Operação Dakovo

PF desbarata esquema que entregou 43 mil armas ao crime

Ação golpeia quadrilha que municiava as duas maiores facções brasileiras e, em três anos, movimentou mais de R$ 1,2 bilhão. Agentes brasileiros agiram em colaboração com as forças de segurança paraguaias e informações dosa EUA

Grande parte do armamento apreendido pela Operação Dakovo estava no Paraguai para ser remetido ao Brasil
 -  (crédito: Polícia Federal/Divulgação)
Grande parte do armamento apreendido pela Operação Dakovo estava no Paraguai para ser remetido ao Brasil - (crédito: Polícia Federal/Divulgação)

A Polícia Federal (PF) desbaratou, ontem, um esquema de importação que, em três anos, forneceu mais de 43 mil armas de fogo trazidas do Leste Europeu diretamente para as duas maiores facções criminosas do Rio de Janeiro e de São Paulo. Nesse período, a quadrilha movimentou mais de R$ 1,2 bilhão.

A Operação Dakovo — em referência à cidade da Croácia que servia como hub logístico da quadrilha — contou com o apoio do Ministério Público Federal (MPF), das forças de segurança do Paraguai, além de informações passadas por agentes dos Estados Unidos. Foram presas cinco pessoas no Brasil e 11 no país vizinho, entre eles, o ex-comandante da Força Aérea Paraguaia, Arturo Javier González.

Apesar das prisões, do grande número de dólares, armas e itens de luxo apreendidos, o argentino Diego Hernan Dirísio — apontado como chefe do esquema e dono da empresa IAS, baseada em Assunção, que fazia a importação das armas — conseguiu escapar. Ele era o contato das facções criminosas brasileiras.

A investigação aponta que Dirísio usava um complexo sistema de lavagem financeira via Miami, onde o dinheiro era transferido para empresas de fachada. Em seguida, ia para uma companhia que fazia o pagamento aos fabricantes de armas europeus. Boa parte do material vendido às facções era de fabricação croata, tcheca e turca, e inclui fuzis e pistolas de vários calibres, além de outros equipamentos.

A operação teve início em uma investigação da Superintendência da PF na Bahia, depois da prisão de um homem com dois fuzis e 23 pistolas, em novembro de 2020, em um ônibus, próximo à cidade de Vitória da Conquista. No Brasil, os mandados de busca e apreensão foram cumpridos no Rio de Janeiro, em São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Sorocaba (SP), Praia Grande (SP), São Bernardo do Campo (SP), Ponta Grossa (PR) e Foz do Iguaçu (PR).

Sem um tiro

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, comemorou o resultado e destacou o trabalho de inteligência da PF e dos parceiros internacionais para desbaratar o esquema. "Nessa operação, não houve sequer um tiro, nem bala perdida e nem inocentes mortos. Foi baseada na inteligência", salientou o ministro, em coletiva — que contou com a presença de Jalil Rachid, ministro da Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai, e dos delegados federais envolvidos na Dakovo.

"A ação com o Paraguai fará com que as duas maiores facções brasileiras, que eram as destinatárias principais desses armamentos ilegais, tenham o fechamento dessa via logística para realização das suas operações", acrescentou Dino.

O resultado da operação foi avaliado por fontes do Palácio do Planalto e do Congresso como uma vitória do ministro, que vem sendo sistematicamente atacado pelos bolsonaristas — sobretudo depois que foi indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a 11ª cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF) — e acusado de não combater o crime organizado. Dino enfatizou a estratégia adotada pelo governo federal, cujo objetivo é atingir as fontes de financiamento e a logística das facções.

"O crime organizado só é superado quando você substitui o modelo ineficiente de tiros a esmo, aleatórios, e vai na raiz do problema, que é o financiamento desses grupos", afirmou.

 

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postado em 06/12/2023 03:55 / atualizado em 03/05/2024 21:35