Saúde

Contracepção segura: escolha, eficácia e desmistificação de mitos

Os anticoncepcionais são essenciais para a autonomia feminina, e conhecer os métodos e a sua eficácia permite uma escolha segura, sempre com orientação médica

Os métodos contraceptivos são um tema fundamental para a saúde e autonomia feminina,
     -  (crédito: Reprodução/Freepik)
Os métodos contraceptivos são um tema fundamental para a saúde e autonomia feminina, - (crédito: Reprodução/Freepik)

Os métodos contraceptivos são um tema fundamental para a saúde e a autonomia feminina, permitindo que mulheres planejem suas vidas, carreiras e famílias com segurança e liberdade. Com uma vasta gama de opções disponíveis no Brasil, desde métodos hormonais de longa duração até soluções não hormonais, a escolha pode parecer complexa. No entanto, o conhecimento e a orientação profissional são as chaves para uma escolha informada e eficaz.

Os variados métodos, efeitos colaterais, taxas de eficácia e diversos mitos que circulam pela internet podem assustar quem está começando a entender sobre o assunto. Apesar de alguns exigirem atenção, os anticoncepcionais são, em sua maioria, bem simples de lidar e com poucos efeitos negativos.

Um mito divulgado, por exemplo, é que ao longo do tempo de uso, o contraceptivo perde eficácia, mas. Bruna Heinen, ginecologista e endocrinologista do Hospital Santa Lúcia, de Brasília, explica que, na verdade, com mais tempo de uso, o método se torna menos sensível ao organismo, tendo menos efeitos colaterais e taxas de falha.

A médica orienta sobre a importância de seguir o uso correto, sem esquecimentos, para uma melhor eficácia, e sempre manter o acompanhamento, anotando e relatando quaisquer possíveis efeitos colaterais, que são comuns nos primeiros meses de uso de anticoncepcionais hormonais.

A eficácia dos métodos contraceptivos, um fator que influencia muitas mulheres na hora da decisão, é medida pelo Índice de Pearl, que indica o número de gestações não planejadas por 100 mulheres em um ano usando determinado método. Esse índice leva em conta o "uso perfeito", sem esquecimentos ou erros, e o "uso típico", que considera falhas humanas.

Já os efeitos colaterais dependem de cada organismo. Por isso, é necessário uma consulta prévia para avaliar qual o melhor método a seguir e o acompanhamento para avaliação quanto à adaptação nos meses seguintes, e se existe necessidade de troca. A ginecologista também ressalta que é necessário entender que os contraceptivos não servem apenas para evitar a gravidez, eles podem regular a menstruação e os níveis de hormônio, diminuir cólicas e sangramentos, evitar a transmissão de DSTs (doenças sexualmente transmissíveis).

Principais métodos contraceptivos femininos: 

Métodos não hormonais:

  • Dispositivos intrauterinos (DIUs) não hormonais:

    • DIU de cobre: Libera íons de cobre no útero, criando um ambiente desfavorável para a fecundação. Pode durar até 10 anos.

    • DIU de cobre e prata: Similar ao DIU de cobre, com a adição de prata para supostamente reduzir o fluxo menstrual e as cólicas, podendo durar até 5 anos.

  • Métodos de uso no momento da relação sexual:

    • Preservativo feminino e masculino: Únicos métodos que, além de prevenir a gravidez, protegem contra doenças sexualmente transmissíveis (DSTs).

    • Diafragma: Barreira física que impede a entrada dos espermatozoides no útero, usado em conjunto com espermicida.

  • Métodos contraceptivos permanentes: Indicados para mulheres que não desejam mais ter filhos.

    • Esterilização feminina (laqueadura tubária): Cirurgia que bloqueia ou corta as tubas uterinas.

    • Esterilização masculina (vasectomia): Cirurgia que impede a passagem dos espermatozóides nos ductos deferentes.

Métodos Hormonais:

  • Métodos de longa duração:

  • DIU hormonal: libera progesterona no útero, espessando o muco cervical e afinando o revestimento uterino. Modelos como Mirena podem durar até 8 anos, e Kyleena, até 5 anos.

  • Implante subdérmico: bastão pequeno inserido sob a pele do braço, que libera progesterona continuamente. Oferece proteção por 3 anos.

  • Métodos hormonais combinados:

  • Pílulas combinadas: tomadas diariamente, inibem a ovulação e alteram o muco cervical.

  • Injeções mensais: aplicações hormonais que inibem a ovulação.

  • Adesivo hormonal: adesivo aplicado na pele que libera hormônios. Trocado semanalmente.

  • Anel vaginal: anel flexível inserido na vagina que libera hormônios. Usado por três semanas e retirado na quarta.

