Assim como os humanos, os animais de estimação também precisam de exercícios físicos para se manterem saudáveis; no entanto, muitas vezes não recebem o estímulo necessário. O costume de levar para passear uma vez ao dia pode não ser o suficiente para algumas raças ou cães mais enérgicos. A falta de atividade somada aos constantes petiscos durante o dia podem gerar complicações, como a obesidade canina, que, além de diminuir a expectativa de vida, pode aumentar o risco de cirurgias, diabetes, problemas respiratórios e nas articulações.
Nos Estados Unidos, um levantamento da Association for Pet Obesity Prevention revelou que 63% dos cães e 67% dos gatos domésticos estão acima do peso. No Brasil, esse cenário também é alarmante. Pesquisa realizada na cidade de São Paulo com 50 cães obesos, de faixas etárias e raças variadas, verificou que 22% dos animais não realizavam nenhuma atividade física.
"Em quase todas as minhas consultas, identifico problemas de obesidade em cães. É realmente o mal do século para os pets. Um cão gordinho não tem que ser visto como fofo. Os tutores precisam entender que é um problema evitável e muito simples de tratar". garante o médico veterinário Thiago Borba.
Sempre em movimento
Para atingir o gasto calórico ideal, é preciso garantir um exercício físico efetivo. Conforme o veterinário, os cachorros precisam fazer, no mínimo, dois passeios vigorosos diariamente. É recomendado que cães de pequeno a médio portes caminhem em torno de dois quilômetros por dia, já para os de grande porte ou com muita energia, a distância varia entre quatro e cinco quilômetros. Além disso, cada raça possui uma recomendação específica sobre a quantidade de gasto energético ideal. Por isso, é necessário levar em conta o nível de atividade da raça na hora de escolher um animal.
"O tutor pode utilizar também recursos como fazer o passeio de bicicleta ou ir para um local e fazer brincadeiras, como a de jogar e buscar objetos. A famosa brincadeira de jogar a bolinha é um ótimo estímulo, mas tem que ser feita por um tempo longo, não só para estimular o cão, mas também para favorecer a queima de calorias", ressalta Borba.
O veterinário também pontua que o tutor precisa ter dedicação total ao seu animal no momento da atividade para garantir que o exercício realmente faça efeito. É preciso atenção especial durante os passeios e seguir algumas recomendações, como garantir que o cão atinja uma velocidade suficiente para trotar, escolher horários com clima mais ameno, tomar cuidado com superfícies lisas, fazer pausas para hidratação e observar os sinais de desgaste do animal.
"Os tutores têm que ficar atentos ao escore corporal do cachorro, olhar se ele está gordinho ou magrinho. Um cão saudável e em forma possui uma silhueta, uma cinturinha, que permite identificar a área da costela e os ossos facilmente. São sinais de alerta se o animal estiver mais preguiçoso, não aceitar as brincadeiras do dia a dia e perder essa silhueta", explica o veterinário.
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Um esporte feito para cães
Para animais que possuem muita energia e precisam se exercitar com frequência, a prática do agility pode ser uma boa opção. Criado em meados de 1970 como uma forma de aumentar o companheirismo, o agility é uma atividade educativa e esportiva que beneficia a relação entre o cão e seu dono. O esporte pode ser praticado de forma recreativa ou com foco para competições e funciona com um circuito de obstáculos que deve ser feito pelo animal no menor tempo possível e com o menor número de faltas. Entre os objetos usados estão rampas, passarelas, túneis, pneus, mesas e muros.
"O agility, além de aumentar a conexão entre o cachorro e o dono, traz diversos benefícios para o animal. O cão se torna mais sociável, melhora o comportamento, tem um estímulo mental e também ganha mais condicionamento físico. Qualquer cachorro pode praticar o esporte, independentemente da idade e do tamanho e não precisa ter sido adestrado", explica Thais Rodrigues, adestradora e professora da modalidade no Centro de Treinamento Fantástico Mundo Cão.
Nathalia Cangussu, 35 anos, é servidora pública e aluna das aulas de agility. Tutora do border collie Noah, 2 anos, ela conta que decidiu ter um cachorro em 2021 e, desde o início, sabia que essa raça exigia muitas atividades físicas. Por isso, após pesquisar muito começou a praticar a modalidade, que hoje já é uma das suas atividades preferidas.
"É muito divertido e acaba sendo um exercício para mim também, porque tenho que acompanhá-lo no circuito. Acho que para ele é excelente, dá pra ver o tanto que ele gosta. A nossa conexão e o comportamento dele também melhoraram com o agility. Recomendo muito o esporte", comenta Nathalia.
A dupla começou os treinamentos em 2022 de forma recreativa, mas, em junho deste ano, decidiram participar do 23º Campeonato Brasileiro de Agility, que ocorreu em São Paulo. Na competição, Noah conquistou o quarto lugar e terminou o percurso sem cometer nenhuma falta. "Para mim, foi um ótimo resultado, agora pretendo continuar nesse meio competitivo com ele porque foi realmente muito legal", diz.
Outra tutora que é apaixonada pela modalidade é a engenheira Ana Beatriz Souza Valentin, 30 anos, dona do spitz alemão Lilo, 3 anos. Em 2020, ela decidiu ir morar com o namorado, Luís Felipe Pacheco, dono da dachshund (raça também conhecida como "salsicha") Luna, 4, e começaram problemas de convivência entre os pets. Por isso, em 2021, o casal decidiu começar a fazer aulas de adestramento e descobriram que o agility era uma boa opção para gastar a energia dos cachorros.
"Fomos praticar com o intuito de fazer uma atividade física com eles, mas descobrimos que tem muitos outros benefícios como a questão da conexão e da comunicação. Tem sido uma experiência super positiva, e o comportamento deles melhorou bastante" relata Ana Beatriz.
Lilo e Luna também participaram de sua primeira competição em julho, organizada no espaço do Fantástico Mundo Cão. Na disputa, o spitz alemão conseguiu conquistar o primeiro lugar na categoria fraldinha (iniciante) e ganhou uma cesta de itens, brinquedos, comidas e petiscos como prêmio. "É engraçado porque claro que ele não tem consciência que ganhou uma competição, mas, pra gente, parecia que ele estava muito feliz por ter vencido", brinca.
Para os tutores que tenham interesse em praticar o esporte, a professora Thais Rodrigues orienta que existe muito material sobre como fazer a modalidade na internet e que é interessante começar ensinando comandos básicos e fáceis ao cachorro, como distinguir direita e esquerda e pedir que ele identifique para onde vai. Além disso, é possível encontrar obstáculos de agility em praças e campos abertos públicos. "É possível fazer a modalidade sozinho, mas sempre recomendo que procure a orientação de um profissional. Apesar de ter muita gente fazendo de maneira recreativa, ainda é um esporte e, por isso, oferece riscos", orienta.