Dia de Combate à Intolerância Religiosa é celebrado com união de credos

Representantes de diferentes denominações participaram do 8° Encontro Inter-Religioso e Saúde Mental – Racismo Mata e Compromete a Saúde. Na ocasião, Ministério da Igualdade Racial lançou edital para seleção de 10 projetos

Fitinhas brancas foram amarradas no pé de Pau Brasil que fica dentro do Ilê Axé Oyá Bagan, símbolo de resistência e renascimento do terreiro de Mãe Baiana de Oyá. Em 2015, o barracão localizado no Núcleo Rural Córrego do Tamanduá, Paranoá-DF, foi incendiado. A árvore foi plantada na reinauguração da casa, que aconteceu 10 meses depois. Naquele ano, no intervalo de quatro meses, houve cinco incêndios a terreiros de Candomblé e Umbanda no DF.

Neste domingo, à sombra da planta originária reuniu povos de terreiro, cristãos, budistas e representantes de outras religiões para participarem do 8° Encontro Inter-Religioso e Saúde Mental – Racismo Mata e Compromete a Saúde. O encontro fez parte da celebração do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa (21/01).

No ano passado, foram registrados 2.124 casos de violações de direitos humanos ligadas a intolerância religiosa no Brasil, segundo dados do Disque-100 – Disque Direitos Humanos. Esse número é 80% maior do que o ano anterior, quando 1.184 violações foram registradas, de acordo com o balanço divulgado no último domingo (21) pela Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. Esse crescimento deve-se a melhor divulgação dos canais de denúncias. O mesmo documento também mostra que pessoas mais violadas são das religiões da Umbanda e do Candomblé, seguido de outras religiosidades afro-brasileiras, e depois, evangélicas e católicas.

Ògan Luiz Alves/PROJETO ONÍBODÊ -
Ògan Luiz Alves/PROJETO ONÍBODÊ -
Ògan Luiz Alves/PROJETO ONÍBODÊ -
Ascom/MDHC -
Ascom/MDHC -
Ògan Luiz Alves/PROJETO ONÍBODÊ -
Ògan Luiz Alves/PROJETO ONÍBODÊ -
Ògan Luiz Alves/PROJETO ONÍBODÊ -
Ascom/MDHC -

“Não conheço nenhuma criança que nasceu racista, preconceituosa, intolerante. Então, é dentro do seu lar que a gente começa a educar. São nas escolas que temos que fazer ações de educação. Falar sobre intolerância religiosa não é só falar das religiões de matriz africana. Todas as religiões passam por intolerância religiosa”, afirmou a coordenadora geral de Promoção da Liberdade Religiosa do Ministério de Direitos Humanos e Cidadania, Iyá Gilda de Oxum. Combater a intolerância religiosa, segundo ela, é também combater o racismo.

Esse crescimento de violações afeta a saúde mental das pessoas – que convivem com o medo de praticar suas religiosidades. Com objetivo de promover a saúde mental da população de terreiro e da população negra, o encontro contou com várias práticas de promoção à saúde, como aferição de pressão e práticas integrativas diversas. Além do terreiro, o encontro teve parceria do Ministério da Igualdade Racial e apoio do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania.

Na ocasião, o Ministério da Igualdade Racial anunciou o lançamento do edital de fomento Mãe Gilda de Ogum, que vai destinar R$ 1,5 milhão entre 10 projetos selecionados que sejam realizados por povos e comunidades tradicionais de matriz africana e de terreiro nos eixos de cultura, economia de axé e agroecologia. “Esse edital é uma possibilidade de reparação, uma iniciativa incipiente na elaboração de políticas que a gente pretende fazer para os povos de terreiro”, afirmou Eloá Silva de Moraes, Coordenagora Geral de Políticas para Comunidades Tradicionais do Ministério da Igualdade Racial. A seleção é uma iniciativa da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) e as inscrições estarão abertas entre os dias 2 de fevereiro e 21 de março.

Dia do Combate à Intolerância Religiosa

Instituída pela Lei n.º 11.635, de 27 de dezembro de 2007, o dia 21 de janeiro rememora e homenageia Mãe Gilda de Ogum, fundadora do terreiro Ilê Axé Abassá de Ogum, em Salvador-BA. Ela foi vítima de diversas violações de direitos humanos e de intolerância religiosa, tendo falecido no ano 2000. A iyalorixá foi líder religiosa e ativista social nobairro de Nova Brasília de Itapoã.

Como denunciar

O primeiro passo é fazer a denúncia na ouvidoria do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, discando 100 pelo seu aparelho telefônico. A ligação é gratuita e feita de forma anônima. A denúncia também pode ser feita por mensagem de WhatsApp, pelo número (61) 99611-0100 ou pelo Telegram, digitando ”direitoshumanosbrasil” na busca do aplicativo. Para atendimento em Libras, é possível fazer uma videochamada no site do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (https://www.gov.br/mdh/pt-br/ondh).

*Escrito por Carolina Braga

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