
O que faz um restaurante se destacar entre tantas opções, muitas vezes servindo pratos que possuem os mesmos nomes, receitas, ingredientes? Que diferenciais um chef pode apresentar para tornar seus pratos únicos? Quando se fala de comida que eleva seus insumos, suas origens, sua história, os cardápios se tornam mais que uma lista de nomes e preços, eles te transportam para um momento especial. Talvez ir a um restaurante para relaxar num bate papo com um amigo, saboreando receitas em diferentes texturas, combinações, seja um bom entretenimento. Uma oportunidade especial que restaurantes como o Cozinha Santo Antônio muitas vezes proporciona.
Na cozinha da Chef Juliana Duarte, as receitas não poderiam ter saído senão das revistas e livros espalhados pela casa que a inspiraram se tornar historiadora. O encontro com a gastronomia veio em diferentes momentos, em casa – como uma boa mineira – em cursos de aperfeiçoamento, mas, e principalmente, a partir da história de mulheres que são referências para a chef Juliana. Uma tarde na esquina do Prato, no bairro do Santo Antônio me fez reviver momentos tão simples e tão intensos quanto as peças garimpadas que fazem parte da decoração, tamanha personalidade do lugar.
A entrada de jiló com purê de limão é de uma riqueza gastronômica peculiar. Um dos maiores ícones da culinária mineira, o jiló é originário da África e foi introduzido no Brasil no século XVII pelos africanos escravizados. Da História para os botecos, popularizou-se no Mercado Central de Belo Horizonte a partir da década de 1960 e foi aos poucos conquistando novos chefs que resgatam a gastronomia de origem, história dos centros urbanos, dos produtores regionais. No cardápio do Cozinha Santo Antônio não poderia faltar os mercados, os botecos, a simplicidade que acolhe, que conquista.
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Do outro lado, a gastronomia de imigração. A receita portuguesa do Arroz de Pato é sem dúvidas uma das que mais me chamaram atenção no cardápio. Talvez pelo sabor do vinho tinto no tempero do arroz. Ou pela combinação harmoniosa das histórias que vão dos becos simples dos mercados, aos becos do norte de Portugal. Afinal a história dos portugueses que desembarcaram em terras brasileiras pode ser contada de várias formas. E nada mais interessante que contar muitas dessas histórias pelas receitas que atravessaram o tempo.
O livro de Francisco Azevedo, “O Arroz de Palma”, com a história de uma família portuguesas que por aqui construiu sua vida em torno das mesas, da simplicidade das relações que se renovam. O arroz como fio condutor dessa família é também um símbolo de união à mesa, de ligação entre eles, e de amor. O arroz de pato de hoje me lembrou o norte de Portugal, a obra de Azevedo, a comida mineira que entretém como a leitura de um bom livro.
Num bate papo com um amigo domingo desses, entre caipirinhas deliciosas, repletas de especiarias, entre entradinhas típicas de boteco e pratos cheios de história, senti-me assim, meio encantado com tudo isso. Com a possibilidade de me dar tempo na fugacidade das coisas todas que a tecnologia nos empurra goela abaixo. Tempo para apreciar receitas incríveis na sua concepção, para admirar a trajetória de uma chef e sua equipe de mulheres. “É impossível cozinhar em Minas gerais e não conhecer a história da nossa comida”, lembrou a Chef Juliana.
O Cozinha Santo Antônio é daqueles restaurantes para quem busca esse encontro: histórias, sabores, memórias. Nada de cardápios extensos e opções para absolutamente tudo, que não dizem nada. Nada de exageros. É comida fresca, boa, bem-feita, elegante. No próximo 2 de fevereiro o CSA completa 6 anos de histórias gastronômicas na esquina do Prata. Parabéns, chef Juliana, continue encantando e nos revelando nossa própria história. Bravo!
Thiago Paes é colunista de viagem e gastronomia. Apresentador de TV no canal Travel Box Brazil. Está nas redes sociais como @paespelomundo. É jurado e integrante do comitê do prêmio BomGourmet de gastronomia. Press: contato@paespelomundo.com.br
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