
Quando Patrícia Paim começou a cursar a faculdade de gastronomia para "ocupar a mente" em um momento difícil, nunca imaginou que, anos depois, trocaria um emprego estável no serviço público para se dedicar integralmente ao universo das panelas. Filha de pais mineiros que amam cozinhar, ela cresceu em um ambiente no qual a comida tem um papel importante. "Somos quatro irmãos e sempre nos reunimos em torno da mesa, inclusive, os agregados, já que a casa dos nossos pais era também o ponto de encontro dos nossos amigos."
Aos 9 anos, começou a cozinhar. Como os pais viajavam muito a trabalho, preparava pães, bolos, tortas, rocambole e outras delícias para recebê-los quando voltavam para casa. Em um tempo em que não havia a facilidade de pegar receitas na internet, Patrícia recortava as que vinham nas embalagens de alguns produtos, como leite, achocolatado, creme de leite, e copiava em um caderninho, que guardava cuidadosamente.
A menina cresceu, tornou-se a "cozinheira" oficial da galera, mas seguiu um caminho profissional longe das caçarolas. Tornou-se bancária e, paralelamente, fez faculdade de direito. Passou em um concurso público e foi trabalhar na área de saúde, como advogada. Tudo ia bem até que teve uma pneumotórax — condição em que entra ar na cavidade pleural, o que pode causar o colapso parcial ou total do pulmão — causado pela endometriose severa que sofria. "Um dos meus pulmões parou de funcionar e tive que fazer uma cirurgia de urgência."
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Os anos que se seguiram foram desafiadores. Patrícia descobriu que, por conta da endometriose, doença crônica que ocorre quando o tecido do endométrio migra para fora do útero, não podia ter filhos. "Treze órgãos meus foram atingidos pelo endométrio. O mais grave era quando chegava ao pulmão. Tive quatro episódios de pneumotórax." Foram quatro cirurgias, uma delas quando estava de férias em Punta Cana.
Como tinha um forte desejo de ser mãe e a endometriose dificulta a gravidez natural, Patrícia se submeteu a várias fertilizações in vitro (FIVs) e sofreu seis abortos espontâneos. Diante de tantos desafios, decidiu que não ia se entregar à depressão. "Sempre fui uma pessoas alegre, alto-astral, não deixaria que isso me abatesse. Para ocupar a mente, em 2013, decidi fazer uma nova graduação. Quando fui me matricular em design de interiores, no Ceub, descobri que estavam abrindo um novo curso: gastronomia. Na hora, pensei: é esse."
De volta às aulas
Patrícia conta que, de cara, apaixonou-se pelo curso e passou a viver a faculdade intensamente. "Na turma, tinha aluno de todos os perfis. Empregada doméstica, padeiro, pessoas que faziam por hobby, aqueles que se achavam masterchefs... Esses desistiam logo, quando descobriam que não havia glamour na cozinha", diverte-se. A servidora corria direto do trabalho para a aula. "Eu chegava de saltão, toda maquiada. Os colegas olhavam pra mim e pensavam: "Quem é essa perua?" No primeiro semestre, fazia os trabalhos sozinha, porque ninguém me queria nos grupos."
Mas ela não se deixava abater. Botava a mão na massa, lavava prato, panela e acabou se enturmando com os colegas. A empolgação era tanta que queria pôr tudo o que aprendia em prática. Assim, criou uma espécie de confraria com as mulheres do prédio onde morava. "Todas as quintas-feiras, subíamos para o salão de festa, eu preparava um prato e nós degustávamos com vinho."
Nisso, muitas dessas mulheres começaram a pedir à futura chef que preparasse pequenos jantares ou festas particulares. "Era coisa pequena, para quatro até 10 pessoas. A pessoa deixava a vasilha comigo e eu fazia tudo na minha cozinha", lembra. Até que, um dia, uma amiga de uma amiga pediu que ela fizesse um almoço para 40 pessoas para comemorar o aniversário do filho. "Nunca tinha feito algo tão grande. Mas topei o desafio."
A partir daí, não parou mais e, quando viu, tinha montado um bufê. As festas começaram a crescer, assim como a clientela. "Cheguei a cozinhar para 200 pessoas. Entrei nas festas infantis também, mas sempre com uma pegada saudável, sem frituras e com muito sabor. Peguei um quarto no meu apartamento e transformei numa outra cozinha, onde finalizava os pratos."
