MEMÓRIA

1968: o ano que não acabou e uma música ficou eterna


Um ano que abalou o mundo. Guerras, revoltas, ditaduras, resistência. Mas também arte, contracultura e canções que ficaram para sempre. Vem que o Correio te conta alguns dos acontecimentos mais impactantes de 1968

Por Amanda S. Feitoza
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Por que 1968 é considerado um marco histórico?

Foi um ano de profundas transformações sociais e políticas. No mundo todo, jovens foram às ruas, ditaduras apertaram o cerco, e as músicas se tornaram símbolo de protesto, amor e liberdade

CAMERA PRESS / Jane Brown

Guerra do Vietnã em seu ápice

O mundo assistia horrorizado à Guerra do Vietnã. Em 1968, os Estados Unidos sofrem um duro golpe com a 'Ofensiva do Tet', iniciada em janeiro pelos vietcongues. Apesar da superioridade militar americana, a ofensiva abalou a moral da tropa e a confiança da opinião pública. As imagens sangrentas chegavam à TV em tempo real, gerando protestos dentro e fora dos EUA

Google/Reprodu??o

Primavera de Praga: a esperança sufocada

Tchecoslováquia tenta respirar liberdade sob o jugo soviético. Alexander Dub?ek implementa reformas democráticas no regime comunista, num movimento conhecido como 'Primavera de Praga'. Mas a liberdade dura pouco: em agosto, tanques da União Soviética invadem Praga e reprimem brutalmente a tentativa de mudança

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Maio de 68: Paris em ebulição

Estudantes e trabalhadores tomam as ruas da França. O movimento começou com protestos estudantis contra o autoritarismo universitário, mas logo ganhou apoio de operários. Milhões cruzaram os braços. O país quase parou. 'Abaixo a sociedade de consumo!' ecoava entre barricadas e pichações nos muros

Reprodução

EUA: assassinato de Martin Luther King Jr.

O líder dos direitos civis é assassinado em abril. Martin Luther King Jr., defensor da luta pacífica contra o racismo, é morto em Memphis. O país explode em revolta, com distúrbios em mais de 100 cidades. O sonho de justiça social parecia mais distante

Reprodução/Internet

Assassinato de Robert Kennedy

Dois meses após King, outro choque: morre Robert Kennedy. Candidato à presidência e irmão de JFK, Robert Kennedy também é assassinado em 1968. Jovens e progressistas viam nele a esperança de mudança. A comoção nacional foi imensa

Reprodução

Movimento dos Panteras Negras em ascensão

Autodefesa, resistência e crítica radical ao racismo. Os Panteras Negras ganham força, com sua retórica afiada e ações diretas. Exigiam fim da brutalidade policial e justiça para a população negra. Em 1968, o grupo virou símbolo da insatisfação ao sistema segregacionista dos EUA e luta pelos direitos das pessoas pretas

www.doladodeca.com.br/Reprodução

México: massacre de Tlatelolco

Estudantes são massacrados dias antes das Olimpíadas. No dia 2 de outubro, o governo mexicano reprime brutalmente um protesto estudantil na Praça das Três Culturas. O número de mortos é incerto, mas estima-se que ultrapasse 300. O massacre ficou marcado como uma das maiores tragédias da repressão latino-americana

Reprodução

Ditadura militar no Brasil se radicaliza

1968 foi o ano mais tenso do regime militar. Manifestações estudantis se espalham pelo país. A repressão aumenta. O ponto de ruptura chega em 13 de dezembro, com a decretação do AI-5 — que dá plenos poderes à ditadura, fecha o Congresso, censura a imprensa e intensifica a tortura

Evandro Teixeira

Passeata dos 'Cem Mil'

A resposta da sociedade civil à violência do regime. Em junho, mais de 100 mil pessoas marcham no Rio de Janeiro, em protesto contra a ditadura e a morte do estudante Edson Luís, assassinado pela polícia. Foi a maior manifestação popular contra o regime até então

Jorge Bodanzky/Divulgação

Resistência cultural no Brasil

Enquanto isso, a arte brasileira desafiava o regime. Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e outros artistas da Tropicália misturam música popular, psicodelia e crítica social. A cultura vira forma de resistência — e incomoda tanto que Gil e Caetano são presos no fim do ano

F. Gualberto/CB/D.A Press

Hey Jude: o hino da esperança

Lançada pelos Beatles, 'Hey Jude' se torna a música mais tocada do ano. Com mais de 7 minutos, era ousada para o rádio. Mesmo assim, conquistou o mundo. Paul McCartney compôs a canção para consolar o filho de John Lennon durante o divórcio dos pais. A letra acolhedora e a melodia épica tocaram milhões de corações em um ano de dor e incertezas.

AFP

The Beatles no auge da influência

Em 1968, eles também lançam o 'Álbum Branco'. Um disco experimental e variado, que reflete tanto as tensões internas do grupo quanto as do mundo. Músicas como Revolution trazem críticas políticas, enquanto While My Guitar Gently Weeps expressa emoções profundas. A banda sintetizava os dilemas de uma geração

AFP

Soul e psicodelia ganham força

Aretha Franklin, Jimi Hendrix e Janis Joplin brilham em 1968. Aretha lança 'Think', hino de empoderamento. Hendrix toca no auge da sua genialidade. Janis Joplin emociona com sua voz rasgada. Todos eles expressam, à sua maneira, o espírito de contestação e liberdade da época

ZetaFilmes/Reproducao

E por que dizem que 1968 'não acabou'?

Porque seus ecos ainda ressoam nas lutas, na cultura e nas ruas. As causas de 1968 — liberdade, igualdade, justiça, voz para a juventude — continuam vivas. Foi um ano que moldou o presente. E que a música ajuda a nos lembrar da importância dessa época

Jose Varella/CB/D.A Press