MEIO AMBIENTE

Ministro do Meio Ambiente se cala sobre novos dados de desmatamento na Amazônia

Leite contradisse a si mesmo quando, em vários discursos e painéis no pavilhão brasileiro da COP26, assegurou que ia todas as semanas para acompanhar no local o combate ao desmatamento no bioma

Correio Braziliense
postado em 13/11/2021 06:00
Leite se furtou de comentar os dados ruins da Amazônia -  (crédito:  Marcelo Camargo/Ag..ncia Brasil)
Leite se furtou de comentar os dados ruins da Amazônia - (crédito: Marcelo Camargo/Ag..ncia Brasil)

O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, se furtou de comentar os números que mostraram desmatamento recorde da Amazônia, em outubro. Indagado sobre isso pelos jornalistas, respondeu laconicamente que "não acompanhou" os dados divulgados, ontem de manhã, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

"Quando eu voltar ao Brasil, vou falar com o ministro Anderson (Torres, da Justiça) para entender esses dados do Inpe. Não acompanhei esses números, estava focado nas negociações", disse.

Leite contradisse a si mesmo quando, em vários discursos e painéis no pavilhão brasileiro da COP26, assegurou que ia todas as semanas para acompanhar no local o combate ao desmatamento no bioma. Em uma das suas apresentações, garantiu que a ação da Força Nacional e do Ministério da Justiça "estavam dando resultado".

Afirmando que conseguiu mostrar em Glasgow aquilo que classificou de "Brasil real", o ministro pareceu ter sido pego de surpresa com mais uma rodada de números negativos sobre a Amazônia. Por isso, calou-se diante dos repórteres, que indagavam se ele não tinha ideia dos números anunciados ou mesmo se havia ficado irritado ao ser informado dos dados. Em vez disso, preferiu caminhar em silêncio, com sua comitiva, deixando os jornalistas falando sozinhos.

Mas se Leite não deu uma única palavra sobre o avanço do desmatamento, outros atores ligados ao setor, no Brasil, comentaram o assunto. Rafael de Oliveira Silva, professor da Universidade de Edimburgo, afirma que os dados — a devastação da Amazônia passou da média anual de 6.500 km² na década passada para quase 10.000 km² no governo de Jair Bolsonaro — escondem uma realidade complexa.

"Se você olha os dados dos pastos, não aumentaram. O desmatamento ocorre por vários motivos, como a mineração, a especulação da terra. O desmatamento ocorre, em sua maioria, em terras privadas", explicou.

Desvio de foco

O ministro do Meio Ambiente preferiu desviar o foco dos dados do Inpe ao propagandear a iniciativa do governo federal de estender a cobertura do 5G por todo o território nacional. Foi durante o painel "Negócios Sustentáveis na Amazônia", realizado no Pavilhão Brasil da COP26.

Além de classificar a Amazônia como um "deserto digital", o ministro disse que essa condição deve mudar com o leilão da nova banda de internet, que pode abrir oportunidade para as comunidades locais e fomentar o empreendedorismo sustentável na região.

"Foi um leilão que olhou para a Amazônia e que não olhou para a outorga do Tesouro Nacional", comparou. O certame da tecnologia 5G ocorreu na semana passada.

Leite afirmou que o governo tem se preocupado com projetos verdes em todo o país e, em especial, na região amazônica. "É interessante ver o empreendedorismo na Amazônia, gerando emprego e renda", disse.

Panorama diferente

No discurso que realizou na COP26, o ministro Joaquim Leite apresentou um panorama bem diferente daquele confirmado, ontem, pelo Inpe. Além de afirmar que o desmatamento ilegal já estava sendo combatido com aumento de recursos e de patrulhamento, ele não deu maiores detalhes dos mais recentes dados sobre desmatamento, queimadas e emissões de carbono. E ainda se comprometeu a acabar com o desmatamento ilegal até 2028.

Segundo Leite, as etapas para cumprir o objetivo de redução da devastação no bioma serão: redução de 15% ao ano até 2024; redução de 40% ao ano em 2025 e em 2026; redução de 50% em 2027; e zerar o desmatamento ilegal em 2028.

Mas enquanto o Ministério do Meio Ambiente divulga números otimistas sobre a preservação da Amazônia e de outros biomas brasileiros, estimativas do Observatório do Clima apontam que a maior parte (46%) dos gases estufa emitidos pelo país são provenientes do desmatamento. Os dados de 2020 mostram que o Brasil continua, desde 2010, a ampliar suas emissões. No ano passado, em plena pandemia, o aumento do despejo de gases de efeito estufa, pelo país, na atmosfera, foi de 9,5%. No restante do mundo, porém, houve uma redução de cerca de 7%.

"Enquanto o governo federal tenta vender o Brasil como potência verde na COP, a verdade é que o desmatamento em outubro bateu mais um recorde e vem sendo impulsionado pela política anti-ambiental do presidente, do Ministério do Meio Ambiente, com apoio de parte do Congresso. O desmatamento e queimadas continuam fora de controle e a violência contra os povos indígenas e população tradicional só aumenta", criticou Rômulo Batista, porta-voz da campanha Amazônia do Greenpeace.

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