CASO MARIELLE

Caso Marielle: "A família não tem o que comemorar", diz Anielle sobre prisões

Entrevistada pelo Podcast do Correio, ministra da Igualdade Racial diz que assassinato da irmã mostra como "corpos negros são considerados descartáveis"

A ministra da Igualdade Racial foi a entrevistada do Podcast do Correio desta quarta-feira (27/3)  -  (crédito:  Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
A ministra da Igualdade Racial foi a entrevistada do Podcast do Correio desta quarta-feira (27/3) - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
postado em 27/03/2024 22:44 / atualizado em 27/03/2024 23:47

Uma semana depois da prisão de três envolvidos no assassinato da vereadora Marielle Franco, em 2018, a ministra Anielle Franco, da Igualdade Racial, diz que a família "não tem o que comemorar". Em entrevista ao Podcast do Correio, nesta quarta-feira (27/3), a ministra diz que a morte da irmã é a "prova legítima da violência política do país".

"É a prova de que, muitas vezes, os corpos negros são considerados corpos descartáveis”, diz Anielle, em entrevista aos jornalistas Carlos Alexandre de Souza e Rosane Garcia, do Correio Braziliense

Diante dos últimos desdobramentos do caso Marielle, Anielle conta que a família Franco tem vivido um turbilhão de sentimentos. “É inadmissível a gente entender e acatar o motivo pelo qual a Marielle foi assassinada, e que tenha sido por ela lutar por justiça social e defender as pessoas que mais precisam nesse país”, relembra.

“A família não tem o que comemorar”, acrescenta Anielle. A irmã de Marielle reconhece o passo de progresso do trabalho da Polícia Federal, mas diz que é difícil celebrar a prisão dos culpados, uma vez que Marielle continua morta.

“Eu consegui entender a gravidade do crime, a importância de termos chegado onde chegamos depois de seis anos e 10 dias, onde a gente teve uma resposta que é primordial. Mas eu acho que a democracia brasileira não tem o que celebrar com uma vereadora negra sendo assassinada com cinco tiros na cabeça e três tiros no corpo, embora, eu repito, a mistura de sentimentos e a importância de estarmos aqui hoje, 27 de março, falando sobre isso seis anos depois”, pontua Anielle.

Em relação ao caso, a ministra analisa a existência de uma tríade de personagens que fizeram com que o crime ocorresse. “O que a gente pode observar é um delegado, um político e alguém para executar. A Polícia Federal tem esse relatório, esse depoimento e essa delação que demonstram que eram três camadas para que se chegasse no crime, mas também para que se mantivesse impune”, avalia.

Programa Juventude Negra

Chefe da pasta da Igualdade Racial, a ministra Anielle Franco detalhou algumas ações do ministério. Durante a entrevista, que ocorreu no dia do aniversário de 53 anos de Ceilândia, Anielle destacou o lançamento do programa Juventude Negra, que ocorreu na cidade mais populosa do DF. "A gente escolheu a Ceilândia, e levamos o presidente Lula pela primeira vez naquele lugar, com dois mil jovens, para que a gente pudesse fazer o plano (da Juventude Negra) a várias mãos. Nós já fomos jovens, então a gente sabe o que cada jovem quer. Para fazer um plano que hoje tem 400 páginas, com 18 Ministérios no total e todo mundo assinar e se comprometer à frente do presidente, eu precisava ouvir os jovens", explica a ministra.

O lançamento do programa, que ocorreu no último dia 21, em Ceilândia, com Lula. O projeto conta com participação de 18 ministérios, envolvidos em 217 ações que terão orçamento de R$ 665 milhões. 

O plano foi construído com participação de mais de 6 mil brasileiros. Anielle detalhou as maiores reinvindicações apontadas pelos jovens ouvidos para a criação do programa: "empregabilidade, saúde e se manter vivo". "A gente precisa fazer com que isso vire concreto. Tem que ser algo que, daqui a pouco, esteja na boca de todo mundo. Reconhecer esse gargalo foi importante, mas ter parceria para fazer, também", diz a ministra.

"Não posso vir aqui e não falar sobre isso, porque a questão da saúde da população negra é uma reivindicação de muitos anos de movimento negro, e a Nísia (Trindade, ministra da Saúde) traz isso para o gabinete dela e acolhe. E agora tem um plano nacional para a saúde mental dos jovens negros, principalmente para os homens. É um leque, para que a gente possa, de fato, levar para a juventude deste país e esperança de vida, seja com bolsas, seja com intercâmbio, seja com acesso à saúde, à empregabilidade", completa.

Na entrevista ao Podcast do Correio, Anielle ainda falou de temas como a projeto de lei sobre cotas para negros, a representatividade na política e o letramento racial para a polícia. Ouça a íntegra do programa: 

 


*Estagiária sob supervisão de Pedro Grigori

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