
O recorde de turistas estrangeiros no Brasil em 2025 é motivo de muitas comemorações. Afinal são mais de 8 milhões de pessoas de diversas nacionalidades que visitaram o país em busca do que temos de melhor. E o que o brasileiro apresenta é uma sucessão de atrativos que vão fazer qualquer gringo se apaixonar por esse continente verde. A nossa criatividade não tem limites: vai de pastel em formato de capivara a tradicionais menus que reverenciam a imigração.
Aproveitando o sucesso dos gringos por aqui, afinal Dua Lipa e Shawn Mendes já tem até CPF, essa lista é por lugares onde poderíamos levar um turista estrangeiro, mas tenho certeza que muito brasileiro também ainda não ouviu falar. Então vale levar aquele amigo do Ceará, de Rio Branco, de Porto Alegre ou de São Paulo. São muito os lugares pelo Brasil, e essa lista é só exemplificativa, é por onde passei nos recentes meses. Vale acrescentar aquele quitute bacana da esquina do seu bairro.
Para comer bem de Norte a Sul
De Curitiba, dois petiscos bem exóticos no nome, mas bem populares no sabor. Carne de Onça, um dos mais tradicionais da capital paranaense tem muitas histórias e lendas. Mas, primeiro vamos ressaltar que não se trata da carne da onça, e sim um picadinho (ou tartar) de patinho servido em cima de um pão de centeio (broa) coberto com cebola e cheiro verde. O petisco é tão importante para o imaginário gastronômico curitibano que ganhou IG – Identificação geográfica, registro que garante e perpetua a receita original e protege a origem geográfica, ou seja, o nome correto é “carne de onça de Curitiba”. A melhor carne de onça que provei na cidade é a do Burguer Bar. Seu amigo turista tem que provar e conhecer toda a história.
É de Curitiba também o inusitado pastel de Capivara. O pastel que ficou famoso nas feiras ambulantes bem tradicionais nos bairros da cidade, ganhou o instagram com vários clientes postando o pastel que reverencia uma das atrações mais genuínas da cidade. Nos parques é muito comum ver as capivaras descansando, e vê-las passeando pelas margens de rios e parques se tornou atração turística na cidade. A “autora” do pastel em formato de capivara é a feirante Cristiane Yamashiro (conhecida como “Mity” Yamashiro), da tradicional barraca da família — a “Pasteis Osamu Yamashiro”. O pastel criativo veio do sufoco da pandemia. A ideia chamou a atenção das redes sociais e se tornou aquele petisco que não pode faltar na visita a cidade. Agora tem capivara por tudo que é lado, inclusive o recém lançamento: a coxinha de capivara. Tem que ver, fotografar e postar para crer!
Coisas de Belô
Quando cheguei a Belo Horizonte numa das muitas vezes que estive nessa cidade de gastronomia incrível – Não é a toa que é reconhecida pela Unesco como capital criativa da gastronomia – me apresentaram o pescoço de peru. Achei que era brincadeira. E me perguntaram: – como você nunca provou pescoço de peru? Na verdade eu nunca nem tinha ouvido falar que o pescocinho do peru era servido! Descobertas à parte, a iguaria faz parte do cotidiano dos bares e restaurantes dentro e no entorno dos mercados belorizontinos como no Bar da Lora. Não se se gostei, confesso! Tem que morder, chupar, se lambuzar. É uma festa!
Também em Belo Horizonte o macarrão com tutu da chef Mariana Gontijo é outra festa de interior. A combinação que pode parecer inusitada é na verdade bem comum em comemorações religiosas — principalmente festas juninas. Esses eventos precisavam de comida farta, barata e que agradasse a todos, então era comum colocar mais de um carboidrato no prato. O restaurante Roça Grande, onde a chef Mariana cozinha, foi onde provamos a combinação festiva que reverencia o interior simples do Brasil. Lembro que minha avó servia tutu ou feijão com macarrão. Vale levar o turista para imergir no interior gastronômico de Minas e do Brasil.
Exótico e sustentável
Um dos pratos mais interessantes, e sustentáveis, que já provei Brasil a dentro foi no Delta do Parnaíba, na divisa entre Piauí e Maranhão. A moqueca de frutos do mangue é daquelas pedidas exóticas até para brasileiros de outras bandas do Brasil. O ensopado leva além de camarão, ostras, patas de caranguejo, sururu e outros pescados ou catados da região. Seu amigo turista já conhece a moqueca baiana e capixaba? Que tal apresentar a versão dos mangues?
De Alagoas, a beira do Rio São Francisco, um restaurante que deveria estar nas melhores listas de melhores do Brasil, o Nalva Cozinha Autoral serve o Hot Bode. Sim, uma linguiça de carne de bode com pão de macaxeira feito na casa. O restô tem na expertise do chef Antônio Mendes a extração dos melhores sabores da região. Os peixes do rio São Francisco são um clássico no Nalva, e o bode, tão consumido no sertão, não poderia ficar de fora. Além do Hot Bode, o Chef Antonio prepara o suculento stinco de bode com pão, creme, tudo de macaxeira para acompanhar. E seu amigo turista não vai conhecer o sertão?
Pra finalizar essa lista que não acaba aqui nessa coluna de hoje, voltemos ao pastel. Afinal a comida de boteco é a mais genuína culinária brasileira. Que tal levar o amigo turista até Sergipe para provar o pastel de Aratu. Esse é um tipo de caranguejo encontrado nos manguezais, especialmente entre Pernambuco e Bahia. O catado de Aratu refogado é pedida obrigatória para vivenciar os rios litorâneos e mangues e que em Sergipe tem seus belos exemplos.
Ser turista pelo Brasil é um resgate gastronômico que vai te fazer viajar pela história de um país e suas águas. Uma viagem por rios e pontes (e overdrives), pela macaxeira, por bodes e festas de interior. É na gastronomia, na música, nas danças que muitas culturas se expressam. Que tal conhecer e levar seu amigo turista para um Brasil de outros esteriótipos?
Thiago Paes é colunista de Turismo e Gastronomia, viaja o mundo, entre hotéis incríveis e histórias gastronômicas para contar. É apresentador de TV no canal Travel Box Brazil. Está nas redes sociais como @paespelomundo Press: contato@paespelomundo.com.br
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