A exibição do capítulo que marcou a morte de Odete Roitman no remake de Vale Tudo pela TV Globo, transmitido no Brasil em 6 de outubro de 2025, rapidamente se tornou um dos assuntos mais comentados. O episódio trouxe à tona questões profundas sobre memória afetiva, tradição da teledramaturgia e a delicada missão de atualizar clássicos para novos públicos. O debate ganhou intensidade após o pronunciamento de Edgar Moura Brasil, viúvo do autor original Gilberto Braga, expôr o distanciamento entre a intenção da adaptação e a à história original.
Edgar Moura Brasil verbalizou críticas duras após a exibição do desfecho trágico da icônica vilã Odete Roitman, agora vivida por Débora Bloch. Em conversa com a jornalista Mônica Bergamo, Edgar lamentou que a releitura não tenha respeitado os elementos essenciais da novela consagrada em 1988. Segundo ele, a obra perdeu seu caráter singular.

Qual foi o impacto da morte de Odete Roitman no remake de Vale Tudo?
O assassinato da vilã, cena aguardada desde o início, alcançou recorde de audiência e reacendeu discussões históricas sobre representatividade na teledramaturgia. No entanto, a repercussão não se limitou apenas ao público: especialistas e críticos de televisão analisaram tanto o sucesso de audiência quanto as críticas à abordagem contemporânea. Para parte dos fãs, a construção da nova Odete se distanciou do perfil calculista e sofisticado apresentado originalmente por Beatriz Segall. A decisão de transformar a personagem em uma antagonista desequilibrada, quase uma serial killer, dividiu opiniões e provocou reações imediatas nas redes sociais.
Edgar Moura Brasil foi especialmente enfático ao rejeitar a ideia de que Manuela Dias, autora da adaptação, teria humanizado Odete Roitman. Ele argumentou que humanizar não equivale a simplificar ou reduzir a profundidade psicológica da vilã. Para ele, a personagem criada na década de 1980 já possuía dimensão humana suficiente, pois demonstrava preocupação com os filhos e jamais colocaria interesses pessoais acima da vida de um familiar. A nova caracterização, na visão de Edgar, descaracterizou uma das maiores vilãs da televisão ao desconsiderar esse equilíbrio entre maldade e humanidade.
Como a crítica especializada avaliou a nova versão da novela?
Desde a estreia, a novela dividiu a crítica e alimentou o debate sobre o que define sucesso em remakes de clássicos. Especialistas em teledramaturgia destacaram que a atualização do enredo incorporou temas sociais do século 21, como diversidade e empoderamento, mas também suavizou contradições e apagou tensões de classe que marcaram a obra original. Maurício Stycer, por exemplo, pontuou que, embora a narrativa tenha se modernizado, o retrato das diferenças sociais foi apresentado de forma discreta, o que, para alguns, retirou o tom crítico e crítico-social tão forte na versão de 1988.
Outros apontamentos sugerem que a opção por um tom mais leve e cômico retirou a densidade dos personagens, especialmente nas cenas mais sérias. Essa estratégia, defendida pela autora como uma tentativa de adequar o clássico ao público atual, não agradou parte dos espectadores. O remanejamento de personagens e a criação de núcleos inéditos intensificaram o debate.

Por que o remake de Vale Tudo gerou tanta controvérsia?
As adaptações, quando confrontam legados de grande apelo popular, invariavelmente enfrentam comparações. No caso de Vale Tudo, o legado envolve não só a dramaturgia, mas a própria cultura brasileira, marcada por bordões, personagens icônicos e discussões morais profundas. As críticas de Edgar Moura Brasil resumiram o descontentamento de muitos: para ele, o remake simplificou personagens, esvaziou diálogos e subverteu a proposta original, tornando a nova versão desconexa. O público também demonstrou frustração, expressando insatisfação em plataformas, chegando a solicitar a saída da autora Manuela Dias.
- Mudança no perfil da vilã Odete Roitman, mais impulsiva e perturbada
- Redução da acidez e do realismo nos diálogos
- Introdução de novos personagens e enredos
- Atualização considerada superficial por parte dos fãs
A Globo respondeu apenas por meio do serviço de atendimento, agradecendo o feedback, mas não anunciou mudanças na equipe de roteiro. Internamente, a orientação era evitar polêmicas públicas, prática já adotada em outras produções da emissora. O posicionamento do elenco, somado a episódios de bastidores rumorosos, ajudou a alimentar o noticiário em torno da novela.
Quais são os principais desafios em adaptar novelas clássicas?
O caso da morte de Odete Roitman no remake de Vale Tudo trouxe à tona os dilemas enfrentados por roteiristas e produtores ao revisitar grandes títulos da TV brasileira. A questão central envolve equilibrar respeito pela memória afetiva do público com a necessidade de dialogar com novas gerações. Remakes, sobretudo de telenovelas marcantes, exigem escolhas difíceis: atualizar temas sociais, diversificar elencos e incluir debates contemporâneos sem perder o impacto dramático e a coerência narrativa que tornaram a obra um clássico. O episódio reflete o cuidado necessário ao trabalhar com enredos, personagens e conflitos já consagrados.
- Respeitar referências originais, sobretudo em papéis icônicos
- Criar situações atuais sem esvaziar a crítica social
- Valorizar a complexidade dos personagens centrais
- Dialogar com fãs antigos sem alienar o público novo
A morte permanece como exemplo de como a abordagem de clássicos pode fomentar debates relevantes sobre arte, cultura e memória, ao mesmo tempo em que revela a paixão do público pela teledramaturgia. O fenômeno reafirma o desafio contínuo imposto a autores e produtores diante do legado das grandes novelas do país.











