SEGURANÇA PÚBLICA

Transferências de líderes é mais um capítulo na crise da segurança no RN

A Secretaria Nacional de Políticas Penais informou que os presos poderão ficar custodiados em qualquer uma das penitenciárias de Catanduvas (PR), Campo Grande, Mossoró (RN), Porto Velho e Brasília

Ândrea Malcher
postado em 19/03/2023 03:30
 (crédito: Divulgação/Seap)
(crédito: Divulgação/Seap)

Nove detentos suspeitos de comandar os ataques criminosos no Rio Grande do Norte foram transferidos para unidades federais ontem. Eles cumpriam penas pelos crimes de homicídio e tráfico de drogas no Presídio Rogério Coutinho, no Complexo Alcaçuz, em Nísia Floresta, na Grande Natal. O governo estadual confirmou que as transferências, solicitadas pelo Ministério Público do estado e autorizados pelo Juiz da Vara de Execução Penal, ocorreram em resposta aos atentados, que começaram na madrugada de terça-feira.

"Os custodiados são acusados de comandar os crimes como homicídios e tráficos de drogas, além de estar envolvido em planos de fugas e ataques a patrimônios públicos e privados no Rio Grande do Norte", disse o governo, em nota, acrescentando que eles ficarão isolados em celas individuais e com visitas monitoradas e somente por parlatório, que é um local reservado para visitas íntimas.

A Secretaria Nacional de Políticas Penais informou que os presos poderão ficar custodiados em qualquer uma das instituições federais de Catanduvas (PR), Campo Grande, Mossoró (RN), Porto Velho e Brasília.
Assim, sobe para 10 o número de transferências para unidades federais. A primeira transferência ocorreu ainda no primeiro dia dos ataques, no dia 14. Outros três já foram identificados como comandantes dos atos e mandavam de dentro de presídios na Bahia e na Paraíba. Até o momento, 106 pessoas já foram presas por envolvimento nos ataques e, desde o começo das ações criminosas, já foram apreendidas 31 armas de fogo, 87 artefatos explosivos e 23 galões de gasolina, além de 11 motos e dois carros, dinheiro, drogas e munições.

Até ontem, eram pelo menos 49 cidades sitiadas pelos criminosos, apontados como integrantes da facção Sindicato do Crime, a maior do estado, e, segundo o Centro Integrado de Inteligência e Segurança Pública do Nordeste, desde quarta-feira, foram registrados 259 ataques a prédios públicos, comércios e veículos. A Polícia Civil afirma que o registro de novos casos vem caindo desde o começo dos atos na terça, quando 103 ocorrências foram registradas.

"A diminuição de atos criminosos chegou a 74,5% ao fim desta sexta-feira (17). Nos próximos dias, a expectativa é da chegada de mais reforço para somar ao efetivo das forças estaduais de segurança pública", afirmou a corporação. No entanto, a realidade da população sugere outro cenário.
No bairro Igapó, Zona Norte de Natal, criminosos armados, encapuzados e com coletes à prova de balas expulsaram nove moradores de três casas, que acabaram incendiadas, na madrugada de sábado. Uma idosa de 77 anos foi tirada da cama com uma arma apontada para a cabeça.

O policial penal Carlos Eduardo Nazário, de 49 anos, foi morto em São Gonçalo do Amarante, a 20km da capital. Ele chegou a ser socorrido e levado ao Hospital Santa Catarina, em Natal, mas não resistiu aos ferimentos. O agente foi atingido por um disparo enquanto estava em um comércio e não estava a serviço.
Ainda não foi divulgado um balanço oficial de mortes desde o início da onda de violência. No entanto, a Polícia Civil confirmou o assassinato de um comerciante ainda na terça, além de um suspeito que morreu em um confronto com policiais e outro durante troca de tiros com agentes da corporação, durante o cumprimento de mandados contra integrantes da facção apontada como responsável pela violência generalizada no Rio Grande do Norte.

