Meio ambiente

Brasil reduz focos de incêndio florestal, mas alerta climático permanece

O número de queimadas no país diminuiu em 2025 ao se intensificar ações preventivas e de combate. É preciso, porém, atenção para a ação humana e possíveis tentativas de desestabilizar políticas ambientais e a COP30, apontam especialistas

Este ano, foram registrados 29 mil focos de incêndio de janeiro a julho, enquanto em 2024, no mesmo período, o número foi de 58,4 mil -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
Este ano, foram registrados 29 mil focos de incêndio de janeiro a julho, enquanto em 2024, no mesmo período, o número foi de 58,4 mil - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

O Brasil se prepara para a temporada de seca e incêndios florestais de 2025, especialmente nos meses de agosto, setembro e outubro (ASO), com projeções climáticas que apontam para uma combinação desafiadora de temperaturas elevadas e chuvas abaixo da média em diversas regiões. Apesar do cenário preocupante, o país registrou uma redução significativa no número de focos de incêndio no primeiro semestre de 2025 em comparação com 2024, indicativo da intensificação das ações preventivas e de combate.

Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelam uma queda expressiva nos focos de incêndio no período de 2025 (de 1º de janeiro a 31 de julho) em comparação com o mesmo período de 2024. Este ano, foram registrados 29 mil focos, enquanto em 2024, no mesmo período, o número foi de 58,4 mil. O instituto salienta que não gera previsões de ocorrência de focos de queimada e incêndio, apenas dados de monitoramento das condições atuais.

Essa redução é notável em biomas críticos, como a Amazônia, que caiu de 24,9 mil focos em 2024 para 7,4 mil em 2025; e o Cerrado, de 20,7 mil para 14,2 mil. Em termos estaduais, Mato Grosso, Tocantins e Maranhão, embora ainda figurem entre aqueles com maior número de focos em 2025, também demonstram redução.

O Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso (CBM-MT) reforça essa tendência, indicando uma redução de 58% nos focos de calor de janeiro a junho de 2025 em relação à média histórica da última década.

Fogo Brasil incendios 03/08
Fogo Brasil incendios 03/08 (foto: Lucas Pacífico)

O climatologista Carlos Nobre, professor da Universidade de São Paulo (USP), observou que, embora as chuvas em 2025 tenham sido mais próximas do normal até agora, "existe, sim, uma projeção de a estação seca ser mais seca ainda" e que "as temperaturas não estão tão altas quanto no ano passado, mas estão altas".

As previsões climáticas para o trimestre ASO 2025, produzidas em colaboração pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos/Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/Inpe), pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e pela Fundação Cearense de Meteorologia e Chuvas Artificiais (Funceme), indicam um aquecimento consistente das temperaturas médias em todo o Brasil.

Há uma probabilidade moderada a alta (entre 50% e 80%) de temperaturas acima da média histórica nas regiões Norte (especialmente Amazonas e Pará); Nordeste (acima de 60%, no interior); Centro-Oeste (Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal); e Sudeste (Minas Gerais e Espírito Santo). A região Sul também pode ter temperaturas moderadamente acima da média.

Quanto às chuvas, o Centro-Oeste e o Sudeste (MT, GO, MG) apresentam uma probabilidade de 50% a 80% de precipitação abaixo da média. Em contraste, a região Sul e áreas do sertão nordestino tendem a ter chuvas acima da média histórica.

Fatores de risco

O fenômeno El Niño, que reduz chuvas e aumenta temperaturas, tem historicamente agravado a situação de incêndios na Amazônia e no Nordeste. No entanto, a análise do Inpe de junho de 2025 destaca a neutralidade do fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENSO) até outubro de 2025, com 56% de chance, o que geralmente resulta em um clima mais próximo do normal.

Apesar disso, o climatologista explica que a megasseca de 2024, quando o El Niño já tinha terminado, foi influenciada pelas temperaturas recordes do Atlântico Norte. Ele expressa ainda preocupação com o crime organizado, que, diante da menor seca em 2025, "pode até querer queimar mais este ano" para desestabilizar políticas ambientais e a COP30.

Nobre alerta para o fato de que, no ano passado, "o incêndio foi humano". "A área queimada foi muito grande porque estava seca e aí, quando alguém vai lá e bota fogo, o fogo espalha. Se não está tão seco, o fogo espalha menos. Então, a área queimada tem tudo a ver com a seca, mas 95% foram (por causa dos) humanos", enfatiza.

A região conhecida como Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), por exemplo, área de grande expansão do agronegócio, apresenta alta propensão a incêndios devido à ação humana, muitas vezes ilegal, para abertura de novas áreas.

Planejamento

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) estruturou um planejamento robusto para 2025, com o maior contingente de brigadistas federais da história — 4.385 profissionais — e modernização logística. O órgão tem intensificado as ações de fiscalização, notificando milhares de propriedades no Pantanal e Amazônia identificadas como áreas de alto risco.

As punições para infrações ambientais foram ampliadas, incluindo multas e embargos de áreas que perdem acesso a financiamentos. As principais dificuldades incluem a vasta extensão territorial e a reincidência de infratores.

O governo de Mato Grosso — um dos estados mais atingidos em 2024 e 2025 — destinou R$ 125 milhões para ações ambientais em 2025, mobilizando um grande contingente de militares e brigadistas, com aumento significativo da frota de viaturas e horas de voo de aeronaves.

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A Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo (PNMIF), que completou um ano em vigor em julho de 2025, é considerada como central pela pasta do Meio Ambiente para coordenar ações entre diferentes esferas de governo e a sociedade civil, visando reduzir danos e reconhecer o papel ecológico do fogo em ecossistemas específicos, valorizando saberes tradicionais.

Carlos Nobre ressalta a urgência de zerar rapidamente todo o desmatamento e degradação na Amazônia, além de promover a restauração florestal em vastas áreas, até 2030, para evitar o "ponto de não retorno". Ele explica que, caso isso não seja feito, a Amazônia pode transformar-se em uma savana tropical com poucas árvores e redução significativa do volume de chuvas.

*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro

 

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postado em 03/08/2025 04:00 / atualizado em 05/08/2025 09:52
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