Rio de Janeiro

Quiosque seguiu vendendo bebidas após o assassinato de Moïse Kabagambe

O corpo do homem espancado ficou por pelo menos três horas estirado no chão, mostra câmera de segurança do quiosque Tropicália, que seguiu vendendo bebidas

Jéssica Gotlib
postado em 09/02/2022 19:08 / atualizado em 09/02/2022 19:08
O caso gerou grande repercussão em todo o país e protestos por justiça, especialmente na cidade do Rio de Janeiro -  (crédito: Reprodução/Redes sociais )
O caso gerou grande repercussão em todo o país e protestos por justiça, especialmente na cidade do Rio de Janeiro - (crédito: Reprodução/Redes sociais )

Imagens completas da câmera de segurança do quiosque Tropicália, em uma praia no Rio de Janeiro, dão detalhes do assassinato do imigrante congolês Moïse Kabagambe de 24 anos. São mais de três horas de gravação, entregues à polícia nesta quarta-feira (9/2), que mostram a dinâmica dos acontecimentos no local do crime entre o espancamento, a morte e a chegada da perícia.

Trechos do vídeo foram divulgados pelo telejornal RJ1, da Rede Globo. É possível ver, por exemplo, quando um homem puxa Moïse pelas pernas enquanto ele é espancado e, logo depois, leva embora o taco de beisebol usado como arma do crime. Em outro momento, Jailton Pereira Campos, funcionário do quiosque, aparece pegando bebidas no freezer enquanto peritos estão no local para examinar a cena depois que o jovem já tinha sido dado como morto.

Jailton é um dos acusados pela morte do imigrante congolês. Ele tinha dito à polícia que discutiu com Moïse porque a vítima tentou pegar bebidas no freezer do Tropicália. Apesar disso, o vídeo das câmeras de segurança mostra Jailton com um pedaço de pau na mão antes do espancamento. Naquele momento, ele e o Moïse não entraram em luta corporal.

Outro ponto das filmagens contradiz um dos depoimentos prestados logo depois do crime. Carlos Fábio da Silva Muzi, dono do quiosque, havia dito que foi chamado ao local por volta das 23h e que, ao chegar, perto da meia noite, o corpo do congolês não estava mais no local. Apesar disso, as imagens mostram que a vítima ficou estirada no chão perto do quiosque pelo menos até a 1h26 da manhã.

O vídeo também mostra a chegada dos socorristas e as tentativas de salvamento. As ações brutais contra o jovem congolês — que incluíram chutes, socos e estrangulamentos — duraram cerca de 13 minutos. O Samu foi chamado e demorou por volta de 40 minutos para chegar. Nesse meio tempo, o homem que saiu com a arma do crime havia voltado e aparentou checar os sinais vitais da vítima. Os socorristas tentaram reanimar Moïse por quase de 17 minutos, mas ele já estava morto.

Dois policiais militares também aparecem no vídeo quando o relógio marca meia noite. Já se passava uma hora e meia desde o começo das agressões, os agentes não se aproximam muito do corpo e saem de cena dez minutos depois de chegarem.

O caso gerou grande repercussão em todo o país e protestos por justiça, especialmente na cidade do Rio de Janeiro. Pelo menos três pessoas, envolvidas diretamente no crime, devem responder por homicídio doloso duplamente qualificado. A família afirma que pessoas envolvidas no assassinato estão sendo protegidas e que a divulgação das imagens na íntegra pode revelar outros envolvidos tanto na omissão de socorro quanto nos atos de violência que terminaram em assassinato.

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