Reforço

De acordo com a Polícia Civil, 455 agentes de segurança pública já foram cedidos para apoiar o trabalho das forças do estado. Com o apoio da Força Nacional e a chegada do secretário Nacional de Segurança Pública, Tadeu Alencar, ao estado na sexta-feira, a governadora Fátima Bezerra ressaltou que o grupo seguirá “incansável em tomar as medidas necessárias para restabelecer a paz e a ordem pública em todo o Rio Grande do Norte”.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, enviou, ainda, outros 100 agentes de segurança. “Estamos com mais de 500 integrantes da Força Nacional e de forças federais atuando no Rio Grande do Norte, em auxílio ao governo do Estado. Determinei agora a destinação de mais 100 policiais”, disse o ministro nas redes sociais.

Fátima Bezerra, por sua vez, anunciou que 290 policiais rodoviários federais chegarão a Natal para, então, serem distribuídos às cidades afetadas. O estado já recebeu 32 PMs do Ceará e ainda receberá outros 30 da Paraíba. Helder Barbalho (MDB), governador do Pará, afirmou que também enviará ajuda.

"O Pará vai ajudar o Rio Grande do Norte, enviando 60 homens das tropas especializadas da Polícia Militar para apoiar as ações de segurança pública em várias cidades do estado, que desde a última terça-feira, estão sendo alvos de ataques realizados por facções criminosas", disse.

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Cronologia

» Terça-feira

Pelo menos 14 cidades do Rio Grande do Norte viveram o terror causado por tiros e incêndios criminosos em órgãos públicos, comércios e veículos, na madrugada. Em Natal, batalhões da Polícia Militar foram alvo dos criminosos.

» Quarta-feira

A segunda noite da onda de violência atingiu 28 cidades, como apontou o balanço da PM do estado, e pelo menos dois trabalhadores do transporte público ficaram feridos. Cerca de 170 agentes e 30 veículos da Força Nacional de Segurança foram enviados. A governadora Fátima Bezerra (PT), que estava em Brasília, retornou junto ao efetivo, que foi cedido por determinação do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, para reforçar o policiamento.

» Quinta-feira

A governadora instalou, na quinta, o Gabinete de Gestão de Crise (GGC) para tentar controlar a situação. Segundo o governo do Rio Grande do Norte, pelo menos 43 suspeitos foram presos no estado. Foram apreendidas, ainda, 12 armas de fogo, 39 artefatos explosivos, nove galões de gasolina, drogas, munições, veículos e dinheiro. Na quinta, a estimativa de cidades afetadas pelo terror subiu para 39. A Secretaria de Segurança e Defesa Social do estado afirmou que, a partir da sexta, o efetivo receberia o incremento de 30 PMs do Ceará e outros 30 da Paraíba, além de três helicópteros — um de cada estado e uma terceira aeronave cedida pela Polícia Rodoviária Federal.

» Sexta-feira

No quarto dia consecutivo de ações criminosas, a Polícia Civil divulgou que pelo menos três suspeitos de envolvimento na violência generalizada determinavam ações de dentro de presídios de outros estados do Nordeste. A Divisão Especializada em Investigação e Combate ao Crime Organizado informou que Judson Bezerra Araújo Batista, conhecido como "Bebezão", cumpria pena na Bahia; já Erick Silva de Santana, o "Neymar do Morro", e Igor Rodrigo de Oliveira Cavalcanti Coelho, o "Igor Latrô", cumpriam sentenças na Paraíba. Foram encontrados aparelhos celulares usados para dar ordens nas celas dos suspeitos. A quantidade de cidades afetadas passou para 45 e pelo menos 72 pessoas já haviam sido presas. Criminosos chegaram a queimar pneus e fecharam a BR-101 durante a madrugada de sexta, na altura da cidade de Canguaretama. Em São Vicente, a 200km da capital, a garagem do destacamento da Polícia Militar foi incendiada e um ônibus escolar ficou completamente destruído, em Pedra Preta, após ser incendiado.

» Ontem

Nove presos do sistema penitenciário do Rio Grande do Norte foram transferidos para penitenciárias federais. Eles estavam no Presídio Rogério Coutinho, no Complexo de Alcaçuz, em Nísia Floresta, na Grande Natal. Ao todo, 10 custodiados do estado foram incluídos em penitenciárias federais. Flávio Dino anunciou o envio de outros 100 agentes da Força Nacional, totalizando mais de 500 ao estado. Com 49 cidades atacadas por criminosos, foram registradas, pelo menos, 106 prisões, sendo 18 efetuadas pela Operação Normandia, deflagrada pela Polícia Civil e Federal.

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