Mesmo enfrentando esse desafio, ela segue em cartaz com o espetáculo “Olhos nos Olhos”, em uma montagem que combina memórias de sua trajetória com letras do compositor Chico Buarque.
Para isso, recorre a um acordo discretamente combinado com o pianista que a acompanha: se eventualmente esquecer alguma fala, ela olha para ele e solicita ajuda. Esse mecanismo, segundo ela, conta também com a compreensão da plateia.
O uso do pianista correpetidor, como é conhecido o músico que trabalha principalmente com cantores, atores e bailarinos durante processos de ensaio, é comum. Ele acompanha intérpretes em ensaios e os ajuda a estudar repertórios vocais ou cênicos. Ele toca as partes instrumentais ao piano, guia questões de ritmo, afinação, respiração e interpretação, além de ajustar o andamento conforme as necessidades do artista.
Ana Lúcia diz que a maturidade trouxe serenidade que facilita o trabalho e destaca que continua atuando com prazer, dedicação e empenho, mesmo sabendo que a memória já não é mais a mesma.
A seguir, relembre a trajetória dessa grande atriz da teledramaturgia brasileira.
Ana Lúcia Torre nasceu em 21 de abril de 1945, em São Paulo. Ela iniciou estudos em Ciências Sociais na PUC-SP, onde participou de um grupo de teatro amador e, durante esse período, fez sua primeira atuação em cena no espetáculo amador “Morte e Vida Severina”, de 1966.
A atriz não concluiu os estudos e decidiu morar na Europa por um tempo, onde viveu em Portugal, Noruega e Inglaterra. Ao retornar ao Brasil, em 1975, estreou profissionalmente no teatro com a montagem “Equus”.
Na televisão, sua primeira participação, embora pequena, foi na novela “Escrava Isaura”, de Gilberto Braga, em 1976.
Em 1977, ela conseguiu seu primeiro papel fixo em novelas com a personagem Glorita em “Dona Xepa”, também escrita por Gilberto Braga. No mesmo ano, participou da novela “Sinhazinha Flô”.
Nas décadas de 1980 e 1990, atuou em telenovelas como “As Três Marias”, “Ciranda de Pedra”, “O Homem Proibido”, “Tieta”, “Renascer” e “A Indomada”.
Um dos papéis mais marcantes de sua carreira foi a vilã Débora na novela “Alma Gêmea”, de Walcyr Carrasco, em 2005.
Ainda atuou em novelas de sucesso como “O Cravo e a Rosa”, “Porto dos Milagres”, “O Profeta”, “Sete Pecados”, “Caras e Bocas”, “Insensato Coração”, “Amor Eterno Amor”, “Joia Rara”, “Verdades Secretas”, “O Outro Lado do Paraíso”, “Espelho da Vida”, “Quanto Mais Vida, Melhor!”, entre muitas outras.
No cinema, estreou com o filme â??Através da Janelaâ?, lançado em 2000. Depois participou de produções como â??Quanto Vale ou Ã? Por Quilo?â?, de 2005, e o filme â??Bingo: O Rei das Manhãsâ?, de 2017, pelo qual foi indicada ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.
No teatro, Ana Lúcia Torre participou de numerosas montagens ao longo da carreira, incluindo “Rasga Coração”, “Eles Não Usam Black-Tie”, 'Num Lago Dourado', e produções do Grupo TAPA, entre elas “Rasto Atrás”.
Inclusive, em 2023, ela recebeu o Grande Prêmio da Crítica no Prêmio APCA, em reconhecimento à sua contribuição para o teatro.
Em sua vida pessoal, Ana Lúcia Torre foi casada três vezes. Com o segundo marido, teve um filho, o baixista Pedro Lobo, nascido em 1983, quando ela tinha 40 anos.