Figura emblemática da folia, ele se destacou como carnavalesco, museólogo e criador de fantasias luxuosas que marcaram época.
Sua trajetória foi símbolo do esplendor e da criatividade que transformaram o carnaval em espetáculo de arte e beleza.
Nascido em 10 de janeiro de 1916, em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, Clóvis era filho de pai suíço e mãe espanhola, sendo o caçula de doze irmãos.
Desde cedo, ele demonstrou fascínio pelo brilho e pelas cores dos bailes de gala, e foi justamente nesse ambiente que iniciou seu caminho artístico.
Em 1937, Clóvis Bornay convenceu o diretor do Theatro Municipal do Rio de Janeiro a criar bailes de gala com concursos de fantasia - inspirados nas festas de máscaras de Veneza.
Naquela estreia, apresentou a fantasia “Príncipe Hindu”, conquistando o primeiro lugar e iniciando uma carreira de vitórias e aclamação.
Ao longo das décadas seguintes, Bornay se consolidou como ícone dos concursos de fantasia, arrebatando prêmios e se tornando uma celebridade do carnaval carioca.
Por seis décadas, ele participou dos concursos. Aos 84 anos, foi proibido de competir ao ser declarado “hors-concours” - expressão francesa que atribui a alguém qualidades excepcionais acima de competição.
O luxo e a inventividade de suas criações influenciaram gerações de artistas e estilistas, estabelecendo um novo padrão de requinte para o carnaval.
Sua ligação com as escolas de samba começou nos anos 1960. Ele trabalhou como carnavalesco em grandes agremiações, entre elas Salgueiro, Unidos de Lucas, Portela, a Mocidade Independente de Padre Miguel e Unidos da Tijuca.
O auge veio em 1970, quando conquistou o título do carnaval com a Portela com o enredo “Lendas e Mistérios da Amazônia”, considerado um marco de criatividade e exuberância estética.
Paralelamente à carreira carnavalesca, Bornay também se dedicou à museologia, atuando no Museu Histórico Nacional e em outras instituições culturais.
Ele foi responsável por preservar parte importante da memória artística do país, reforçando o diálogo entre o carnaval e o patrimônio histórico brasileiro.
A presença carismática e extravagante de Clóvis Bornay também o levou à televisão e ao cinema.
Ele participou de filmes como “Terra em Transe”, de 1967, clássico de Glauber Rocha, e Independência ou Morte, de 1972.
Bornay ainda integrou júris de programas de auditório, como os de Chacrinha e Silvio Santos, onde sempre aparecia com trajes luxuosos e coloridos.
No fim da vida, ele enfrentou problemas de saúde. Em 9 de outubro de 2005, deu entrada no Hospital Souza Aguiar, no Rio de Janeiro, debilitado por desidratação e infecção intestinal. Clóvis sofreu uma parada cardiorrespiratória e morreu aos 89 anos.
Seu cortejo fúnebre foi marcado por homenagens emocionadas e acompanhado pela marchinha “Ó abre-alas”, de Chiquinha Gonzaga
Duas décadas após sua morte, Clóvis Bornay segue representando o esplendor de uma era romântica e inventiva do carnaval.