
Cada estação vem acompanhada de uma paleta de cores, geralmente associada ao clima, como os tons claros e pastéis para a primavera, os terrosos para o outono e os escuros e melancólicos para o inverno. Já no verão, pensamos em cores quentes e ensolaradas, como dourado, bronze, amarelo ou um rosa cheguei. Mas a tendência do momento é outra. As maquiagens, os cabelos e as unhas agora estampam tons frios, que vão do lilás ao prata, do loiro perolado ao castanho acinzentado. A aposta não é por acaso, pois dialoga com a estética clean, fresca e futurista e com o revival dos anos 2000, que invade moda e beleza.
Mas o que torna uma cor fria? A classificação não tem a ver com temperatura literal, mas com o subtom predominante. Segundo Camila Paes, maquiadora e criadora de conteúdo de beleza e maquiagem artística, tons frios são aqueles com partículas azuladas, lilases, esverdeadas ou acinzentadas, responsáveis por transmitir frescor, profundidade e sofisticação.
A maquiadora Vanessa Braga complementa de forma imagética: "Amarelo, vermelho e laranja lembram fogo, calor. Azul, cinza e verde escuro remetem a água, neve e gelo. Daí nasce essa divisão entre quente e frio". Nos cabelos, a regra é a mesma. O visagista Diogo Geovanne explica que tons frios são reflexos acinzentados, perolados ou arroxeados, enquanto os quentes refletem dourado, cobre e mel. E é essa neutralização dos pigmentos amarelos que cria o visual "limpo" dos loiros frios.
A ascensão dos tons frios acompanha um movimento estético contemporâneo: o minimalismo luminoso, o visual polido, quase "digital". "Eles entregam modernidade, tecnologia e aquele frescor futurístico que está super em alta", diz Camila. Referências Y2K, maquiagens espelhadas e as texturas geladas das redes sociais impulsionam ainda mais essa estética.
Para Diogo, o retorno traduz uma busca por um visual mais elegante e "caro". Já a hairstylist Letícia Figueiredo, especialista em terapia capilar, vê o fenômeno como resposta ao excesso de loiros quentes dos últimos anos: "Depois de muitos verões de mel e caramelo, o público quer algo mais urbano e sofisticado".
Como usar na maquiagem
Para quem quer apostar no look, sombras cinzas, lilás, azul serenity, verde-menta, prata e rosa-azulado são protagonistas, e blushes rosados com fundo frio e iluminadores prateados completam o visual. E se surgir o medo de combinar, Camila explica que qualquer pele pode usar tons frios, o segredo está na intensidade e no subtom da pele. "É possível ter um resultado bonito quando você escolhe a intensidade certa, dos suaves aos mais marcantes, sempre dá para adaptar", ensina.
Em peles quentes, a melhor opção são tons frios suaves e profundos, como azul-marinho e cobalto, verde-esmeralda ou musgo, violeta ou roxo. Já em peles com subtom frio, o indicado são cores que possuem base fria e pigmentação azulada, roxa ou verde, além de rosa e prata.
Para Vanessa, os tons frios podem se transformar tanto em looks sociais quanto divertidos: "Dá para ir do cinza sofisticado ao azul vibrante e criativo, tudo vai depender da ocasião e da escolha de cores". Ela explica que, para além de entender o que combina, é essencial deixar a criatividade fluir de acordo com a proposta do look. "É interessante usar cores que conversem entre si, para trazer harmonia ao look."
A melhor proposta são as versões claras, cintilantes e translúcidas da paleta fria. Segundo Camila, o efeito "geladinho", glossy ou metalizado leve é a chave para manter a leveza. Delineados em azul pastel, sombras lavanda esfumadas, detalhes em prata e blushes rosados transparentes devem dominar os editoriais e as postagens de beleza.
As texturas preferidas, de acordo com as maquiadoras, são os cremosos luminosos, metalizados "gelados", como azul e prata, glosses e sombras líquidas e cintilâncias suaves. Entre os erros mais comuns, aplicar tons frios sem transições ou usar cinzas em excesso pode deixar o look opaco. "Equilibrar com iluminador frio e pele bem corrigida é essencial", orienta Camila. Em peles negras, Vanessa alerta para o risco de acinzentar o rosto com escolhas com pouca saturação.
Cabelos frios
Nos salões, a febre dos tons frios também cresce, especialmente entre quem busca inovar nessa estação. O loiro frio combina muito com looks mais urbanos, sofisticados, e cria um contraste bonito com a pele mais dourada do verão. Para Diogo e Letícia, o loiro frio é aquele sem sombra amarela, que reflete prata, pérola, fumaça, "mais metal do que milho", brinca Letícia. Essa tonalidade também funciona para qualquer tom de pele, ainda pensando na harmonia e intensidade. Em peles quentes, tons frios muito extremos podem contrastar demais, por isso é essencial buscar especialista que ajuste a profundidade e distribuição das mechas.
Cabelos loiros, porém, exigem uma certa rotina de cuidados, especialmente no verão, pois o Sol, o sal e o cloro aceleram a oxidação, que "puxa" o cabelo para o amarelo. Por isso, os tons frios exigem uma atenção especial. Leticia recomenda o uso de proteção diária, como leave-in com filtro UV; antes de entrar no mar ou piscinas, molhar o cabelo com água doce e prender, para reduzir a penetração de sal e cloro, e lavagem logo após.
Quanto à manutenção, ela indica o uso periódico de xampu ou máscara matizadora, violeta ou azul, para segurar o acinzentado e evitar o amarelado, retoques na raiz e tonalização de comprimento e um cronograma com foco na hidratação e reconstrução. A especialista reforça: "Tons frios são elegantes, mas cobram disciplina".
Como harmonizar
A temporada propõe um visual integrado. Para atingir a harmonia no look, Diogo orienta que se o cabelo é muito frio, opte por blush rosado ou lavanda suave, evite bronzers quentes, preferindo contornos acinzentados leves, e combine acabamentos glossy e cintilantes com fios bem hidratados e brilhantes.
Dos delineados azul serenity aos loiros perolados, das sombras lavanda aos castanhos-acinzentados, o verão 2025 promete uma estética que conversa com futuro, nostalgia e leveza, tudo ao mesmo tempo. A regra da estação é simples: brincar com a paleta, ajustar intensidades e aproveitar o clima geladinho que chega para refrescar a beleza brasileira.
*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

Revista do Correio
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