
Além de terem uma maior sobrevida, as pessoas que se dedicam a trabalhos voluntários têm a percepção de terem um melhor estado físico e psicológico. A literatura médica ainda aponta que há uma associação com menor risco de depressão e demência.
Mas quais seriam os mecanismos que explicariam a promoção de todos esses efeitos benéficos do voluntariado? Incremento das interações sociais é uma possibilidade. Além disso, o voluntariado é capaz de aumentar a motivação e promover uma sensação mais profunda de sentido na vida. Quando a motivação é para ajudar o outro vive-se o sentimento de dedicação a algo maior do que a si próprio.
Quando um voluntário é orientado pelo altruísmo, este tem maior chance de apresentar um melhor equilíbrio psicossocial. Toda forma de voluntariado é legítima, mas quando a razão é focada em interesses próprios, a chance de frustração é maior, com uma expectativa de retorno que não é alcançada. Além disso, alguns tipos de voluntariado com alto de grau de estresse psicológico andam na contramão do equilíbrio mental e da saúde como um todo.
Precisa ter alguém olhando?
O altruísmo é uma especial característica da espécie humana já que estende os benefícios de nossas boas ações a indivíduos que não fazem parte do núcleo familiar. Há uma forte linha de pesquisa que busca explicar as raízes de nossas ações altruísticas através da ideia de que elas podem gerar ganhos do ponto de vista de reputação, colocando o altruísmo como uma possível vantagem evolutiva, ou seja, indivíduos com comportamento altruísta teriam maior chance de sucesso em gerar descendentes.
Esse efeito reputação é ainda mais reforçado por resultados de pesquisas que evidenciam que ações altruísticas são maiores quando há plateia. Além dos potencias ganhos sociais, há outro nível de recompensa, já que nosso sistema cerebral de recompensa e prazer é ativado quando nos doamos para outras pessoas. Tudo isso não é simples ceticismo. O corpo atual de evidências nos faz pensar que nosso cérebro evoluiu para se sentir bem fazendo bem aos outros e que isso permitiu que aumentássemos nosso potencial de relações e procriação.
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O comportamento humano frente a situações injustas reforça ainda mais o papel da reputação como base do altruísmo. Experimentos nos mostram que indivíduos que assistem a uma situação de injustiça, que não os afeta pessoalmente, ganham em reputação quando assumem um comportamento de punição à injustiça. Esse comportamento também ativa os centros cerebrais de recompensa.
*Ricardo Afonso Teixeira é doutor em neurologia pela Unicamp e neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília
Revista do Correio
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