Comportamento

Pai faz homenagem para filha e lança livro com crônicas emocionantes

Em um mundo em que tudo passa tão rápido, um pai apaixonado, no Dia dos Pais, homenageou a filha com um acervo de crônicas reais. Zé Hevaldo acredita que, no futuro, essa obra será uma grande lembrança para a pequena

Pai e filha são íntimos, brincam e dialogam sobre tudo -  (crédito: Arquivo pessoal)
Pai e filha são íntimos, brincam e dialogam sobre tudo - (crédito: Arquivo pessoal)

Eternizar. Guardar na gaveta do tempo um momento que passou. Mais que isso, celebrar o incomensurável limite do amor por meio das palavras, que, descritas da melhor maneira, exemplificam como é sentir em um mundo tão fugaz. Quando se ama, essa sensação fica ainda mais viva. Quando se é pai de menina, assistir à existência da filha é uma dádiva. 

Arte e amor, a união de dois elementos que, juntos, possibilitam a materialização do efêmero em algo que pode ser eterno. Ainda que passe, permanecerá para sempre em pinturas, quadros e poesias. Partindo desse princípio, Zé Hevaldo Mendes, 45 anos, decidiu escrever um livro sobre crônicas paternas. O título, Um pai para falar de amor, ilustra o quanto sente prazer e orgulho em tudo o que tem construído. 

A filha única, Marina Mendes, 9 anos, é o xodó. Tantas brincadeiras, carinhos e trocas. Os dois, além de tudo, são grandes amigos. No décimo Dia dos Pais, Zé concretizou o sonho de homenagear a pequena com crônicas baseadas em experiências reais. Mas, antes de todo esse alvoroço que é publicar uma obra para a pessoa mais especial de sua vida, é justo contar os passos que fizeram do publicitário um pai tão presente e apaixonado. 

"Sempre gostei de brincar, criar histórias para minha sobrinha, para os filhos de amigos e cresci com todo mundo dizendo que eu seria um bom pai. A paternidade, para mim, chegou somente aos 35 anos. Nessa idade, alguns homens já estão até no segundo filho. Mas é interessante perceber que nessa minha geração muitos homens já desempenham a paternidade de forma mais ativa, bem diferente do jeito que nossos pais nos criaram", acredita Zé.

Na época do pai, que era super presente, ele acredita que todos os esforços — ao menos a maioria deles — estavam voltados para a educação, com o objetivo de não permitir que nada faltasse em casa. Brincar, dar banho, trocar fraldas, perder noites de sono voluntariamente era uma atribuição da mãe, que também trabalhava em turno integral. Hoje, porém, há pais mais dedicados em entender e compreender o universo dos filhos, ainda que pareçam raros. 

  • Zé e a filha, Marina, são grandes amigos
    Zé e a filha, Marina, são grandes amigos Arquivo pessoal
  • Marina e o pai tem uma relação baseada em gentileza e confiança
    Marina e o pai tem uma relação baseada em gentileza e confiança Arquivo pessoal

A paternidade

Entre a vontade de ser pai e a paternidade propriamente dita, a vida de Zé Hevaldo mudou bastante. E com todos os desafios, a inevitável adaptação, que apareceu logo no início, quando se separou da esposa nos 11 meses de Marina. "A partir daí, passamos a ter uma guarda compartilhada, e minha filha passou a dividir a rotina comigo e a mãe. Foi um momento tenso, fiquei inseguro sobre como seria nossa relação. Para manter nossos laços de afeto firmes, para mim, não houve dúvida: a guarda com a mãe teria de ser igualitária e, felizmente, essa decisão foi consensual", destaca. 

Outro grande obstáculo, de acordo com ele, foi se ver sozinho em um universo desconhecido. Todo esse ecossistema feminino, nunca visitado antes, veio junto da paternidade. "Para que conseguisse aproveitar ao máximo meu tempo com ela, passei a pesquisar e pedir ajuda para a família e, principalmente, minha mãe e irmã sobre a combinação de roupinhas, como fazer penteados. Também comecei a entender mais sobre personagens favoritos, brincadeiras infantis, pensando na construção do afeto", acrescenta.

