CRIMES VIRTUAIS

Violência virtual: 58% dos brasileiros acham que homens são os maiores culpados

Os entrevistados também foram questionados sobre o modo como mulheres deveriam reagir em episódios de abuso no ambiente virtual. Para 65% dos brasileiros, elas não devem tolerar este tipo de situação

Gabriela Bernardes*
postado em 08/03/2022 21:41 / atualizado em 08/03/2022 21:42
 (crédito: WANG ZHAO)
(crédito: WANG ZHAO)

O crescimento das redes sociais e o maior acesso à internet fez com que novas formas de violência e abusos surgissem. Como nas relações presenciais, as mulheres são grande parte das vítimas. A pesquisa “Dia Internacional da Mulher 2022”, realizada pelo Instituto Ipsos entre 21 de janeiro e 4 de fevereiro, revelou que quase seis em cada dez brasileiros (58%) acreditam que a maioria dos casos de abuso em ambientes virtuais ocorre por causa dos homens. Este é o maior índice registrado entre os 30 países que integram o levantamento.

Segundo o Instituto, o índice brasileiro está muito acima da média global, que é de 35%. A percepção de que os homens são os maiores culpados pela ocorrência dos casos de abuso on-line também é alta na Turquia (50%), na Suécia e na Itália (ambas com 49%), que aparecem logo após o Brasil neste quesito. Japoneses (18%), chineses (22%), singapurianos e russos (ambos com 25%) são os que menos concordam que a culpa é, principalmente, do sexo masculino neste tipo de situação.

Os entrevistados também foram questionados sobre o modo como mulheres deveriam reagir em episódios de abuso no ambiente virtual. Para 65% dos brasileiros, elas não devem tolerar este tipo de situação, enquanto 21% das pessoas acreditam que a melhor forma de reagir é apenas ignorar. As médias globais são 78% e 35%, respectivamente. Os maiores índices de apoio para que mulheres não tolerem situações assim nos espaços digitais foram registrados entre suecos (89%), canadenses (87%) e chilenos (87%). Já o maior estímulo para que estes episódios sejam ignorados pelas vítimas foi identificado entre peruanos (54%), sauditas (52%) e romenos (51%).

Para a gerente de “Assuntos Públicos” da Ipsos no Brasil, Priscilla Branco, os resultados da pesquisa evidenciam características marcantes das sociedades que integram o levantamento. “Em uma análise global, percebemos que os países mais conservadores são aqueles que tendem a dar menos confiança à palavra da mulher em situações de violência de gênero. E, mesmo em algumas nações que registraram maiores índices de apoio, quando levados em consideração os números de casos de agressões domésticas, abuso sexual e feminicídio, por exemplo, podemos constatar um descompasso entre discurso e prática. São números que nos levam a uma reflexão sobre a estrutura patriarcal que sustenta a violência contra as mulheres”, avalia.

O levantamento ainda destacou que 51% dos brasileiros discordam que muitas mulheres reagem de forma exagerada aos conteúdos que lhe são enviados on-line. É o maior índice de discordância, empatado com Suécia (também com 51%), entre os 30 países sondados pela pesquisa Ipsos. Os menores índices de discordância estão entre russos (11%), romenos (18%) e sauditas (19%).

Fora do ambiente on-line, quando o assunto é exagero ou mesmo invenção de alegações de abuso e estupro por parte das mulheres, apenas 11% dos brasileiros acham que isso ocorre com frequência. Suécia (8%), Holanda e Turquia (ambas com 6%) são os países que menos duvidam das palavras das mulheres que relatam estas agressões. Já Malásia (30%), Rússia (25%) e China (25%) registraram os maiores índices entre os que creem na recorrência de denúncias infundadas. Mais uma vez, o Brasil registra um dos índices mais altos de discordância (70%), atrás apenas da Turquia (72%), sobre mulheres exagerando ou inventando abusos e estupros.

Medidas legais

Para muitos, a internet é terra sem lei. O advogado criminalista Alexandre Carvalho explica, porém, que os crimes virtuais são rastreáveis e condenáveis. “Alguns querem se esconder atrás do manto da internet, mas, para isso, a polícia tem recursos tecnológicos de investigação. Os investigadores rastreiam o endereço virtual do envolvido e o encontram. Com os requisitos penais do indício da autoria e materialidade, o suspeito pode ser transferido para a área de condenação judicial”, argumenta.

No caso das vítimas mulheres, Carvalho enfatiza que, quando se descobre que o agressor é parte da família ou conhecido da vítima, pode-se ainda aplicar a Lei Maria da Penha. “A Lei Maria da Penha entra quando o abusador tem uma relação próxima ou convive com a vítima, independente da forma que ela acontece”, explica.

*Estagiária sob supervisão de Ronayre Nunes

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