Cidades

Justiça marca próxima audiência de religiosos de Formosa para fevereiro

Nesta sexta-feira (9/11), dez testemunhas de defesa compareceram ao Tribunal do Júri da região

Walder Galvão - Especial para o Correio
postado em 09/11/2018 21:17
Formosa
O Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) interrogou dez testemunhas de defesa dos religiosos acusados de desviar mais de R$ 2 milhões dos cofres das 33 paróquias vinculadas à Diocese de Formosa. A quarta audiência do caso aconteceu na manhã desta sexta-feira (9/11) no Tribunal do Júri da Região. Agora, a próxima sessão ficou marcada para às 8h30 de 5 de fevereiro.

Conforme a audiência anterior, realizada em 10 de outubro, os interrogados falaram sobre a conduta dos réus e ressaltaram que eles eram pessoas de confiança. Em fevereiro, a última testemunha de defesa será ouvida, o padre João Assunção, pároco da Paróquia Santo Expedito de Formosa. De acordo com a investigação, o sacerdote deve ser a aposta dos advogados os réus e ele deve irá se contrapor contra o depoimento dos outros padres que acusaram os religiosos durante as últimas sessões.
Deflagrada em 19 de março, a Operação Caifás, do Ministério Público de Goiás (MPGO), investiga suposto esquema criminoso que faturou dinheiro arrecado em eventos promovidos pela Igreja Católica. À época, 11 pessoas foram acusadas, inclusive o bispo da região, dom José Roberto Ribeiro.
Douglas Chegury, promotor do MPGO à frente do caso, explica que, a próxima audiência ficou para fevereiro porque a defesa aguarda o recebimento de precatórias que serão colhidas em Iaciara (GO) e Planaltina de Goiás, além do período de recesso do fim do ano. "Em seguida, o juiz deve dar início ao interrogatório dos réus. Eles devem ser escutados em dias consecutivos, sem grande intervalo entre uma audiência e outra", explica.

De acordo com o promotor, a expectativa é de que a conclusão das audiências ocorra em março do próximo ano e a sentença em abril. "Caso sejam condenados, ainda cabe recurso para que o processo seja julgado em outras instâncias, como no Tribunal de Justiça", esclarece.

Um dos advogados que compõe o grupo de defesa dos religiosos, Bruno Opa acredita que até o fim do processo os réus serão inocentados. ;Cada vez fica mais clara a inocência dos nossos clientes. Estamos satisfeitos com o andamento processual e com as provas produzidas, que foram até o momento favoráveis aos réus;, frisou.

Além do bispo, são acusados: Thiago Wenseslau, juiz eclesiástico; Waldson José de Melo, pároco da Paróquia Sagrada Família, em Posse; Guilherme Frederico Magallhães, secretário da Cúria de Formosa; Darcivan da Conceição Serracena, funcionário da Diocese de Formosa; Edmundo da Silva Borges Junior, advogado da Diocese de Formosa; Pedro Henrique Costa Augusto e Antônio Rubens Ferreira, empresários apontados como laranjas do esquema; Mario Vieira de Brito, pároco da Paróquia São José Operário, em Formosa; Moacyr Santana, pároco da Catedral Nossa Senhora da Imaculada Conceição, em Formosa; Epitácio Cardozo Pereira, vigário-geral; e José Ronaldo Ribeiro, bispo de Formosa.

Papa aceita renúncia

Em 12 de setembro deste ano, o bispo dom José Ronaldo Ribeiro, acusado de ser mentor do esquema, renunciou ao cargo. A Nunciatura Apostólica no Brasil comunicou a decisão, acatada pelo papa Francisco. Em 9 de setembro, a defesa de dom José solicitou ao juiz permissão para ele se mudar para Brasília, já que o TJGO havia decidido que o bispo não poderia sair da comarca de Formosa. A Justiça concedeu o pedido, e o réu se mudou para Sobradinho, onde residem familiares dele.

Com a saída de dom José, o bispo interventor dom Paulo Mendes Peixoto assumiu a Diocese de Formosa como administrador apostólico. De acordo com a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ele acumulava duas funções e não deixará de realizar as pendências de Uberaba, onde atua como arcebispo.

Mesmo com a renúncia, dom José permanece como bispo emérito. A Diocese de Formosa informou que a renúncia foi apenas do ofício de bispo e que ele ainda mantém o vínculo com a Igreja.

Operação Caifás


Deflagrada em 19 de março, a Operação Caifás, a cargo do Ministério Público do Estado de Goiás, investiga 11 pessoas por desvios de mais de R$ 2 milhões dos cofres da Igreja Católica. A suspeita é a de que eles tenham adquirido propriedades, veículos e joias com dinheiro pago pelos fiéis em casamentos, batizados e eventos promovidos pelas paróquias e cujos preços foram reajustados.

Assim que a operação foi deflagrada, nove dos acusados permaneceram presos por quase 30 dias, mas, na terceira tentativa, conseguiram habeas corpus impetrado no TJGO. Eles respondem por apropriação indébita, associação criminosa e alguns por lavagem de dinheiro.

Em 5 de setembro, advogados de seis dos réus encaminharam um pedido ao TJGO um pedido para cancelar a ação penal e impedir que o processo continue. A justificativa era de que a verba seria privada e os religiosos poderiam dar qualquer finalidade a elas. No entanto, em 11 de setembro, a desembargadora Carmecy Rosa Maria Alves de Oliveira indeferiu o pedido de forma preliminar. Agora, a liminar tramita na 2; Vara Criminal de Formosa, onde o mérito será julgado.

Entre as alegações dos advogados, está a afirmação de que a denúncia "é uma verdadeira peça de ficção produzida desde as investigações exclusivas realizadas pelo Ministério Público, como que buscando transformar atividades corriqueiras do exercício religioso e sua gestão interna em tipos penais alheios à atividade da Igreja Católica".

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