Investir dedicação, carinho e amor. O retorno é instantâneo. Mais do que isso, um testemunho de que Marina tem absorvido os ensinamentos e sentimentos do pai. Uma menina criativa, amorosa e empática. "Características que, geralmente, são difíceis em uma filha única", ressalta Zé. Mas, assim como toda criança que está crescendo, a pequena tem lá os seus momentos de irritação e impaciência, naturais dessa fase de desenvolvimento. E para solucionar esses impasses, um pouco de diálogo e escuta. 

"Sobre esses sinais de empatia que vejo nela, um exemplo claro está  em uma  das crônicas que estão no livro, intitulada Homens choram. Quando ela tinha 2 anos, fui ver a primeira apresentação dela na escola, era Natal. Marina estava super empolgada, muito linda, de gorrinho, se apresentando. Eu me emocionei muito da arquibancada e, sem querer, estraguei a apresentação. Isso porque quando ela me viu em prantos, abandonou a apresentação e foi me consolar", relembra. 

Ficaram ali, abraçados, como se o momento fosse apenas deles. Nessa relação, o publicitário crê que não ensina apenas a filha, mas, também, ela lhe faz entender um pouco do mundo que o cerca. "Aprendi muito, especialmente sobre escuta e  sensibilidade feminina", revela. O exercício da gentileza é algo que pratica frequentemente com Marina. Deixa bilhetes com mensagens de carinho, abre a porta do carro para a pequena, busca com flores na escola. Ações que a façam entender, no futuro, que menos que isso não deve ser aceito. 

Homenagem com amor

Durante uma década, o publicitário reuniu histórias e experiências vividas na companhia de Marina. Anotou em post-its, cadernos e no bloco de notas do celular. Situações, por vezes, prosaicas e emocionantes, como ensiná-la a andar de bicicleta, conversas divertidas no carro ou, até mesmo, na hora de colocá-la para dormir. Desse acervo, percebeu a beleza de tantas histórias acumuladas desde o nascimento da filha. 

Assim, resolveu compartilhar com o mundo um amor tão singular quanto o da paternidade. "Quis dividir, também, os aspectos e as peculiaridades das minhas vivências dentro da rotina da guarda compartilhada e como um pai solo em grande parte do tempo", afirma. De acordo com ele, Marina já leu algumas das tantas crônicas e conhece a maior parte delas, pois é ela que está ali. "É a minha inspiração. Ela ficou feliz com a homenagem e até chora quando lê algumas dessas histórias, mas ainda não leu o livro inteiro", completa. 

A escrita, para ele, é uma expressão ampliada da experiência, ilustrada no poder da palavra. Seja da forma mais bonita, seja da maneira mais crua. Um talento que sempre esteve presente em toda a jornada de Zé Hevaldo. Aprimorar esse dom, com o passar dos anos, foi primordial para a concretização do livro. Isso porque, no fundo, são as memórias da infância de Marina, eternizadas pela habilidade única do pai. Lembranças para o futuro, que ficarão eternamente. 

Escrever um livro é, segundo ele, como ver um filho nascer. Até agora, é grato pelo apoio e pelos abraços que tem recebido. Além disso, se diz feliz pela coragem em expor sentimentos íntimos e profundos, sobretudo no desafio em falar sobre estigmas e mitos voltados à sentimentalidade masculina. "A paternidade nos promove como homens, crescemos como seres humanos, e há conquistas a serem buscadas ainda mais, como um tempo maior de licença-paternidade, que em nosso país é de apenas cinco dias", finaliza.

Um pai para falar de amor : o Livro dos Sentimentos Paternos — Zé Hevaldo R. Mendes Jr.
Um pai para falar de amor : o Livro dos Sentimentos Paternos — Zé Hevaldo R. Mendes Jr. (foto: Arquivo pessoal)

Para ler 

Pai de menina: Para ler ao lado de sua filha e construir uma relação para a vida toda — Marcos Mion

Crônicas de pai — Leo Aversa

O Livro do Papai — Helio de La Peña

Abrace seu filho: Como a criação com afeto mudou a história de um pai — Thiago Queiroz

Um pai para falar de amor: o Livro dos Sentimentos Paternos — Zé Hevaldo R. Mendes Jr.

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postado em 11/08/2024 08:00
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