Neurônios em dia

Trump tem equilíbrio psíquico apropriado para o cargo que ele ocupa?

De acordo com a Coalisão Mundial de Saúde Mental, o fenômeno Trump e seus seguidores estão embasados em um narcisismo simbiótico e uma psicose compartilhada

Charge de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos -  (crédito: kleber sales)
Charge de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos - (crédito: kleber sales)

No ano de 2021 o presidente da Coalisão Mundial de Saúde Mental rejeitou a orientação da Associação Americana de Psiquiatria ao dar um diagnóstico psiquiátrico a uma pessoa pública, no caso, Donald Trump, sem examiná-lo pessoalmente. A Coalisão se valeu da Declaração de Genebra que defende que médicos podem se expressar quando frente a governos destrutivos — Declaração criada após a experiência do nazismo.

De acordo com a Coalisão, o fenômeno Trump e seus seguidores estão embasados em um narcisismo simbiótico e uma psicose compartilhada. Por narcisismo simbiótico devemos entender que um líder, faminto por adulação para compensar sua baixa autoestima, projeta uma onipotência grandiosa, enquanto seus seguidores, carentes pelo estresse social e econômico, buscam ansiosamente por uma figura parental.

Quando esses indivíduos assumem posições de poder, eles elicitam a mesma patologia numa parte da população com encaixe perfeito, como uma chave feita para aquela fechadura. Quanto à psicose compartilhada, eles a chamam também de folie à million. Folie à deux (loucura a dois) é um fenômeno descrito na psiquiatria desde o século 17 e refere-se a sintomas delirantes compartilhados por duas pessoas geralmente da mesma família ou próximas.

A folie à deux também é chamada de transtorno psicótico induzido, e folie à million, socorro! Quando um indivíduo muito sintomático é colocado em posição de poder e influência, seus sintomas podem se propagar à população por meio de ligações emocionais, amplificando patologias pré-existentes e afetando até indivíduos previamente saudáveis. E o fator delirante provavelmente é mais forte do que um cálculo estratégico, pois ele se dissemina mais facilmente.

É importante salientar que os indivíduos com transtornos mentais como um grupo não são mais perigosos que a população geral, mas quando o transtorno mental vem acompanhado de componentes destrutivos, esses indivíduos são mais perigosos, sim. E de onde vem esse elemento destrutivo? Simplificando, se uma pessoa não recebe amor, ela busca respeito. Se ela não tem o respeito, ela realiza ameaças.

Uma pergunta comum que é feita desde o início dessa discussão é se Trump tem algum transtorno mental ou é apenas mau, ou os dois. Para quem quiser se aprofundar nessa discussão, vale a leitura do livro The dangerous case of Donald Trump (O perigoso caso de Donald Trump, em tradução livre), um best seller do New York Times publicado em 2017.

*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília

Ricardo Afonso Teixeira*
RA
postado em 24/01/2025 18:34 / atualizado em 24/01/2025 18:37
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