Covid-19

Voltas às aulas presenciais na rede pública só com vacinação, diz Educação

Segundo a pasta, imunização de servidores é fundamental para retorno. Expectativa é de que, até agosto, professores tenham recebido ao menos a primeira dose

José Carlos Vieira
Luana Patriolino
Pedro Marra
postado em 11/05/2021 06:00 / atualizado em 12/05/2021 19:50
 (crédito: Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press)
(crédito: Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press)

O Distrito Federal se prepara para vacinar contra a covid-19 os professores e servidores da rede pública de ensino da capital. Com o plano de vacinação da categoria estruturado e finalizado, a expectativa dos técnicos é de que os profissionais sejam imunizados a partir do mês que vem para que as aulas presenciais comecem em agosto. “Pelo que tenho conhecimento, o Ministério da Saúde se manifestou com relação à vacinação dos professores em junho. O governador pretende iniciar as aulas até agosto”, reiterou o secretário da Casa Civil do DF, Gustavo Rocha, durante coletiva ontem. Com a redução no número de casos e na ocupação dos leitos de UTI, Ibaneis Rocha estuda também liberar a volta de eventos, com público reduzido para 25% (leia mais na página 14).

Os próximos passos da ação ficarão sob responsabilidade das secretarias de Educação e Saúde do DF. Ao Correio, o subsecretário de Vigilância à Saúde, Divino Valero, disse que as pastas vão ter a primeira reunião para definir as tratativas do processo na tarde desta terça-feira. “Temos que avaliar se há compatibilidade com o que recebemos de dose”, afirmou.

Valero não deu detalhes sobre o plano e os critérios de imunização dos profissionais e disse que o GDF, assim como as demais unidades da Federação, é obrigado a seguir o Plano Nacional de Imunização do Ministério da Saúde. “Hoje, nem a gente tem autonomia, porque dependemos de doses que vêm do Ministério da Saúde”, disse.

Em nota, a Secretaria de Educação do DF (SEEDF) afirmou que a capital está preparada para o retorno presencial, que só ocorrerá após a vacinação dos professores, demais servidores e funcionários terceirizados que atuam nas escolas. “A Secretaria de Educação estruturou o plano de volta às aulas presenciais a partir da vacinação dos profissionais de educação”, disse o comunicado.

Segundo a pasta, o retorno ocorreria de forma gradual. “A partir da pré-escola, em ordem crescente, até o ensino médio. A execução do plano, porém, depende da oferta de vacinas pelo Ministério da Saúde”, ressaltou a nota. A reportagem questionou a secretaria sobre a quantidade de profissionais da educação que estariam contemplados pela vacinação, considerando que parte do público pode ter sido vacinado por outros critérios, como idade e comorbidades. A pasta não respondeu até o fechamento desta edição. A previsão inicial era de que seriam 50 mil servidores.

Outro entrave para acelerar o processo é a falta de vacinas. Na semana passada, o Governo Federal voltou atrás e determinou que os imunizantes entregues aos estados e ao Distrito Federal fossem usados para completar o ciclo de vacinação. Com isso, inviabilizou a ampliação do público-alvo que, no momento, é composto por pessoas com comorbidades, profissionais de segurança, da saúde e idosos a partir de 60 anos. A Secretaria de Educação destacou que não tem informações sobre quando novos lotes do imunizante serão destinados aos profissionais da área. “(O ministério) Não sinalizou quando enviará aos estados doses para vacinação do grupo de professores”. concluiu.

A diretora do Sindicato dos Professores (Sinpro-DF) Rosilene Corrêa afirmou que os profissionais não se sentem seguros para voltar ao trabalho presencialmente. “O ritmo de vacinação no DF está muito lento. Não tem como ter segurança para um retorno sem vacina. E, de preferência, com a população vacinada, e não só os professores”, disse. A representante da entidade diz que reconhece a importância das aulas presenciais, mas que, na atual situação, a saúde é prioridade. “Os professores nunca deixaram de trabalhar. Eles estão em sala de aula, o que diferencia é que estamos em uma sala de aula virtual. Lamentavelmente, sabemos e reconhecemos o prejuízo de muitos estudantes porque não dispõem de recursos para acompanhar a aula virtual. Falta de internet ou computador. Mas, isso não é responsabilidade dos professores”, ressalta.

