Cidades

Cigana Milena: 'Perdi meu pai com câncer e tudo o que tinha', relata vítima

A mulher, uma das vítimas mais antigas da suspeita de estelionato, perdeu R$ 110 mil. O caso ocorreu em dezembro do ano passado

Correio Braziliense
postado em 17/07/2020 18:35
Cigana Milena é acusada de obter mais de R$ 200 mil em golpes“Caí no golpe quando meu pai estava em tratamento de câncer e estava desempregada. Era um momento extremamente difícil da minha vida, e me deixei levar. No fim de tudo isso, me vi sem meu pai, que faleceu de câncer. Minha mãe deixou de falar comigo porque perdi o dinheiro. No fim, perdi tudo o que tinha.” Esse é o relato emocionado de uma das vítimas mais antigas da investigada Cigana Milena, acusada de aplicar golpes de “benzimento de dinheiro” em pelo menos cinco mulheres do Distrito Federal e outros estados da Federação. Os prejuízos passam de R$ 200 mil.

Fernanda* procurou os serviços da Cigana Milena (leia referência) em dezembro de 2019, após assistir a um vídeo de um famoso no Instagram, sugerindo o trabalho da acusada. Passando por um momento de dificuldade financeira e emocional, a mulher decidiu realizar um jogo de tarot com a suspeita, que é procurada pela Polícia Civil do Estado de São Paulo.

“À época, tínhamos feito um empréstimo para o tratamento do meu pai, e estávamos fazendo de tudo para que ele conseguisse vencer a doença. Foi quando comecei a conversar com a Cigana Milena e fiz o jogo de tarot. Após a consulta, ela passou a dizer que eu estava com um dinheiro amaldiçoado, e isso estava travando a minha vida”, conta.

Acreditando que o trabalho espiritual poderia abrir os caminhos, Fernanda transferiu R$ 10 mil para uma conta bancária determinada pela investigada. “A partir daí, ela passou a me atormentar ininterruptamente. Não tive um momento de descanso para colocar a minha cabeça no lugar e poder refletir sobre tudo o que estava escutando dessa mulher. A cada telefonema, ela me oprimia. Dizia que nada poderia ser feito para quebrar a maldição, pois os Orixás sabiam que eu tinha mais dinheiro e estava sendo desonesta”, relata. 
 
Ela oferece os serviços de amarração, cura espiritual e prosperidade financeira 

“Fiquei muito temerosa com o que escutava, e acabei transferindo outras quantias. Até totalizar os R$ 110 mil. Quando passei a cobrar o retorno do dinheiro é que percebi que havia caído em um golpe. Nessa hora, o meu mundo desabou, porque estava desempregada e havia passado um montante oriundo de empréstimo”, desabafa.

Desesperada, Fernanda continuou procurando Cigana Milena e pedindo os valores. “Eu ligava, explicava, em lágrimas, o quanto aquele dinheiro era importante. Era uma quantia que não era apenas para me ajudar, havia outras pessoas que seriam envolvidas naquilo tudo. Mas, mesmo assim, não adiantou. No fim das contas, perdi meu pai. Mas também perdi a minha mãe, que não fala mais comigo e perdeu toda a confiança em mim. Sei que errei, mas também fui uma vítima, como todas as outras. Ainda pago um preço muito alto, até hoje”, diz Fernanda, emocionada. 

Investigação

Na noite de quinta-feira (17/7), a Polícia Civil do Estado de São Paulo confirmou que investiga Cigana Milena, por meio do 7º Distrito Policial (DP), localizado na região da Lapa, no estado. A suspeita está identificada e é procurada pela corporação, que tinha recebido duas denúncias. 

As ocorrências registradas no 7º DP são da moradora do Distrito Federal, que perdeu R$ 82 mil, e de uma mulher residente do Maranhão, que teve um prejuízo de R$ 19 mil. Ainda pela noite, as demais três vítimas também registraram os crimes de estelionato na unidade policial, por meio da Delegacia Eletrônica. 

Fernanda ficou emocionada com as notícias da busca pela Cigana Milena: "Depois de tanto tempo, pude ver que ela ainda pode pagar pelos crimes que cometeu. Espero que a Justiça seja feita e o desfecho dessa história possa me ajudar a reconquistar minha família.”

Referência

A indicação de “cigana” no nome faz referência à entidade que se manifesta na Umbanda, mas também em algumas casas de Candomblé — locais que tratam com seriedade a religiosidade —, e não ao povo cigano. 

O Correio entrevistou Rafael Moreira, presidente da Federação de Umbanda e Candomblé de Brasília e Entorno. Ele destacou que, apesar da acusada se auto denominar praticante da religiosidade afro brasileira, “para ser sacerdotisa, não basta se auto intitular". "É preciso anos para se tornar um sacerdote, os pais e mães de santo. Pedimos, a quem procurar um atendimento espiritual, que busque a Federação, que indicaremos casas que têm o verdadeiro compromisso com o espiritual. É muito prático alugar uma sala no Setor Comercial Sul, por exemplo, fechar e mudar, após realizar os golpes. O terreiro, não”, explica.

Veja a entrevista na íntegra:


*Nome fictício

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