
Transmitida via transplacentária, de mãe para filho, durante a gravidez ou na hora do parto, a sífilis congênita é uma infecção sexualmente transmissível (IST), causada pela bactéria Treponema pallidum. Ocorre quando a bactéria, presente no sangue materno, ultrapassa e atravessa a barreira da placenta, infectando o feto em qualquer fase gestacional e estágio da doença.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), somente em 2022, os casos aumentaram em mais de 1 milhão, resultando em um total de 8 milhões no mundo inteiro. Se o quadro for detectado de forma tardia ou não houver tratamento adequado, tanto a mãe quanto o filho podem ter diversos problemas de saúde.
Os números, de fato, são alarmantes para uma doença que pode ser evitada. Assim como qualquer outra IST, é possível prevenir a sífilis com o uso correto de preservativos durante as relações sexuais, testagem na mãe e no parceiro, mesmo sem sinais aparentes, além de um pré-natal adequado. Quando há suspeita ou confirmação de sífilis congênita, o recém-nascido precisa ser acompanhado desde o nascimento.
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Segundo Tatianna Ribeiro, ginecologista e obstetra da Clínica Rehgio, esse quadro pode causar abortos espontâneos, natimortos, malformações, partos prematuros, e a mãe pode se infectar mais de uma vez. "Pode acontecer, principalmente, quando a infecção não é diagnosticada e tratada a tempo durante a gestação. Casos de reinfecção materna durante a gravidez não são raros, especialmente quando o parceiro sexual não foi tratado junto. Mesmo que a gestante tenha recebido o tratamento adequado anteriormente, ela pode se reinfectar e transmitir a doença ao bebê", completa.
O Ministério da Saúde recomenda que a gestante seja testada, no mínimo, durante o primeiro e o terceiro trimestre de gestação, além da testagem no parto ou em casos de aborto. A ginecologista complementa que, no caso de grávidas em vulnerabilidade social e em regiões em que a doença é incidente, pode ser necessário testar com maior frequência. Não somente a mãe, mas o parceiro também deve passar por testes e tratamento se houver um diagnóstico positivo.
Diagnóstico
O diagnóstico da sífilis em gestantes é feito por meio de exames laboratoriais e de imagem. No caso das crianças, o profissional avalia o histórico da mãe, além de realizar testes físicos e solicitar exames complementares.
Sintomas
Nem todo bebê infectado apresenta sinais logo após o nascimento. Em muitos casos, a doença começa a dar seus primeiros sinais após dois anos de vida. Quando sintomática, a sífilis congênita pode se manifestar de diferentes formas, dependendo do estágio da infecção:
Sífilis congênita precoce (0–3 meses):
— Pouca progressão no peso e altura.
— Lesões e bolhas na pele e mucosas.
— Aumento no tamanho dos linfonodos, fígado e baço.
— Inflamação nos ossos e cartilagens.
— Anemia e icterícia.
Sífilis congênita tardia (após dois anos):
— Feridas na boca, nariz e região íntima.
— Problemas ósseos, oculares e auditivos.
— Malformações dentárias.
— Retardo no desenvolvimento.
Tratamento
A principal forma de tratar a doença é por meio do medicamento chamado penicilina. Tanto para a mãe quanto para o filho, é indicado iniciar o tratamento o quanto antes, aumentando as chances de um melhor resultado. Quando o bebê já é positivo para a sífilis, o protocolo de tratamento é realizado ainda na maternidade. Se não tratada corretamente, pode desencadear problemas neurológicos e anomalias graves. O acompanhamento médico multidisciplinar é necessário para que a criança se desenvolva.
Saúde ocular
A sífilis congênita pode causar complicações oculares, muitas vezes de maneira silenciosa. De acordo com a oftalmopediatra da clínica Olhar Prime, Junia Valle, sinais como inflamações recorrentes nos olhos, opacidades na córnea, sensibilidade à luz, vermelhidão persistente e alterações na retina devem ser observados, pois podem causar perda visual progressiva ao longo do tempo.
Como avaliar?
“Todo bebê com suspeita ou risco de sífilis congênita deve passar por uma avaliação oftalmológica completa, com a dilatação da pupila, mesmo se o teste do olhinho estiver normal. O acompanhamento é periódico, geralmente de 3 a 6 meses no primeiro ano e depois de acordo com os achados clínicos. O objetivo é detectar alterações precoces na córnea, retina ou nervo óptico, já que algumas manifestações podem aparecer tardiamente, após 5 anos de idade”, explica Junia.
Palavra do especialista
Como diferenciar sífilis congênita de outras infecções congênitas nos primeiros exames?
Logo após o nascimento, os médicos fazem exames no bebê e comparam os resultados com os da mãe. A sífilis pode ser identificada por exames de sangue específicos e radiografias dos ossos, além da observação de sinais como manchas na pele, alterações no fígado ou nos ossos. Esses exames ajudam a distinguir a sífilis de outras infecções que também podem ser passadas da mãe para o bebê durante a gravidez.
Como é o processo de orientação dos pais ou responsáveis após o diagnóstico?
Ao receber o diagnóstico de sífilis congênita no bebê, a família é orientada com cuidado pela equipe médica. Os profissionais explicam como será o tratamento, a importância do acompanhamento e os exames que precisarão ser feitos. Além disso, é fundamental que a mãe e o parceiro sexual também sejam tratados para evitar futuras infecções e proteger novas gestações.
Quais sequelas podem surgir em crianças que nasceram com sífilis congênita? Mesmo após o tratamento, o bebê pode desenvolver outros problemas de saúde?
Se a sífilis congênita não for tratada logo após o nascimento, ela pode causar problemas de audição, visão, desenvolvimento, alterações nos dentes e nos ossos. Por isso, mesmo depois do tratamento, é essencial que a criança continue sendo acompanhada por pediatras e outros especialistas. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico e iniciado o tratamento, menores são os riscos de sequelas.
Dra Tabatha Gomes é infectologista pediátrica do Hospital Anchieta Taguatinga
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte
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