Cidades

Após críticas, Zoológico explica procedimentos feitos com a tigresa Maya

A felina passou por três cirurgias e uma contenção de danos, em menos de um mês. Ela saiu da UTI e apresenta melhoras na saúde. Uma transfusão de sangue do irmão dela, o tigre branco Dandy, pode ter ajudado. Ele morreu no último domingo (29/9)

Caroline Cintra
postado em 02/10/2019 17:00
A tigresa branca do Zoológico de Brasília, Maya, passou por três cirurgias e um procedimento de contenção de danos, em menos de um mês A tigresa branca do Zoológico de Brasília, Maya, apresentou melhoras no quadro de saúde. Após passar por três cirurgias e um procedimento de contenção de danos, em menos de um mês, a felina saiu da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na manhã desta quarta-feira (2/10). Depois de receber críticas por suspeitas de maus tratos com o animal, a equipe técnica da fundação esclareceu todos os procedimentos realizados com ele até hoje.

De acordo com a explicação de veterinários e voluntários do zoo, em 12 de setembro, Maya passou por exames de rotina ;realizados anualmente com os animais ; e em uma ultrassonografia foi detectada uma alteração no útero dela. Imediatamente, a equipe agendou uma cirurgia para dois dias depois. Em 14 de setembro, ela passou pelo procedimento de retirada do órgão. "Ela respondeu bem ao pós-operatório. Ficou no recinto dela (no hospital veterinário do Zoológico) contida. Ficou um pouco nervosa, mas conseguimos aplicar os medicamentos necessários para a recuperação", explicou a diretora do hospital veterinário, Betânia Borges.

Cinco dias após a cirurgia, um líquido, proveniente do rompimento dos pontos, começou a sair do abdômen da tigresa. Ela precisou passar por uma nova operação. Desta vez, quem coordenou a cirurgia foi o veterinário da Polícia Militar Carlos Henrique Saquetti. O procedimento foi realizado em 20 de setembro. "Ela passou pela anestesia e no centro cirúrgico observamos que mais de 1 metro do intestino dela estava comprometido. Precisamos fazer a remoção dessa parte e, posteriormente, unir uma ponta a outra. A parede do intestino dela estava bastante inflamado e tivemos dificuldade para fechar", contou. Dias depois a região abdominal da tigresa apresentou uma nova ruptura.

Para o intensivista veterinário e parceiro do Zoológico Rodrigo Rabelo vários fatores podem ter gerado o desligamento dos pontos no abdômen de Maya, entre eles a dificuldade na cicatrização, que, segundo ele, é algo individual e frequente. "Ela teve um decaimento e não respondia ao esperado. Vários fatores conduziram para a piora. Antes de uma nova cirurgia, ela passou por uma contenção de danos, um procedimento que não é um cirurgia completa. Foi preciso para sabermos se seria necessário fazer uma nova operação", explicou.

Em 26 de setembro, Maya passou pela terceira operação. "Era uma cavidade muito grande aberta, sem condições de reunião. Tivemos que tomar uma decisão em conjunto e fizemos algo inédito, que nunca tinha sido feito no mundo. Realizamos a mesma cirurgia que o presidente Bolsonaro fez quando foi esfaqueado. Desde então, ela é tratada com se fosse nossa presidente, com mimos e os melhores equipamentos", contou Rodrigo.
Equipe técnica do Zoológico explicou todos os procedimentos realizados com a tigresa branca Maya, desde que foi descoberta uma alteração no útero dela

Transfusão de sangue

Após três dias da terceira cirurgia, Maya teve uma recaída e precisou, urgentemente, de uma transfusão de sangue. Assim como é exigido para os humanos, ela precisava da doação de um animal da mesma espécie, e levaram o irmão dela, o tigre branco Dandy, para fazer a doação. Eram necessários 2 litros do material. No entanto, durante o procedimento, os veterinários identificaram um retorno lento do macho e, por meio dos monitores e dos equipamentos médicos, perceberam que ele também não estava bem de saúde.

"Não foi coletado a quantidade de sangue que programamos. Conseguimos retirar 50% do que era necessário para a Maya ficar bem, 1 litro. Esse sangue salvou a vida dela", afirmou a veterinária Luísa Helena Rocha. Como já tinha feito a coleta de sangue de Dandy, uma amostra foi levada para o laboratório do hospital veterinário do Zoológico. A suspeita inicial era algum problema nos rins. Na última terça-feira (1;/10), saiu um resultado que apontou insuficiência renal.

