Trata-se de “Metralha: A vida de Nelson Gonçalves em quadrinhos”, obra roteirizada por Márcio Paixão Jr., ilustrada por Fábio Cobiaco e construída a partir da pesquisa do jornalista Cristiano Bastos, também autor da biografia “Nelson Gonçalves – O Rei da Boemia” (Plus, 2019).
Publicada pela MMarte editora em novembro de 2025, a HQ monta, em fragmentos vívidos e contrastantes, um retrato multifacetado do artista, que acumulou cerca de 80 milhões de discos vendidos - números que impressiona quando confrontado com as oscilações de sua vida pessoal.
Antônio Gonçalves Sobral, que ficou famoso com o nome artístico de Nelson Gonçalves, nasceu em 21 de junho de 1919 na cidade gaúcha de Santana do Livramento, na fronteira do Brasil com o Uruguai.
Filho de imigrantes portugueses e criado em um ambiente simples, ele cresceu entre dificuldades financeiras até que sua família se estabeleceu em São Paulo. Na cidade, ainda criança no bairro do Brás, foi apelidado de Metralha por conta da gagueira (ele dizia que falava rápido demais).
Na juventude, trabalhou em ofícios diversos - engraxate, jornaleiro e garçom - ao mesmo tempo em que se destacava como lutador de boxe.
Sua carreira musical começou a ganhar forma nos anos 1940, quando, já morando no Rio de Janeiro, conseguiu suas primeiras oportunidades profissionais, chamando atenção pela voz potente e pelo timbre grave, que o colocaria ao lado de nomes como Orlando Silva e Francisco Alves na chamada 'Era de Ouro do Rádio'.
Nelson começou a ganhar visibilidade no ambiente musical do Rio de Janeiro em 1941, quando gravou o samba “Sinto-me Bem”, de Ataulfo Alves.
Ao longo dos anos 1940, sua voz encontrou terreno fértil na obra de Herivelto Martins, que lhe forneceu composições marcantes tanto sozinho - como “Pensando em Ti” - quanto em parceria com Davi Nasser, casos do samba-canção “Caminhemos” e do tango “Carlos Gardel”.
Outro nome importante desse período foi o pernambucano Capiba, autor de “Maria Betânia”, clássico lançado em 1946. A gravação dessa música por Nelson, inclusive, inspirou Caetano Veloso a sugerir ao pai que batizasse a irmã caçula com esse nome.
A década de 1950 marcou uma inflexão ainda mais significativa na carreira do intérprete. Nesse período, Nelson conheceu Adelino Moreira, um dos grandes compositores do samba-canção, cuja sensibilidade romântica encaixou-se perfeitamente à sua voz.
Dessa colaboração nasceram obras que se tornaram referência do gênero. Entre elas, destacam-se “A Volta do Boêmio” e “Deusa do Asfalto”, assinadas por Adelino, e títulos como “Escultura”, “Êxtase”, “Mariposa” e “Fica Comigo Esta Noite”, registradas como parcerias entre os dois.
No período, Nelson Gonçalves se firmou como um dos intérpretes mais populares do país. Sua presença constante nas rádios e contrato com grandes gravadoras ampliaram seu alcance nacional.
Sua dicção inconfundível e a capacidade de transmitir emoção em cada verso fizeram dele um ícone do período de ouro da música romântica brasileira. O estrondoso sucesso comercial é evidenciado pelos cerca de 80 milhões de discos vendidos ao longo da vida, número que o colocou entre os maiores vendedores de discos do país.
Apesar do êxito artÃstico e financeiro, Nelson teve vida atribulada. A partir da década de 1960, enfrentou um perÃodo turbulento marcado pelo vÃcio em cocaÃna, que abalou sua carreira, suas finanças e sua vida pessoal. O escândalo em torno de sua prisão por porte da droga, em 1966, quase destruiu sua reputação e o afastou dos palcos.
Nos anos 1970 e 1980, já recuperado, Nelson Gonçalves viveu uma fase de renovação artística. Voltou a se apresentar com frequência, participou de programas de televisão, lançou discos bem recebidos e aproximou-se de novas gerações de ouvintes.
Nelson Gonçalves morreu em 18 de abril de 1998, aos 79 anos, vítima de um infarto fulminante. Sua morte marcou o fim de uma era e reforçou o legado de um intérprete cuja voz atravessou gerações. Em quase seis décadas de carreira, ele gravou 128 discos.
Nelson Gonçalves foi casado três vezes e teve sete filhos, sendo cinco deles adotivos. Quando morreu, vivia uma das filhas, Margareth Gonçalves, na zona sul do Rio de Janeiro.