SAÚDE

Epidemia e doenças sazonais lotam hospitais públicos e privados

Redes pública e privada sentem efeitos da dengue e das doenças sazonais, como bronquiolite. Especialista alerta para necessidade de estrutura e de pessoal no atendimento. Secretaria de Saúde confirma alta demanda e convoca 200 médicos

A procura também é grande pela ortopedia do Hospital Regional de Ceilândia. Há pessoas que esperam dez horas pelo atendimento -  (crédito: Mila Ferreira)
A procura também é grande pela ortopedia do Hospital Regional de Ceilândia. Há pessoas que esperam dez horas pelo atendimento - (crédito: Mila Ferreira)
postado em 28/03/2024 06:00

A epidemia de dengue e a sazonalidade das doenças respiratórias refletem nas emergências dos hospitais, com emergências lotadas e longas filas de espera. O Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib) opera com bandeira vermelha — quando o atendimento é garantido apenas a pacientes considerados graves — desde o início da semana. A Secretaria de Saúde (SES-DF) confirma que o hospital está com alta demanda. Segundo a pasta, o mesmo acontece no Hospital Regional de Ceilândia (HRC).

Para reforçar o atendimento na rede pública, a secretaria convocou, nesta quarta-feira (27/3), 200 médicos generalistas. A contratação será temporária, por seis meses, renováveis pelo mesmo período. "Essa convocação faz parte de um conjunto de ações para ampliar a capacidade de atendimento, especialmente no momento em que enfrentamos a epidemia de dengue e as doenças respiratórias", afirmou a secretária de Saúde, Lucilene Florêncio.

A fila para leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na rede pública de saúde tem 101 pacientes à espera, sendo 71 adultos, 28 pediátricos e cinco neonatais. Os dados são do painel InfoSaúde, atualizado a cada duas horas.

A dengue sobrecarrega também a rede privada. Na Rede Dasa — Hospital Brasília, no Lago Sul, e Hospital Brasília Águas Claras, por exemplo, devido ao aumento da demanda em razão da epidemia de dengue, foi estruturado um polo de atendimento especializado para os casos da doença, com aumento do quantitativo de médicos e de enfermeiros.

Problemas respiratórios

Uma dos males cuja sazonalidade começa no fim de março é a bronquiolite. A autônoma Tainara Boaventura, de 28 anos, levou a filha Ágata, 1, ao Hmib, com sintomas da doença. "Ela estava tossindo muito, com chiado no peito, sensação de cansaço e dificuldade de respiração. Está há três dias sem dormir", relatou.

Tainara chegou por volta às 11h, quando o hospital estava operando em bandeira vermelha. A autônoma conversou com o Correio às 15h e ainda não tinha sequer passado pela triagem. Foi atendida às 18h, uma espera de sete horas. "Já vim aqui outras vezes e fui embora sem atendimento", contou.

Antes de ir ao hospital, Tainara buscou a Unidade Básica de Saúde (UBS) de Taguatinga, mas informaram que o local estava sobrecarregado devido à epidemia de dengue e pediram que ela procurasse o Hmib. 

A dona de casa Cassilene de Lima Santos, 45, procurou a pediatria do Hospital Regional de Ceilândia (HRC) na tarde da última terça-feira para buscar auxílio para o neto, Ravi Luca, 1, também diagnosticado com bronquiolite. Antes, tinha tentado a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Recanto das Emas, mas foi encaminhada ao HRC. "Tentamos vir ontem, mas desistimos de esperar e fomos embora. Meu neto estava com saturação de oxigênio baixa, febre e vômito. Chegamos aqui hoje às 8h e só fomos atendidos às 16h", detalhou.

Alta demanda

O HRC também está com alta demanda na ortopedia, confirma a SES-DF. Quem precisa, enfrenta uma longa espera. Maria* (nome fictício), servidora pública, chegou ao local com dor no nervo ciático e recebeu a pulseira verde, que não sinaliza nenhuma gravidade. Ela aguardou 10 horas para chegar ao médico. "Passei pela triagem às 8h30 e até umas 16h, só estavam atendendo pulseira amarela para cima. Me juntei com outros pacientes e fui até a ouvidoria do hospital. Praticamente pedimos pelo amor de Deus para intercalarem a chamada de pacientes com a pulseira verde e a amarela. Consegui atendimento só às 18h", relatou. Segundo a secretaria, os hospitais de Taguatinga, Paranoá, Gama, Planaltina e Sobradinho também possuem emergência ortopédica.

Para aprimorar o atendimento, o HRC tem utilizado na ortopedia uma estratégia que, segundo a secretaria, vem sendo usada para o fluxo da pediatria e obtido bons resultados. "É uma rota ambulatorial rápida direcionada para os usuários com menor gravidade e reforço do atendimento nas UBS", detalha a pasta.

De acordo com a SES-DF, as bandeiras nos hospitais são reavaliadas a cada seis horas, pois o cenário pode mudar dentro desse período ou mesmo em menor tempo. Isso ocorre porque diversos fatores podem influenciar na lotação da unidade, tais como: movimentação no giro de leitos; altas precoces com encaminhamento responsável ambulatorial; e articulação com referências de emergência para atendimento do fluxo represado para UPAs, UBSs e hospitais regionais.

Os hospitais podem decretar as chamadas bandeiras para atendimento nos prontos-socorros, de acordo com a demanda recebida e a internação. Os atendimentos de emergência da rede pública do DF seguem a Portaria nº 386/17, que estabelece diretrizes de contingenciamento em caso de necessidade.

"É importante ressaltar que as bandeiras decretadas nos hospitais não afetam o atendimento nas UPAs e UBSs. Pacientes sem gravidade devem buscar atendimentos nesses locais, que são os mais adequados a quadros clínicos que não requerem urgência. Além disso, a secretaria destaca que as cirurgias eletivas e de urgência não são afetadas pela decretação de bandeiras nas unidades de saúde", enfatizou o órgão, em nota.

A secretaria reforçou ainda que a UBS é a porta de entrada para a rede pública. "As equipes de saúde da família fazem o acompanhamento em todos os ciclos de vida. Havendo necessidade de atendimento especializado, a equipe fará o encaminhamento e a UBS a inserção da solicitação no sistema de regulação", explicou.

Reforço

Para o coordenador de saúde coletiva do curso de medicina da Universidade Católica de Brasília (UCB), Roberto Bittencourt, o foco do problema está na atenção básica. "A superlotação é consequência da falta de estrutura e de pessoal nas UBSs nas UPAs", analisou. "Falta estrutura também em urgência e emergência. De acordo com a Política Nacional de Atenção Básica e a Política Nacional de Atenção às urgências, é preciso uma UBS a cada 10 mil habitantes e uma UPA para cada 100 mil. O DF conta com 174 UBSs e 13 UPAS. Há um déficit grande", completou.

Em 2023, conforme a SES-DF, foram nomeados 1.685 profissionais, sendo 747 médicos de diversas especialidades, 241 enfermeiros, 132 cirurgiões dentistas e 565 especialistas em saúde. Em 2024, foram realizados 700 novos chamamentos, sendo 90 médicos, 156 enfermeiros, 181 técnicos de enfermagem e 273 agentes de vigilância ambiental e atenção comunitária à saúde.

"Ao longo da gestão, houve a construção e a revitalização de unidades de saúde; desenvolvimento de estratégias para otimização dos processos e fluxos de trabalho. Também foi instituída a Política de Qualidade de Vida no Trabalho (PQVT), que tem por objetivo promover a atenção integral à saúde e a valorização dos servidores em sua totalidade", concluiu a pasta.

 

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