"Animais silvestres dissimulam muito a condição de saúde. Isso é necessário para que não se tornem uma presa. A gente lida com isso todos os dias. A Maya também não tinha manifestado uma infecção no útero. Se ela não tivesse sido examinada, é possível que ela teria vindo a óbito. O Dandy não tinha manifestação clínica de nenhum problema. Por isso, não identificamos antes", contou Luísa.
O tigre branco Dandy morreu no último domingo (29/9). O Zoológico aguarda o laudo que confirmará a cauda da morte

Morte de Dandy

A equipe técnica assegurou que Maya não tinha condições de sair da mesa de cirurgia sem passar por uma transfusão. Como Dandy vivia com a irmã e o procedimento exigia urgência, decidiram levá-lo para o centro cirúrgico. Segundo os veterinários, um dia após a doação do sangue, o animal acordou normal da sedação. No entanto, no domingo (29/9), amanheceu apático. A equipe foi examiná-lo e, para se aproximar do tigre, foi preciso uma contenção física. "Ele estava nervoso, começou a empurrar a grade com a cabeça. Tentamos dar medicação com dardos, mas não adiantou. Na hora, ele veio a óbito", disse a veterinária.

A causa da morte de Dandy ainda não foi confirmada. O Zoológico aguarda o resultado do laudo, que sai em 30 dias. Ao que tudo indica, o animal teve uma insuficiência renal e já sofria com os sintomas há alguns dias. Além disso, a idade dele, 10 anos, pode ter influenciado na morte. A idade média de vida de um tigre branco é de 12. Ele foi o quinto animal de grande porte a morrer no Zoológico de Brasília este ano. Ao todo, morreram 53, afirmou a superintendente de conservação e pesquisa, Ana Raquel Faria.

"Hoje, trabalhamos com quase 1 mil animais no Zoológico. A maior parte são aves, seguido por mamíferos e répteis. São cerca de 170 espécies diferentes. Grande parte é do próprio cerrado. Várias delas estão ameaçadas. Aqui não trabalhamos com reprodução. Os tigres brancos, por exemplo, foram reproduzidos em um grupo pequeno. Maya e Dandy vieram de um zoológico da França e não poderiam colocá-los para reproduzir, devido os riscos, já que eram irmãos", explicou Ana Raquel.

Recuperação

Maya está em um recinto separado no hospital veterinário do Zoológico. Para garantir uma boa recuperação, ela passa por exames diariamente, além de uma dieta própria para ela. "Ela está estável e consciente. Andando dentro do seu espaço, como uma princesa. Ela está com uma bolsa de colostomia, uma sonda no pescoço, por onde se alimenta e um cateter, que é por onde passamos a medicação, como antibiótico e analgésico. Nós estamos felizes com os resultados, nos dá muita esperança e esperamos por um final feliz. Ainda temos muito trabalho pela frente", afirmou Rodrigo.

Memória

Setembro 2019

O animal morreu no último domingo (29/9). A equipe do Zoológico aguarda resultado do laudo, que confirmará a causa da morte do felino. Na quinta-feira (26/9) ele passou por uma transfusão de sangue, doado para a irmã, Maya, que passou por três cirurgias em decorrência de uma infecção no útero.

Março 2019
Morreu em 9 de março de forma súbita. Dois dias antes, ele passou por uma cirurgia de retirada de catarata luxada. O procedimento tinha o intuito de evitar glaucoma e uma possível cegueira. O animal nasceu no Zoológico de Brasília em julho de 2008. Também era chamado de Vingador Júnior, já que o pai se chamava Vingador.

Março de 2018

A girafa Yvelise morreu na noite de 23 de março de 2018, devido uma necrose no cólon causada pela torção de uma das alças intestinais. Segundo veterinários, três dias antes, ela se apresentou apática e com falta de apetite. Exames apontaram que o animal estava com alterações renais e desidratação. Ela precisou passar por uma cirurgia, mas não resistiu. Yvelise tinha 7 anos.


Janeiro de 2018

Em 7 de janeiro de 2018, o Zoológico de Brasília perdeu o elefante Babu. Ele não resistiu a uma parada cardiorrespiratória. O animal tinha 25 anos e há 22 era um dos animais mais famosos da fundação. De acordo com os tratadores., a morte foi repentina. Ele chegou no zoo em 1995 e nunca havia ficado doente.

Setembro de 2017
O felino morreu em 22 de setembro de 2017, aos 16 anos. Segundo o Zoológico, ele sofreu de insuficiências cardíaca e renal. Rabisco nasceu na fundação em 2001 e fazia parte da segunda geração de tigres-de-bengala gerada no Distrito Federal.

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