Segundo o estudo, o sistema de correntes oceânicas que regula o calor no Hemisfério Norte está próximo de um ponto de ruptura.
Isso significa que a Circulação Meridional de Revolvimento Meridional do Atlântico, conhecida pela sigla Amoc, pode entrar em colapso completo após 2100 caso as emissões de gases do efeito estufa permaneçam elevadas.
Esse sistema inclui a Corrente do Golfo, responsável por manter o clima da Europa Ocidental mais ameno.
O risco é tão iminente que autoridades da Islândia já classificaram o fenômeno como uma ameaça existencial à segurança nacional.
Segundo os cientistas, a Amoc funciona como uma grande esteira térmica, transportando águas quentes dos trópicos para o Atlântico Norte e devolvendo águas frias para o sul em grandes profundidades.
Esse mecanismo é o que garante ao noroeste da Europa um clima consideravelmente mais ameno do que outras regiões situadas na mesma latitude, como o Canadá.
No entanto, se esse 'aquecedor' falhar, os impactos seriam severos e globais.
As simulações apontam que a desaceleração do sistema pode se intensificar ainda neste século, atingindo um ponto de inflexão nas próximas décadas.
A partir desse limite crítico, o enfraquecimento da Amoc se tornaria irreversível, com queda drástica no transporte de calor para o hemisfério norte.
Em alguns cenários, esse fluxo cairia para menos de 20% do nível atual, segundo o Instituto de Potsdam para Pesquisa sobre Impacto Climático.
As consequências previstas incluem verões mais secos e invernos extremamente rigorosos na Europa.
Além disso, ocasionaria deslocamento das zonas de chuva tropical e processos de desertificação em determinadas áreas.
Estima-se que regiões como a Escócia possam enfrentar temperaturas abaixo dos –30 °C.
Outros lugares como Londres poderiam ter invernos congelados por meses seguidos.
O estudo analisou 38 modelos climáticos, incluindo os utilizados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), com projeções que se estendem até os anos 2300 e 2500.
Em todos os cenários de altas emissões, o colapso total da Amoc se mostrou inevitável. Mesmo com emissões moderadas ou baixas, o risco ainda existe.
Além do território europeu, o impacto atingiria a África e a América do Sul, alterando a frequência das chuvas.
Outro fator preocupante é o derretimento do gelo no Atlântico Norte, que reduz a salinidade da água e enfraquece ainda mais as correntes.
Esse efeito nem sequer foi totalmente considerado nos modelos, o que sugere que o risco real pode ser ainda maior do que o estimado.