Denúncia

Vídeo: ativista cadeirante denuncia cárcere privado e maus-tratos em voo da Latam

Luciana Trindade, que faz uso ainda de ventilador mecânico, teria sido impedida de desembarcar da aeronave por quase duas horas sob ordens da tripulação: "Momento foi profundamente humilhante"

Ao Correio, a Latam Airlines disse seguir
Ao Correio, a Latam Airlines disse seguir "rigorosamente os padrões de segurança e os regulamentos das autoridades nacionais e internacionais para garantir uma viagem segura para todos" - (crédito: Arquivo pessoal)

A secretária nacional da pasta de inclusão do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Luciana Trindade de Macedo, 46 anos, denunciou ter sido submetida a situações de constrangimento, maus-tratos e cárcere privado na noite de quinta-feira (28/8), durante o voo LA 3528 da Latam Airlines, que partiu de Brasília com destino a Guarulhos, em São Paulo.

O caso ocorreu quando Luciana, que utiliza cadeira de rodas e ventilador mecânico, juntamente com o seu marido, Andre Ancelmo Araújo, foram impedidos de desembarcar da aeronave por quase duas horas, mesmo após o pouso, sob ordens da tripulação.

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Segundo relatou ao Correio, os problemas começaram ainda durante o taxiamento da aeronave. A tripulação teria exigido que Luciana fosse transferida de assento, alegando que passageiros que utilizam equipamentos respiratórios deveriam voar junto à janela. A passageira diz ter sido humilhada diante dos demais ocupantes do voo, enquanto o marido questionava a segurança da troca naquele momento. A mudança acabou sendo feita com a aeronave em movimento.

“Esse momento foi profundamente humilhante para mim, me senti exposta diante dos demais passageiros”, disse a secretária do PSB, que também é especialista em Acessibilidade, Diversidade e Inclusão e pós-graduada em Direitos da Pessoa com Deficiência.

Após o pouso em Guarulhos, o casal relata ter sido surpreendido com comentários discriminatórios por parte do chefe de cabine, identificado como "Ítalo". Ele teria dito que Andre deveria “agradecer” pelo constrangimento sofrido, sugerindo que, em caso de acidente, ficaria “preso” à esposa devido à condição de Luciana (ser cadeirante).

Em seguida, o marido da passageira tentou falar com o comandante, mas conta que foi empurrado pelo chefe de cabine, impedido de se aproximar. A situação se agravou quando, segundo Luciana, a tripulação decidiu mantê-los dentro da aeronave até a chegada da Polícia Federal, sem permitir o acesso à cadeira de rodas da passageira. O casal permaneceu retido entre 16h40 e 18h30, período em que a ativista declara ter sofrido sede, frio, dor de cabeça, elevação da pressão arterial, tendo ultrapassado o horário da medicação para hipertensão.

“Devido à deficiência visual de Andre no olho esquerdo, ele precisou se posicionar mais próximo para enxergar adequadamente, momento em que Ítalo se tornou ainda mais agressivo, falando grosseiramente e afirmando que 'não estava ali de brincadeira'. Diante de tamanha arrogância e desrespeito, Andre reagiu verbalmente, questionando se ele achava que estava 'brincando' com minha situação de sofrimento, e, em um momento de indignação e o xingou”, relatou Luciana.

Somente após a chegada da Polícia Federal e questionamentos feitos por Andre, a cadeira de rodas foi liberada. Os policiais informaram que a companhia aérea havia acionado as autoridades alegando que os dois colocavam em risco a tripulação e os passageiros — acusação considerada infundada. Na delegacia, o delegado de plantão registrou a ocorrência, descartando qualquer crime cometido pelo casal.

A passageira ainda denunciou ter sido fotografada sem autorização por uma das comissárias, além de relatar erros no procedimento de desembarque feito por funcionárias da Swissport, empresa terceirizada responsável pelo atendimento. Após o episódio, precisou de atendimento médico devido ao agravamento da pressão arterial.

Luciana classificou a experiência como “um trauma irreparável” e acusa a companhia de discriminação, assédio moral e violação de direitos fundamentais. “A Latam utilizou-se deliberadamente da minha vulnerabilidade como pessoa com deficiência para me constranger e me manter em cárcere privado”, afirmou.

O Correio procurou a Latam Airlines para comentar as denúncias, que informou que solicitou apoio da Polícia Federal para conduzir o desembarque de passageiros do voo LA3528 (Brasília–São Paulo/Guarulhos). "A companhia segue rigorosamente os padrões de segurança e os regulamentos das autoridades nacionais e internacionais para garantir uma viagem segura para todos", disse a empresa por meio de nota via e-mail. 

Assista ao relato de Luciana ainda no avião:

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Por Wal Lima
postado em 29/08/2025 11:51 / atualizado em 29/08/2025 11:56
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