  • Métodos hormonais não combinados:

  • Pílulas de progesterona: tomadas diariamente, alteram o muco cervical e, em alguns casos, inibem a ovulação.

  • Injeção trimestral: tplicação hormonal que inibe a ovulação por três meses.

Efeitos colaterais comuns: 

Nos métodos hormonais: 

  • Sangramentos inesperados; 

  • Inchaço;

  • Sensibilidade nas mamas; 

  • Dor de cabeça; 

  • Alterações de humor, como irritabilidade ou depressão; 

  • Diminuição da libido; 

  • Ganho de peso; 

  • Náuseas e vômitos. 

Nos métodos não hormonais: 

  • Aumento de fluxo; 

  • Cólicas intensas. 

A maioria dos efeitos colaterais tende a reduzir ou desaparecer com o tempo de uso do método. Estratégias simples, como tomar a pílula à noite para minimizar náuseas, ou usar um top mais justo para aliviar a dor nas mamas, podem ajudar. 

Efeitos colaterais graves: 

  • O efeito colateral grave, mas incomum, associado aos métodos contraceptivos combinados (estrogênio e progesterona) é a trombose. Embora seja um medo comum, é raro. Para evitar, é importante reduzir outros fatores de risco, como tabagismo e sedentarismo, e suspender a medicação caso seja realizada alguma cirurgia de médio/grande porte. 

Benefícios não contraceptivos:

  • Os métodos contraceptivos podem trazer diversos benefícios adicionais. O DIU hormonal, por exemplo, é frequentemente usado para reduzir o fluxo menstrual em pacientes com sangramento aumentado e anemia, além de ajudar no controle das cólicas menstruais. Métodos hormonais combinados podem auxiliar na melhora da pele (acne) e na redução dos sintomas pré-menstruais. 

Como garantir a eficácia:

  • Para métodos de uso diário (pílulas), semanais (adesivo/anel vaginal) e mensais (injeções), a instrução principal é o uso "perfeito", ou seja, sem esquecimentos. O uso perfeito pode ser desafiado por fatores como náuseas, vômitos ou diarreia. Para métodos de longa duração, o acompanhamento médico seriado, geralmente anual, é fundamental para avaliar o posicionamento do DIU e a adaptação geral. O acompanhamento contínuo minimiza a chance de desistência ou uso incorreto.

Fatores para escolha:

  • Preferência da paciente;

  • Contraindicações para cada método;

  • Planejamento familiar;

  • Possíveis efeitos colaterais;

  • Custo financeiro.

Palavra do especialista: 

1. Qual o papel do ginecologista e/ou endocrinologista no processo de escolha do método contraceptivo e na avaliação da paciente?

O papel do ginecologista ou médico de família é conduzir uma decisão compartilhada, discutindo os potenciais efeitos colaterais, orientando sobre o uso eficaz, e ponderando os benefícios e riscos de cada método. É crucial manter um acompanhamento longitudinal da paciente, avaliando a adaptação e considerando trocas, se necessário. Uma consulta detalhada é fundamental para entender o histórico de saúde da paciente e, assim, decidir o método mais adequado. Em pacientes com condições endocrinológicas como Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), a escolha do método pode oferecer benefícios adicionais além da contracepção, como melhora da acne ou proteção do endométrio.

2. Como as mulheres devem proceder caso sintam efeitos colaterais após iniciar um método contraceptivo? E qual a importância da consulta de rotina?

É fundamental manter um acompanhamento seriado, anotando e relatando possíveis efeitos colaterais ao médico. É comum que os efeitos colaterais dos contraceptivos hormonais diminuam e desapareçam nos primeiros 2-3 meses de uso. A consulta de rotina é vital para aliviar possíveis efeitos colaterais, avaliar a adesão ao método e, no caso dos DIUs, realizar exames físicos e complementares, se necessário. A consulta permite que a paciente entenda o que é "normal" e o que não é, promovendo uma melhor adesão ao método escolhido.

3. Qual a mensagem mais importante que você gostariam de transmitir às mulheres sobre contracepção e saúde reprodutiva?

A mensagem mais importante é que não existe o melhor método contraceptivo. Existe aquele que melhor se encaixa na sua realidade, que tem menos efeitos colaterais para você, aquele ao qual você se adapta melhor e que promove a maior adesão. Por isso, é crucial entender seu próprio corpo, os possíveis efeitos, e confiar no método escolhido, sempre com o apoio e a orientação de um profissional de saúde.

A Dra. Bruna Heinen, é ginecologista e endocrinologista do Hospital Santa Lúcia, de Brasília. 

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

 


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postado em 20/07/2025 06:00 / atualizado em 20/07/2025 06:00
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