
As chamas tomam a Apple TV+ com a minissérie Cortina de fumaça a partir da próxima sexta (27/6). A nova produção da plataforma se inspira em uma história real para contar uma narrativa original sobre fogo e trauma. Criado pelo novelista e showrunner Dennis Lehane e protagonizado por Taron Egerton, o seriado reedita a dupla que fez sucesso na série Black bird, multipremiado título da mesma Apple.
A nova série acompanha Dave (Egerton), um investigador de incêndios que está em busca de dois incendiários em série que estão aterrorizando uma pequena cidade. Sem resolução para os casos, ele precisa começar a lidar com Michelle (Jurnee Smollett), uma policial autodestrutiva que foi designada para encontrar o paradeiro dos criminosos.
A série, contudo, fala muito mais nas entrelinhas do que na narrativa principal. "É uma série de complexidade psicológica e sobre o caos. Fogo, para mim, representa o caos. Todos os personagens foram construídos para serem caóticos psicologicamente, não gosto de personagens simples", explica o criador Dennis Lehane, muito conhecido como autor do livro Sobre meninos e lobos. "Nós temos que abraçar a loucura e o caos, é sobre isso que a série é", complementa.
Portanto, a minissérie de nove episódios mergulha na psiquê de personagens interessantes e detalhados. "São pessoas boas que fazem coisas ruins ou pessoas ruins que fazem coisas boas, mas, sobretudo, bastante humanos", classifica Rafe Spall, ator responsável por viver o capitão de polícia Steven Burk, figura fictícia muito elogiada pelo ator. "Fazer personagens complexos é bom, difícil é fazer pessoas sem profundidade", comenta.
Na visão do showrunner, esses personagens se escreveram sozinhos. Ele tinha as ideais e traçava o caminho para encontrar dentro dos diálogos fatos que poderiam trazer de volta o passado dessas pessoas, baseadas em eventos reais, mas completamente inventadas para a trama funcionar. "Quem somos, como nos expressamos, as coisas que carregamos, como nos vemos e entendemos. Tudo isso vem da nossa infância, se olharmos com calma, vem de lá", acredita o autor.
Dessa forma, uma viagem psicológica fictícia traz uma mensagem extremamente real. "A série traz muito a ideia de que todos nós sempre falamos que queremos ser felizes, mas, ainda assim, sempre somos levados justamente para as situações que vão nos destruir", diz Smollett. A co-protagonista se disse afetada pessoalmente pela personagem que interpretou e levanta outra indagação da história: "Quão longe é longe demais? Esse é um bom questionamento de Cortina de fumaça".
"Não é uma história de heróis típicos. Isso faz da narrativa autêntica e honesta, ninguém é mocinho nem vilão", avalia Smollett, que acredita que isso traz mais honestidade ao que está sendo contado. "Ninguém é uma coisa só. É verdadeiro com a história escrever personagens que possuem defeitos", completa.
A moral distorcida em todos níveis de atuação da trama faz com que personagens, como o protagonista Dave, sejam uma linha tênue entre o atrativo e o malicioso, no bom português, um gaiato. "Acredito que eu sou bom nesses personagens 'gaiatos'", destaca o ator principal em resposta ao Correio. "Esses são os papéis que me seduzem. Ainda vou interpretar alguns desses nos próximos meses", antecipa.
O ator, que teve o primeiro estouro da carreira ao interpretar um agente secreto descontraído em Kingsman, viu-se indicado ao Emmy vivendo o criminoso James Keene em Black bird e entrou para lista de vencedores do Globo de Ouro com um versão bem real de Elton John em Rocketman, mostrando que tem uma grande capacidade de transmitir ambiguidade na tela. "Para alguém que começou a carreira fazendo personagens mais heroicos, há algo interessante em fazer um pouco de merda", brinca.
Suspense em evidência
Apesar de todo gênero estar um pouco subvertido na proposta de Cortina de fumaça, essa ainda é uma série de investigação policial com mistério e reviravoltas. Apesar de tratar de fogo e não de assassinatos e de ter personagens humanos e defeituosos, a dinâmica é de uma caça, algo como gato e rato. "Há uma tensão muito grande nessas dinâmicas de gato e rato, um sentimento de que algo grande é colocado à prova. Isso faz as grandes histórias serem grandes", destaca Taron Egerton.
A forma distinta como a narrativa é construída é o que diferencia essa produção das demais do gênero. "É uma série que precisávamos acertar grande, não dava apenas para ser um acertinho. Tudo começa já de forma elevada e empolgante e precisava se desenrolar para se tornar maior e maior", reflete Ntare Guma Mbaho Mwine, responsável por Freddy, o primeiro incendiário que o público conhece no seriado. "Nós somos como químicos tentando juntar vários elementos e esperamos que a poção que criamos gere um impacto", acrescenta.
"Eu realmente acho que o formato está reinventado, parece novo para mim nesse mundo em que tudo já foi feito de alguma maneira", enxerga Greg Kinnear, outro ator que volta a trabalhar com a equipe após o sucesso de Black bird e é o nome que dá vida ao papel de Harvey Englehart. A percepção do artista é de que a execução da série faz dela única, que a forma como a história foi escrita é elevada por esse bom trabalho para fazer tudo sair do papel. "Eu espero muito que as pessoas captem a essência da série. É muito bem escrita e executada", almeja.
Diversão e Arte
Diversão e Arte
Diversão e Arte