VACINA

Suspensão dos testes da CoronaVac repercute na imprensa internacional

Especialistas analisam a decisão da Anvisa no país como "alarmante" e lamentam politização do imunizante

Carinne Souza*
postado em 10/11/2020 19:57 / atualizado em 10/11/2020 20:29
 (crédito: Wang Zhao/AFP - 24/9/20)
(crédito: Wang Zhao/AFP - 24/9/20)

Após a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em suspender os testes da CoronaVac no Brasil, produzida pela farmacêutica Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, a imprensa internacional repercute o assunto. Em seu Facebook, o presidente Jair Bolsonaro comemorou a decisão e a encarou como uma vitória em relação ao governador do estado de São Paulo, João Doria. O estado estava conduzindo os testes.

No post em que comemora a decisão, Bolsonaro escreveu: "Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Doria queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la. O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha". O Butantan garantiu, contudo, que a morte do paciente e voluntário dos testes não tinha qualquer relação com a vacina. O laudo divulgado pelo Instituto Médico Legal (IML) confirmou a informação e apontou morte por suicídio.

A imprensa internacional enxergou o movimento como uma "crise política". Segundo o espanhol El País, "na reta final das eleições municipais 2020, o Brasil volta a se ver envolvido em uma crise política relacionada à pandemia do novo coronavírus".

The New York Times questionou a decisão de suspender os testes: "Mas a culpa foi da ciência ou da política?" O jornal americano também enfatizou que o ocorrido reflete alguns dos problemas que a vacina chinesa tem enfrentado ao redor do mundo e também no país sulamericano. "No Brasil, os julgamentos foram politicamente tensos, já que partidários do presidente Jair Bolsonaro, que minimizou a ameaça e culpou a China pela pandemia, os criticaram", escreveu o jornal. O texto lembrou ainda que o estado de São Paulo, o mais populoso do país, é governado pela oposição de Bolsonaro e que, por isso, "os julgamentos ocorreram principalmente na região".

The Washington Post publicou que, embora tenha suavizado as críticas, a desconfiança de Bolsonaro em relação à China é vista desde a campanha eleitoral do presidente em 2018. E que a decisão pela suspensão pode ter cunho político já que "o governador do estado produtor da vacina, o de São Paulo, João Doria, é um rival político e um crítico ferrenho da resposta pandêmica do presidente", escreveu o jornal americano.

A emissora inglesa BBC também falou sobre o assunto e relembrou a rejeição do presidente pela vacina chinesa. "O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, tem sido claro sobre sua preferência pela vacina que está sendo desenvolvida pela AstraZeneca, dizendo que seu governo não compraria a vacina contra covid-19 de fabricação chinesa".

“Situação alarmante”

Especialistas do mundo inteiro dizem que interrupções em fases de teste são comuns quando se trata de medicamentos e vacinas. Milhares de voluntários são submetidos à testagem e, provavelmente, alguns apresentam efeitos colaterais entre médios e graves. A AstraZeneca e Johnson & Johnson, que também estão testando uma vacina contra a covid-19, pararam a testagem por mais de um mês. A decisão foi tomada depois que vários voluntários adoeceram e, somente após a pausa, foi concluído que os sintomas não tinham qualquer relação com a vacina.

A professora e pediatra do Instituto de Pesquisa Infantil Murdoch em Melbourne, Kim Mulholland, disse ao The New York Times que a situação é “alarmante” e que o Instituto Butantan parecia não ter ideia do motivo pelo qual o estudo foi interrompido. “Essa é a pergunta que realmente precisa ser respondida porque isso é uma violação do processo normal”.

O especialista em vacinas em Xangai Tao Lina afirmou ao jornal que acredita que a suspensão brasileira não foi baseada na ciência, mas na política. “A tecnologia das vacinas inativadas está muito madura e a possibilidade de esse incidente estar relacionado às vacinas é muito pequena”, disse o ex-imunologista do Centro de Controle e Prevenção de Doenças de Xangai. E disse que é improvável que o governo chinês interrompa o programa de uso emergencial porque "isso causará muito pânico".

Estagiária sob supervisão de Andreia Castro

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