Recentemente, no início de dezembro de 2025, o nome do artista apareceu no noticiário no Brasil. Isso porque criminosos roubaram oito gravuras do francês e outras cinco do brasileiro Cândido Portinari que estavam expostas na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo.
Nascido em Le Cateau-Cambrésis, no norte da França, Matisse cresceu em uma família de classe média ligada ao comércio de grãos. Nada em sua juventude indicava que ele se tornaria um revolucionário das artes visuais.
Seu primeiro caminho profissional foi o Direito, área que estudou em Paris e exerceu brevemente, até que uma crise de saúde, no início da década de 1890, o obrigou a um período de repouso.
Foi durante essa convalescença que teve o primeiro contato mais sistemático com as artes plásticas, experiência que ele próprio descreveu como uma revelação capaz de dar novo sentido à sua vida.
Determinado a abandonar a carreira jurídica, Matisse ingressou em escolas de arte e teve formação sólida, estudando com mestres como Gustave Moreau, que o incentivou a buscar uma linguagem pessoal sem abrir mão do rigor técnico.
Nos primeiros anos, sua produção dialogou com o realismo e o impressionismo, com especial atenção à luz e à observação direta da natureza. No entanto, já se notava uma inquietação que o afastava do registro puramente óptico e o aproximava de soluções mais expressivas.
A virada decisiva ocorreu no início do século 20, quando Matisse passou a explorar o uso intenso da cor como elemento estrutural das obras, retirando a função meramente descritiva e transformando-a em meio autônomo de emoção e construção espacial.
Essa postura o levou a ocupar papel central no fauvismo, movimento que, embora breve, causou impacto profundo na arte europeia.
Ao lado de artistas como André Derain e Maurice de Vlaminck, Matisse apresentou obras marcadas por cores puras, contrastes violentos e simplificação das formas, o que escandalizou a crítica conservadora.
Ao longo das décadas seguintes, Matisse desenvolveu uma obra extremamente coerente e, ao mesmo tempo, aberta à experimentação. Criações como “A alegria de viver”, “A dança”, 'A Conversa' e “A música” tornaram-se marcos da arte moderna ao propor figuras planas, espaços quase abstratos e uma concepção ornamental da superfície pictórica.
Paralelamente, dedicou-se intensamente ao desenho, à gravura, à escultura e às artes decorativas, incluindo cenários e figurinos para balés e óperas.
Seu interesse por culturas não europeias, especialmente a arte islâmica e africana, ampliou seu repertório formal e reforçou sua busca por síntese e essencialidade.
A partir dos anos 1940, após uma cirurgia grave que comprometeu sua mobilidade, Matisse reinventou novamente seu modo de criar. Limitado fisicamente, passou a trabalhar com recortes de papel colorido, os célebres gouaches découpés, nos quais desenhava com a tesoura, explorando formas orgânicas e cores vibrantes em composições de grande liberdade.
Nesse mesmo período, realizou um de seus projetos mais ambiciosos: a Capela do Rosário, em Vence, para a qual concebeu vitrais, painéis, mobiliário e vestes litúrgicas, unindo espiritualidade, simplicidade e modernidade.
Do ponto de vista pessoal, Matisse levou uma vida marcada por disciplina quase monástica em relação ao trabalho artístico. Reservado, manteve uma rotina rigorosa no ateliê e acreditava que a arte deveria oferecer ao espectador um espaço de repouso e contemplação, especialmente em tempos de tensão e violência.
Sua relação com outros artistas, em especial com Pablo Pi-casso, foi marcada por rivalidade e respeito mútuo, um diálogo tenso que impulsionou ambos a avançar constantemente em suas pesquisas formais.
Henri Matisse morreu em 1954, aos 84 anos, deixando uma obra vasta e decisiva, que atravessa estilos, técnicas e períodos históricos sem jamais perder unidade interna.