, como cuidamos do nosso corpo. Dessa forma, a ideia é criar um ambiente integrado para gerar conexão entre pessoas. No projeto, usamos tecido na parede da sala e no teto, além de painéis de espelho frisado e couro sintético. O uso de tons terrosos foi proposital para trazer calor e aconchego, causando a sensação de morada. O propósito de criar um ambiente decorado, baseado em uma planta inteligente e com conceito de casa suspensa, foi servir de inspiração para os visitantes e suas famílias", detalha.

Vivian enfatiza que seu espaço Casa Intter é rico em texturas, cores e traços. A maior parte dos objetos e acabamentos foram produzidos por artistas locais
O espaço Casa Intter é rico em texturas, cores e traços. A maior parte dos objetos e acabamentos foram produzidos por artistas locais (foto: Edgar Cesar)

Conectando-se com a natureza

A natureza desempenha um papel crucial na decoração afetiva, proporcionando harmonia e serenidade ao integrar elementos naturais, como a luz solar, as vistas para o exterior e os materiais orgânicos. Renata Vieira compartilha que a arquitetura possui um potencial de cura e acolhimento, indo além da funcionalidade e dos acabamentos corretos. Para ela, incorporar, de forma sutil, a história, as lembranças e a essência pessoal nos espaços, ressaltando a natureza, desempenha um papel fundamental na conexão consigo mesmo e com o mundo.

"Uma arquitetura fluida, leve e despretensiosa frequentemente convida ao relaxamento e à interação social, permitindo o resgate e a criação de memórias afetivas. Adornos que remetem à história pessoal, como porta-retratos, livros e objetos poéticos, bem como frases motivadoras, acrescentam personalidade e conectam as pessoas ao espaço. A presença da natureza, com suas cores e texturas, juntamente com materiais naturais, como madeira, pedra, cerâmica, palha, barro e fibras, proporciona aconchego e influencia positivamente o humor."

O projeto do Studio Arch , liderado pela arquiteta Renata Vieira em colaboração com as designers Laísa Figueiredo e Juliana Velloso, inspira-se nas reflexões do manifesto da CasaCor Brasília 2023 sobre as transformações e os processos ocorridos em nossos corpos e lares ao longo da história. Estabelecendo um paralelo entre esses conceitos e considerando o corpo e a casa como nossos refúgios, a conexão com a natureza é fundamental para o bem-estar.

Cobogós

Os cobogós, elementos arquitetônicos tanto decorativos quanto funcionais, são frequentemente empregados em construções brasileiras. Compostos por blocos vazados, geralmente confeccionados em cerâmica, concreto ou cimento, possibilitam a passagem de luz e de ventilação, ao mesmo tempo em que conferem privacidade e proteção solar.

O termo "cobogó" tem suas raízes na junção das iniciais dos sobrenomes de três engenheiros brasileiros: Amadeu Coimbra, Ernest Boeckmann e Antônio de Góis, os quais foram os pioneiros em sua criação, na década de 1920. Desde então, os cobogós tornaram-se um ícone da arquitetura brasileira, especialmente na região Nordeste do país.

Aqueles que cresceram em residências ou ambientes que incorporaram cobogós entendem o poder de evocar memórias de infância e sentimentos de nostalgia. Eles podem estar intimamente ligados a momentos especiais ou à sensação de "lar", tornando-se um componente afetivo crucial na decoração.

Os cobogós apresentam uma ampla variedade de designs e padrões, que vão desde formas geométricas simples até representações artísticas. Além de seu apelo estético, eles desempenham um papel fundamental na arquitetura tropical ao permitirem ventilação e iluminação naturais, contribuindo para o conforto térmico nas edificações. Além disso, são frequentemente utilizados em áreas urbanas como elementos de fachada, conferindo um visual único a edifícios e espaços públicos.

Espaço Morada Beija-Flor da HC Arquitetura fazendo uso dos cobogós. Estes elementos  estabelecem uma conexão sólida com a cultura brasileira, particularmente na região nordeste, onde tiveram sua origem.
Espaço Morada Beija-Flor, da HC Arquitetura, fazendo uso dos cobogós. Esses elementos estabelecem uma conexão sólida com a cultura brasileira (foto: Edgar Cesar)

 

Ambientes premiados

Em sua 6ª edição, o Prêmio do Correio Brazilense, em parceria com a CasaCor Brasília, busca reconhecer os melhores projetos de decoração assinados por arquitetos, designers de interiores e paisagistas que participam da mostra. Além de destacar a criatividade, a premiação tem como objetivo prestigiar os talentos e incentivar os principais destaques e inovações do segmento. Serão quatro categorias de ambientes com votação aberta do público: Sonho de Quarto, Sonho de Sala, Sonho de Cozinha e Sonho de Banheiro. Este ano, o Prêmio conta com o patrocínio da Quadra Interior Design e o apoio do Grupo Lig. Visite a mostra e vote nos seus ambientes favoritos até 22 de outubro. Para conhecer os projetos, acesse:
correiobraziliense.com.br/casacor2023

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

 

  • Espaço Morada Beija-Flor, da HC Arquitetura, fazendo uso dos cobogós. Esses elementos  estabelecem uma conexão sólida com a cultura brasileira
    Espaço Morada Beija-Flor, da HC Arquitetura, fazendo uso dos cobogós. Esses elementos estabelecem uma conexão sólida com a cultura brasileira Foto: Edgar Cesar
  • O ambiente Visão Sagrada, de Jota Pacini Design & Arquitetura, utilizando os cobogós. Esses componentes representam um aspecto importante da história e da arquitetura do Brasil, evocando um profundo senso de identidade e pertencimento, o que pode ter um impacto emocional significativo para muitos
    O ambiente Visão Sagrada, de Jota Pacini Design & Arquitetura, utilizando os cobogós. Esses componentes representam um aspecto importante da história e da arquitetura do Brasil, evocando um profundo senso de identidade e pertencimento, o que pode ter um impacto emocional significativo para muitos Foto: Edgar Cesar
  • O espaço Casa Intter é rico em texturas, cores e traços. A maior parte dos objetos e acabamentos foram produzidos por artistas locais
    O espaço Casa Intter é rico em texturas, cores e traços. A maior parte dos objetos e acabamentos foram produzidos por artistas locais Foto: Edgar Cesar
  • Cozinha decorada com itens de cores neutras, armários simples e com prateleiras que garantem uma organização eficiente. Materiais naturais, como a pedra da bancada e a cerâmica revestindo a parede criam um ambiente simples e funcional
    Cozinha decorada com itens de cores neutras, armários simples e com prateleiras que garantem uma organização eficiente. Materiais naturais, como a pedra da bancada e a cerâmica revestindo a parede criam um ambiente simples e funcional Foto: Edgar Cesar
  • Tendências como jardins internos, paredes verdes e amplas janelas trazem a paisagem para o interior reforçam essa conexão do ambiente Casa Raízes do Studio Arch
    Tendências como jardins internos, paredes verdes e amplas janelas trazem a paisagem para o interior reforçam essa conexão do ambiente Casa Raízes do Studio Arch Foto: Edgar Cesar
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação