Roberto Fonseca
postado em 17/05/2019 06:00
Os atos contra o bloqueio de verbas das universidades públicas nas principais cidades do país sacudiram Brasília. Não só por causa do protesto que reuniu cerca de 6 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios, que terminou em confronto com a Polícia Militar e com a prisão de três manifestantes, mas principalmente pelos efeitos políticos da presença de professores, estudantes e servidores da educação nas ruas para demonstrar indignação contra o contingenciamento imposto pelo governo.
Desde o meio da tarde de quarta-feira, auxiliares do presidente avaliam o efeito das manifestações. No Planalto, há a sensação de que a declaração de Jair Bolsonaro sobre os ;idiotas úteis; nas universidades ajudou a inflamar os protestos. "São uns idiotas úteis, que estão sendo usados como massa de manobra por uma minoria espertalhona", afirmou o presidente, logo que desembarcou em Dallas, no Texas, para receber o prêmio de personalidade do ano da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos.
A preocupação entre interlocutores do Planalto, no entanto, vai além da educação. Existe o receio de que uma onda de protestos de outras categorias pinte nos próximos meses, principalmente por conta da projeção feita por analistas do mercado financeiro de que a atividade econômica vai desacelerar, correndo o risco de ficar perto da estagnação. Um sinal claro disso é o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado a prévia do PIB, que recuou 0,68% no primeiro trimestre, em comparação com os três últimos meses de 2018.
Ou seja, há a preocupação de que o PIB no vermelho afete ainda mais o capital político de Bolsonaro para aprovar a reforma da Previdência. Esse foi, inclusive, um dos três motivos que levaram a Bolsa a fechar nesta quinta-feira no menor índice desde o início do governo, e com o dólar cotado a R$ 4,03, o maior valor desde as eleições ; os outros dois foram o risco de rompimento de nova barragem da Vale e a tensão na relação comercial entre EUA e China.
Em meio ao turbilhão no mercado, o presidente em exercício, Hamilton Mourão, por sua vez, buscou passar uma mensagem de otimismo. Disse que as manifestações de quarta-feira não desestabilizam o governo e que vem aí uma melhoria no ambiente econômico, com a aprovação da reforma da Previdência no segundo semestre. "Final de julho, início de agosto irão mudar as expectativas econômicas e a vida vai seguir." Vamos aguardar os próximos capítulos.