
Nos últimos meses, essa expressão tem ganhado cada vez mais destaque em debates, estudos acadêmicos e publicações especializadas que discutem os rumos e os desafios do turismo no século XXI. À primeira vista, o nome pode parecer complexo ou até distante da realidade, mas a proposta é clara, provocadora e inspiradora: diferente do turismo sustentável, que tem como princípio central preservar e minimizar impactos negativos, o turismo regenerativo propõe ir além. Ele convida o viajante, os empreendedores e as comunidades locais a atuarem de forma ativa e consciente na transformação positiva dos destinos, promovendo melhorias ambientais, sociais, culturais e econômicas, de modo que o local visitado se torne melhor do que era antes da experiência turística.
Nesse contexto, o viajante deixa de ser apenas um consumidor de serviços e paisagens e passa a ser um agente de transformação. Sua presença no destino deve contribuir diretamente para a regeneração dos ecossistemas, para o fortalecimento das comunidades locais, para a valorização da cultura e para a dinamização da economia do território. Trata-se de uma proposta que dialoga fortemente com temas contemporâneos como responsabilidade coletiva, pertencimento, ética, cuidado com o meio ambiente e busca por impactos positivos duradouros no turismo.
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Ao mesmo tempo, essa reflexão também provoca um certo desconforto necessário: será que, enquanto sociedade e enquanto gestores públicos e privados, já conseguimos colocar em prática o turismo sustentável em sua totalidade? Ou estamos avançando para um novo conceito antes mesmo de consolidar princípios básicos, como planejamento, gestão responsável, inclusão social e preservação ambiental, que ainda representam grandes desafios para a maioria dos destinos turísticos brasileiros?
Ao nos aprofundarmos nos estudos, reportagens e modelos de turismo regenerativo apresentados em artigos acadêmicos e experiências internacionais, percebe-se que, em muitos casos, essa modalidade ainda se aproxima de um turismo de luxo, voltado a um público bastante específico. São viajantes com maior poder aquisitivo, que buscam experiências exclusivas, personalizadas e imersivas, muitas vezes associadas a práticas ambientais, sociais ou culturais desenvolvidas dentro dos territórios, mas que nem sempre dialogam com a realidade da maioria da população.
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Um exemplo frequentemente citado é a Comuna do Ibitipoca, em Minas Gerais, um empreendimento que reúne sofisticação, contato intenso com a natureza e ações estruturadas de regeneração ambiental. Embora seja, sem dúvida, um projeto inspirador e inovador, ele também evidência como esse modelo, no formato atual, ainda está distante da realidade da maioria dos destinos turísticos, das comunidades locais e dos próprios visitantes, sobretudo quando se observa a desigualdade de acesso e de oportunidades.
O turismo regenerativo surge, portanto, como uma proposta potente, necessária e alinhada aos desafios do futuro. No entanto, o grande desafio está em pensar caminhos para torná-lo mais acessível, democrático e integrado às políticas públicas de turismo, meio ambiente e desenvolvimento territorial. Somente assim ele deixará de ser uma exceção restrita a poucos projetos e poderá, de fato, contribuir para a transformação ampla, justa e inclusiva dos territórios turísticos — e também dos próprios turistas.
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