Caso João Alberto

Fiscal do Carrefour é presa e será indiciada por homicídio

Prisão é temporária — tem prazo de 30 dias. Na gravação, funcionária ameaçou o autor de uma das filmagens: "Não faz isso que eu vou te queimar na loja". Os dois seguranças que agrediram João Alberto até a morte foram presos em flagrante

Sarah Teófilo
postado em 24/11/2020 19:12 / atualizado em 24/11/2020 23:02
 (crédito: Reprodução)
(crédito: Reprodução)

A fiscal do Carrefour Adriana Alves, que aparece nas imagens que mostram o soldador João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, sendo agredido até a morte, foi presa nesta terça-feira (24/11). A prisão é temporária — ou seja, tem o prazo de 30 dias. A mulher será indicada por homicídio triplamente qualificado, segundo a Polícia Civil, assim como os dois seguranças, Giovane Gaspar, que é policial militar temporário, e Magno Borges, presos em flagrante na última quinta-feira (19).

O caso ocorreu em uma unidade do Carrefour em Porto Alegre (RS). Nas imagens de câmera de segurança, Adriana aparece ao lado dos seguranças que agridem João Alberto. Ele foi espancado e asfixiado, segundo laudo preliminar. A cena também foi gravada por diversos clientes e prestadores de serviço que estavam no local. Em um desses vídeos, Adriana se aproxima e diz a um homem: "Não faz isso que eu vou te queimar na loja".

Em depoimento, ela disse que a vítima havia empurrado uma mulher no mercado. A informação, entretanto, não procede, de acordo com as investigações da Polícia Civil. Nas imagens de câmera de segurança do local, Beto, como era conhecido, não aparece agredindo ninguém.

Delegada do caso, Roberta Bertoldo explicou que após análise do material coletado, tanto vídeos quanto depoimentos de testemunhas, a Polícia Civil entendeu que Adriana “detinha naquele momento a posição de impedir que aquela resultado acontecesse".

“E ela assim não agiu. Ela contribui para o resultado morte com a omissão dela. Mesmo estando junto com os dois seguranças e ouvindo a vítima pedir que soltasse, porque não conseguia respirar, mesmo assim ignoraram e mantiveram a vítima daquela forma agressiva, o custodiando ainda de modo a fazer com que ele tivesse dificuldade de respirar”, afirmou Roberta.

Em depoimento nesta terça-feira, Adriana afirmou que “jamais pretendia causar qualquer resultado desta natureza e que ela entende que não contribuiu para este resultado”, segundo a delegada. Na quinta-feira, ao prestar o primeiro depoimento à polícia, ela disse que “a vítima proferia xingamentos durante a contenção, mas não ouviu a mesma pedir ajuda”. Imagens gravadas por pessoas que passavam no local mostram João gemendo e dizendo: “Vou morrer”. Em relação aos xingamentos, isso não é visto nos vídeos.

Um outro vídeo mostra determinado momento em que Adriana chega perto de João, se abaixa e diz: "Se acalma aí pra gente poder te soltar. A brigada [militar] está chegando aí, tá bom?". João, então, diz algo, ao que ela responde: "Não, a gente não vai te soltar não, pra ti bater em nós de novo?" Antes das agressões terem início, João desfere um soco na direção de Gaspar.

Ainda em depoimento na semana passada, segundo a delegada, Adriana disse que um dos seguranças, Gaspar, era um cliente. Dessa vez, ela justificou que estava retornando de férias e não conhecia o segurança. A delegada Roberta Bertoldo ressalta que a versão da mulher ainda será averiguada.

Uma das advogadas de Adriana, Karla Sampaio, disse ao Correio que a defesa irá adotar todas as medidas cabíveis. "Foi uma prisão absolutamente desnecessária. Ela prestou esclarecimentos de forma espontânea, razão pela qual a gente entende que não há nenhum motivo para manter essa prisão", afirmou. Sobre o depoimento de Adriana, Karla explicou que irá prestar qualquer esclarecimento apenas depois.

"Lesões superficiais"

O advogado David Leal, responsável pela defesa de Giovane Gaspar, afirmou que as lesões corporais causadas pelos seguranças foram superficiais e não foram a causa da morte da vítima. O advogado disse ainda que, segundo seu cliente, a vítima João Alberto estava "visivelmente sob efeito de entorpecente", o que lhe trouxe uma "força descomunal e olhos saltados". O laudo toxicológico, no entanto, não está pronto. O exame é padrão, segundo a delegada.

A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Magno Borges. O espaço segue aberto para manifestação.

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