PERIGO INVISÍVEL

Drone mede gases do efeito estufa

Pesquisadores da Universidade de Linköping, na Suécia, criaram um drone capaz de medir o que as estações de esgoto jogam no ar

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Drones podem ser aliados importantes dos sistemas de medição de poluentes; tecnologia oferece precisão e dados em tempo real. -  (crédito: Jerry Kavan/Unsplash)
Drones podem ser aliados importantes dos sistemas de medição de poluentes; tecnologia oferece precisão e dados em tempo real. - (crédito: Jerry Kavan/Unsplash)
postado em 25/11/2025 19:51 / atualizado em 25/11/2025 19:54

Estações de tratamento de esgoto são grandes geradoras de gases responsáveis pelo efeito estufa. Matéria orgânica em decomposição, alta concentração de poluentes e o próprio processo químico para tratar os resíduos formam cenário perfeito para a liberação de metano, gás muito perigoso ao meio ambiente. 

A ONU e os cientistas do clima sabem disso há tempos, e o IPCC — sigla em inglês do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, o órgão das Nações Unidas que define os parâmetros de emissões globais de poluentes — tinha definido as quantidades estimadas de metano produzido nas estações de esgoto. 

A questão é que o valor calculado pelo IPCC se baseia apenas no número de casas ligadas a cada central de tratamento de água; a partir dessa demanda, os cientistas estimam o total de gases gerado. A conta, entretanto, não considera atualizações no processo, como mudanças nas técnicas de processamento. Por isso, os números da liberação de metano ficam sempre constantes (e não necessariamente acurados), caso não haja medição mais precisa e presencial.

Pesquisadores da Universidade de Linköping, na Suécia, decidiram enfrentar a situação. Criaram um drone, muito avançado, capaz de medir o que as estações de esgoto jogam no ar, apenas com um sobrevoo. O aparelho, cuja tecnologia foi defendida na revista científica Environmental Science of Technology, fez medições reais e trouxe ao menos duas grandes novidades sobre o tema.

Os suecos descobriram que a quantidade real de metano liberado é cerca de duas vezes e meia maior do que o IPCC previa. Além disso, os sensores comprovaram que o óxido nitroso, superpoluente, também é gerado em grandes volumes nas estações de tratamento, algo que os cientistas não sabiam até então. Para se ter uma ideia, uma tonelada de óxido nitroso impacta 300 vezes mais o planeta do que a mesma quantidade de CO2, o mais "famoso" gás ligado ao efeito estufa.

Voo ecológico

O drone desenvolvido na Suécia foi feito sob medida para carregar sensores especiais, capazes de detectar as quantidades de metano e óxido nitroso liberadas nas centrais de esgoto. A ONU estima que somente essa atividade de limpeza da água seja responsável por emitir 5% do total produzido desses dois gases pela humanidade. Ao todo, o estudo sobrevoou 12 estações de tratamento suecas para fazer as medições. 

Os autores explicam que o metano e o óxido nitroso são gerados durante o processamento do lodo orgânico que se acumula nas águas do esgoto. Para tratar o resíduo, aplica-se a técnica da "digestão anaeróbica", que é o uso de microrganismos vivos para decompor a matéria orgânica, que, no caso, é o lodo. 

Essa digestão é feita num ambiente sem oxigênio, por isso "anaeróbica", e gera produtos secundários a partir da matéria orgânica da água, como, por exemplo, uma espécie de fertilizante. Por conta desse adubo, o lodo precisa ficar um tempo armazenado nas estações, para ser tratado e estar pronto para uso. A digestão, por si só, emite metano e óxido nitroso, mas é durante esse período de armazenamento que a liberação dos gases é maior.

* Estagiário sob supervisão de Lourenço Flores

 

Tecnologia brasiliense

Na Universidade de Brasília (UnB), projetos tecnológicos usam sistemas de drones semelhantes ao do trabalho sueco. Por meio de robótica autônoma, o Departamento de Ciências da Computação e a Faculdade de Tecnologia já utilizam os UAVs (veículos aéreos não tripulados, os drones) em várias áreas. Uma das aplicações práticas desses aparelhos tem sido sobrevoar regiões de difícil acesso e catalogar novas espécies de plantas e árvores, especialmente em zonas de preservação ambiental.

Além disso, equipes universitárias focadas em criar novas tecnologias automatizadas também atuam na capital federal. Membro de uma delas, a "Droid", Lucca Aguilar é pesquisador em visão computacional e explica que diversos conceitos são aplicados pelos grupos. "A gente cria técnicas que integram inteligência artificial, sensores, algoritmos de controle e inovação para tornar esses sistemas cada vez mais eficientes e autônomos; isso é feito, inclusive, em âmbito de exposições e competições", detalha ele.

O pesquisador acrescenta, ainda, que outros setores também já trabalham com esse tipo de aparelho. Segundo ele, o Banco do Brasil, por exemplo, usa drones para fiscalização fundiária. "Eles servem para averiguar e checar informações, como tamanho real de terrenos, qualidade da produção agrária e facilitar o processo burocrático", explica Lucca.

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