Diversão e Arte

Música instrumental: Conheça nova safra de artistas do gênero

A capital mantém a tradição de formar grandes nomes da música instrumental

Lucas Santin*
postado em 23/05/2018 07:00
Banda Aiure
A música instrumental é colocada em segundo plano por produtores e até por parte do público, que não gosta do estilo e considera ;música para músico;. O guitarrista Lucas Pacífico, da banda brasiliense Aiure, comenta que é difícil ter espaço em eventos: ;É complicado, colocam a gente para tocar no início do evento porque acham que vai cortar o clima;. Apesar disso, o músico revela que o público gosta dos shows e até ;canta as melodias;. Pacífico não se conforma com o estereótipo de música setorizada e considera que a música instrumental seja apenas música sem letra.
Recentemente, a banda A Engrenagem foi convidada para tocar em um festival em Goiânia. O guitarrista Henrique Alvim conta que o show foi bom e a banda bem recebida pelo público. Entretanto, destaca que a programação principal tinha apenas uma banda instrumental, mostrando a diferença em relação ao espaço dado à música com letra.

Ambas as bandas são formadas por músicos jovens. Henrique explica que, no início, A Engrenagem tinha um estilo mais próximo do jazz, e isso distanciava a banda do público da idade dos membros. ;Queríamos trazer a nossa geração para os nossos shows, então transformamos o som em algo mais moderno;, declara o guitarrista. Segundo ele, atualmente, a idade do público varia entre 22 e 35 anos, mas tanto o público quanto som da banda ainda estão em transformação.

A banda Funquestra: boa receptividade nos shows pela cidade
O baterista Bruno Gafanhoto, da banda Funqquestra, tem visão otimista acerca da música instrumental. ;Apesar de ainda ter um pouco de preconceito, estamos em ascensão;, afirma. Ele acredita que os estereótipos estão se perdendo. Estudioso da música, Gafanhoto observa que, antigamente, a música instrumental era popular e acessível. Segundo ele, isso está voltando: ;Bandas como Muntchako e A Engrenagem são exemplos de popularização da música instrumental;.

Bruno prefere não atribuir ;dificuldades extras; à música por ser instrumental. Ele considera que haja uma contradição entre o gosto do público pelos dois estilos: ;Se você não gosta da letra de uma música, você nem ouve. A instrumental apenas passa a mensagem de forma diferente;. Gafanhoto percebe uma grande diversidade de pessoas no show da Funquestra. ;Na música instrumental, as pessoas vão ao show porque gostam do som;.

Dificuldades


A queixa de algumas bandas sobre as produções de eventos com música instrumental é exemplificada por Henrique Alvim. ;Brasília, atualmente, não tem muitos lugares com estrutura boa para receber shows;, afirma. O guitarrista observa ainda a ausência do Teatro Nacional e do espaço Renato Russo. Este, segundo Alvim, é alvo de discussões: ;O espaço Renato Russo vai ser aberto, mas parece que não vai ter estrutura adequada para a música instrumental;.
Sobre a dificuldade na recepção da música instrumental, muitas vezes relacionada à sofisticação, o pianista carioca Chico Adnet cita o grupo do qual participava durante a década de 1980. ;Cantávamos muitas músicas mais voltadas para o erudito, mas o público não se importava. Eles ouvem o que gostam, não se preocupam em rotular;.

Ele observa, ainda, que há uma dificuldade com a música autoral. ;O dono de um bar sabe que o colocar um cover para tocar vai atrair um público maior;, considera. Por isso, em 2014, Henrique e outros artistas brasilienses criaram a produtora Tangram, um coletivo que promovia eventos com música autoral na cidade. Apesar disso, Alvim acredita que está em uma boa geração de músicos, que produzem e aproveitam oportunidades.

Criação


O Clube do Choro é uma das casas famosas em Brasília por abrir espaço para músicos instrumentais. Pela música instrumental ser ainda estigmatizada, as casas de show e bares não promovem muitos shows. Bruno Gafanhoto incentiva a mudança: ;Precisamos transformar o diferente em diferenciado;.

Bruno Gafanhoto conta que a criação de música instrumental ocorre quase sempre da mesma forma que a música com letra. ;Tenho uma música chamada O canguru, foi feita para um colega australiano. Se você reparar, o som dos instrumentos dá sensação de estar pulando;, destaca. Não enche foi feita por Gafanhoto em um momento de raiva. ;Essas músicas sempre têm uma inspiração;, constata.

* Estagiário sob a supervisão do subeditor Severino Francisco

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