Violência contra mulher

8 em cada 10 brasileiras fazem uso de medidas de segurança ao saírem de casa, diz pesquisa

Levantamento revela que mulheres brasileiras são o grupo mais vulnerável a sofrer uma violência. 69% das entrevistadas já foram alvo de olhares insistentes e cantadas inconvenientes ao se deslocarem pela cidade e 35% sofreram importunação/assédio sexual

Gabriela Bernardes*
postado em 23/11/2021 17:02 / atualizado em 23/11/2021 17:05
 (crédito: z)
(crédito: z)

Do momento em que saem de casa até a hora de voltar para casa, as mulheres brasileiras são o grupo mais vulnerável a sofrer uma violência durante o percurso. Elas também são a parcela da população que declara sentir mais medo. É o que revela a pesquisa “Percepções sobre segurança das mulheres nos deslocamentos pela cidade”, realizada pelo Instituto Patrícia Galvão e Instituto Locomotiva, com apoio da Uber e apoio técnico e institucional da ONU Mulheres.

Os dados do levantamento demonstram que 69% das mulheres já foram alvo de olhares insistentes e cantadas inconvenientes ao se deslocarem pela cidade, 35% já sofreram importunação/assédio sexual e 67% das mulheres negras relataram ter passado por situações de racismo quando estavam a pé.

Vale destacar que, apesar de consideravelmente maior no sexo feminino, há uma sensação geral de insegurança durante os deslocamentos urbanos. Apenas 16% das mulheres e homens que circulam pela cidade utilizando as mais diversas modalidades de transporte sentem-se plenamente seguros.

A pesquisa pontua ainda que, antes de sair de casa, as mulheres precisam tomar muitas medidas preventivas e de segurança, diante da profunda vulnerabilidade em que vivem. Evitar usar certos acessórios, escolher um caminho mais longo ou demorado e evitar locais escuros estão entre os recursos que as brasileiras recorrem nos seus trajetos.

Os números do estudo revelam que pelo menos 8 em cada 10 brasileiras fazem uso de alguma medida de segurança nos seus percursos: 92% evitam sair à noite, 87% escolhem o lugar em que vão se sentar no transporte coletivo pensando na sua segurança e 96% evitam passar em local deserto/escuro.

As porcentagens de outras medidas de segurança adotadas pelas mulheres em comparação com homens também são altas. 85% das entrevistadas pedem para que outras pessoas as esperem em casa ou esperem notícias suas quando chegam ao seu destino, no caso dos homens isso só é requisitado por 68%. Além disso, enquanto 82% das mulheres evitam usar certos tipos de roupa ou acessórios, a porcentagem masculina é de 72%.

Não importa se em transportes individuais ou coletivos, públicos ou particulares, as mulheres são abusadas e assediadas nos mais diversos meios de deslocamento pela cidade. A pé e de ônibus são as formas com maior incidência de casos, de acordo com a pesquisa. Ao menos 69% das mulheres já foram alvo de olhares insistentes e cantadas inconvenientes durante trajeto e 78% temem isso em ao
menos um meio de transporte utilizado.

Racismo

O levantamento revela também que questões raciais são determinantes para a insegurança de mulheres durante seus trajetos em meios de transportes em espaços públicos. A sensação de insegurança durante os deslocamentos urbanos é ainda mais acentuada para as populações negras, concluiu o levantamento on-line, feito com 2.017 pessoas (1.194 mulheres e 823 homens), com 18 anos de idade ou mais. 

67% das mulheres negras relataram ter passado por situações de racismo quando estavam a pé. Em ônibus, os casos de preconceito e discriminação foram indicados em 34%. Além disso, a maioria (80%) das mulheres que se deslocam teme ser vítima de crime racial.

Consequências da pandemia

As consequências do isolamento imposto para frear a transmissão do coronavírus e todos os desdobramentos da pandemia impactaram a todos, mas as mulheres e populações vulneráveis sofreram mais profundamente. Medo de sair de casa, receio de se ausentar à noite e menor possibilidade de se deslocar pela cidade estão entre as mudanças de hábito das brasileiras, conforme indica o estudo.

Realizada em outubro de 2021, a pesquisa revela ainda que, para quase 30% das entrevistadas, a cidade ficou mais perigosa durante a pandemia. Agora, 77% das mulheres dizem sentir mais medo de sair de casa e 29% das mulheres que mudaram seus hábitos de deslocamento na pandemia o fizeram porque a cidade parece mais perigosa nesse período.

*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro

 

 

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