Desafio pandêmico
Tudo ia muito bem até que veio a pandemia e as festas acabaram. "Eu tinha cinco funcionários, fora os garçons que trabalhavam nos eventos que eu organizava, e eles dependiam desse trabalho. Precisava achar uma saída", recorda-se. E encontrou. Como todos estavam isolados, resolveu criar os Kits Festa em Casa para que as famílias e os amigos pudessem se confraternizar no lar e on-line. "Eu entregava os kits nas casas dos convidados e eles faziam a 'festa' por vídeochamada", detalha.
Os kits eram temáticos. Tinha o boteco, o happy hour, o árabe, o mexicano, o baiano e muitos outros. A ideia não só deu supercerto como aumentou o fluxo de encomendas de Patrícia, a ponto de ela decidir largar o serviço público para se dedicar integralmente à gastronomia. Com o fim da pandemia, percebeu que era hora de abrir um loja física. E assim o fez em janeiro de 2023, no Noroeste.
Com o fim do isolamento, porém, os kits festa já não faziam sentido. "As pessoas estavam ávidas por sair, confraternizar. Eu precisava, novamente, me reinventar." Foi assim que surgiu a ideia de fazer marmitas congeladas. A chef começou com poucas opções: baião de dois, carreteiro, sobrecoxa e tilápia com legumes, galinhada, feijoada, picadinho, arroz de pato no tucupi. "Usava aquelas embalagens de alumínio, tudo bem amador."
E foi um sucesso. Assim, Patrícia decidiu investir em embalagens personalizadas e maquinário para vedá-las. Também ampliou o cardápio, oferecendo pratos mais elaborados, como o bife bourguignon, camarão na moranga, salmão ao molho de laranja. Hoje, são 52 opções de marmitas individuais, com preços a partir de R$ 26.
Também oferece o serviço de marmitas personalizadas para quem segue dieta. "A comida é totalmente caseira, não usamos conservantes, preparamos tudo aqui, inclusive os molhos, e só utilizamos azeite e óleo de girassol ou algodão. Desenvolvemos uma técnica para que as marmitas sejam finalizadas em casa, bastando, para isso, esquentar por cinco minutos no micro-ondas."
Patrícia desenvolveu ainda uma linha de lanches, com mini-hambúrguer, minicachorro-quente, pastel assado, quiche, minipizza e outros itens, também congelados. "Esses foram desenvolvidos para serem aquecidos na air fryer." Patrícia ainda oferece uma linha de frios, sob encomenda, além de kit para festas de 10 a 50 pessoas, que inclui, além das comidinhas, bolos, docinhos e até decoração. "Também mantivemos o kit boteco e o kit happy hour."
Há menos de um mês, a loja Kit Chef Congelados mudou de endereço: trocou o Noroeste pelo Sudoeste. Patrícia segue com planos de expansão e com a certeza que fez a escolha certa quando resolveu se dedicar integralmente à panelas.
Arroz carreteiro pós-churrasco! Com os segredinhos da chef
Ingredientes
300g de arroz
300g de carne de churrasco
100g de bacon
Sobra do vinagrete (retire todo o líquido com o auxílio de uma peneira) — se não tiver sobra do vinagrete, use 1 tomate, ½ pimentão amarelo e ½ pimentão vermelho
1 cebola
Alho e pimenta a gosto
Cerveja ou chope
Modo de preparar
Sabe aquela carne de churrasco que sobrou? Corte em pequenos pedacinhos e reserve — frango, linguiça, carne vermelha, coração... tudo!
Corte a cebola em pequenos pedaços, descasque o alho, amasse e reserve.
Frite o bacon. Quando estiver bem fritinho, acrescente a cebola e o alho, frite mais até ficar bem dourado.
Acrescente a carne cortada e refogue bem.
Acrescente o arroz e refogue.
Acrescente uns 500ml de cerveja ou chope, e complete com água se necessário. Deixe cozinhar por uns 3 minutinhos.
Saboreie e veja se precisa de sal. Assim, corrija o sal e acrescente pimenta de sua preferência.
Deixe cozinhar até o arroz ficar bem cozido. Não deixe a água secar toda, para o carreteiro ficar bem molhadinho.
Quando finalizar, acrescente coentro e cebolinha-verde.
Pronto! Agora vamos saborear a receita de chef!
Serviço: @kitchefcongelados