A primeira fase de testes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) mostrou que o temido desequilíbrio do certame — com as denúncias de vetos a questões e censura de alguns assuntos, havia a preocupação de um direcionamento nos temas das provas — não se concretizou. A rodada inicial do Enem trouxe questões que debatiam a escravidão, os povos indígenas e os refugiados.
De acordo com a professora de Linguagens do Escrita Única e de literatura e redação do Leonardo da Vinci, Mariana Lira, a prova de 2021, assim como as demais desde 2019, manteve a necessária perspectiva interpretativa. "Fico feliz de ver que eixos de demasiada importância, como a questão do negro na sociedade e a erotização da mulher, reverberaram mais uma vez neste ano", disse.
Questionada se o Enem tinha, de alguma forma, "a cara do governo" Bolsonaro, Mariana explicou que a educação e as questões sociais seguiram firmes na prova. "O Enem manteve a essência de propor reflexões sobre as enormes dificuldades que nossas minorias sociais sofrem. Isso, para mim, é muito mais a cara do nosso povo, da nossa gente que luta", afirmou.
Sobre o tema da redação, a professora afirmou que, apesar de ser uma discussão fundamental e urgente nos mais diversos meios, salienta uma preocupação quanto ao grau de dificuldade. "Não podemos nos esquecer de que nossos alunos vêm de anos duros de aulas on-line, inseguranças e isolamento. Este é um ano em que o abismo escolar e de aprendizagem está visível a quem quiser perceber e, infelizmente, acredito que será visível nas notas de redação", explicou.
O Inep divulgou que em números preliminares, que a abstenção da prova foi de 26%. De acordo com o ministro da Educação, Milton Ribeiro, este é um percentual baixo.
Ele disse, ainda, que se o governo tivesse interferido, algumas questões que estavam presentes na prova não teriam entrado. "Tem questões que tocam em alguns temas que, numa visão mais conservadora, são mais caros ao nosso governo", afirmou.
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Conservadorismo
O presidente Jair Bolsonaro, porém, deu a entender de que não gostou da primeira rodada do Enem. Ontem, disse aos seus apoiadores na saída do Palácio da Alvorada que o exame "ainda" abordava "questões de ideologia".
"Estão acusando o ministro Milton de ter interferido na elaboração das provas. Se ele tivesse essa capacidade e eu também, não teria nenhuma questão de ideologia neste Enem agora, que teve ainda", disse.
Cobrado por seus apoiadores, disse que não é possível mudar o Enem "de uma hora para a outra", mas que algumas alterações já estão sendo percebidas. E salientou que, neste ano, não houve questões relacionadas à "linguagem de tal tipo e gente com tal perfil" — disse, referindo-se a uma pergunta, do Enem de 2020, que mencionava termos relacionados à comunidade gay. Segundo Bolsonaro, não dá para "dar um cavalo de pau" no Ministério da Educação e promover grandes mudanças de imediato.
Para a Gestora de Políticas Públicas, doutoranda em Mudança Social e Participação Política (USP) e ativista pela educação Tamires Arruda Fakih, o presidente quis dizer que ainda não foi possível intervir de uma forma mais direta nas provas. Por causa disso é que ela crê que essa pressão continuará, e em todas as dimensões da educação.
"Isso a gente vê nos desmontes do Inep, em todas as trocas de ministros da educação, nos cortes nos recursos do orçamento de investimento em educação e em intervenções mais diretas como essas", disse. (Estagiárias sob a supervisão de Fabio Grecchi)
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