Preocupação


Pais de alunos reconhecem que o rendimento escolar dos filhos diminuiu com o ensino remoto, mas temem que eles sejam contaminados pelo novo coronavírus nas salas de aula. A auxiliar operacional Divina Pereira de Morais, 28 anos, preocupa-se em deixar que o filho frequente a escola. “Eu estava tranquila em relação ao meu filho voltar, mas ouvi de uma moça que a irmã dela estava com covid e a filha estava indo para a creche. Tem pais que estão doentes e mandam os filhos para a escola. Essas crianças podem transmitir o vírus para as outras”, conta a moradora de Planaltina.

A empresária Brunna Araújo Nunes, 35 anos, moradora de Taguatinga, também se sente insegura para o retorno das aulas presenciais. Ela acredita que apenas a vacinação dos profissionais não é suficiente. “Não adianta somente vacinar os professores porque tem as crianças. Se uma criança estiver com o vírus, vai passar para as outras. Eu tenho três filhos na escola pública, gostaria muito que as aulas voltassem, mas só se tivesse um controle maior”, aponta.

A técnica em radiologia Maria das Graças Barbosa, 55 anos, vacinou-se contra a covid-19, pois faz parte do grupo das comorbidades. Mesmo aliviada, ela expressa outra preocupação: os netos que estão em idade escolar. Para Maria, os professores devem ser imunizados com urgência. “Eles deveriam ser vacinados, porque não tem como dar aula sem vacinar. E fica aquele problema: eles serão vacinados, mas e as crianças? Esse é o ponto negativo”, ressalta.

O presidente da Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino do Distrito Federal (Aspa-DF), Alexandre Veloso, destaca a preocupação da entidade com o retorno das aulas. “Acreditamos que isso é importante e vai ajudar muitas famílias. Também temos a necessidade de que isso seja opcional. Tem família, por exemplo, que sinalizou que só volta quando o filho for vacinado. Então, isso não vai acontecer este ano, porque vacina para criança não tem previsão”, comenta.

O médico infectologista Vitor Bertollo, do Hospital Brasília Unidade Águas Claras, explica porque a escola oferece um alto risco de transmissibilidade da doença. "Historicamente, com as diversas doenças respiratórias, as crianças sempre foram um vetor de transmissão muito importante. Tanto entre elas, como delas para outras pessoas", diz. "As crianças, num geral, têm um padrão de contato entre si muito mais próximo do que os adultos. Elas têm interação com maior número de pessoas, em contato com secreções e salivas", conclui o especialista. 

 

Mais 37 mortes
O DF registrou 37 mortes e 832 casos da covid-19 ontem. Com as ocorrências, a capital acumula 8.150 óbitos e 387.293 infecções pelo novo coronavírus. Desses, 371.293 são pacientes considerados recuperados. A média móvel de casos está em 865, o que representa queda de 8,57%, em relação ao número de 14 dias atrás. Quanto às mortes, em comparação ao mesmo período, o índice é de 38 — redução de 22% comparada à média móvel de 26/5.

Ontem, foram mais 7.606 pessoas imunizadas com a 1ª dose da vacina contra a covid-19. O número dos que receberam a segunda aplicação totaliza 1.439. Os dados são do vacinômetro da Secretaria de Saúde do DF. Com os números, a capital soma 520.625 aplicações da primeira dose e 280.378 da segunda, desde o início da campanha.

Palavra de especialista

Exposição

“É importante vacinar os professores porque eles vão ter que sair de casa, se transportar, chegar nesse ambiente (escola) e vão ter contato com muita gente na sala de aula. Temos visto que a transmissão de covid-19 em ambientes escolares tem uma característica que não é, em geral, do aluno para o professor, e, sim, do professor com outros professores e com funcionários. Assim, o aluno entra também como parte desse ciclo. Mas a transmissão em adultos é mais importante do que em crianças. Ao mesmo tempo, é importante que a gente tente elencar e fazer uma discussão ética sobre quais são os grupos mais vulneráveis e mais expostos para construir essa ordem de vacinação. Por exemplo, temos motoristas de ônibus, cobradores, profissionais de limpeza e segurança, que são serviços essenciais, que ainda não foram vacinados e que, em teoria, estão mais expostos que os professores.”

Jonas Brant, epidemiologista e professor da Universidade de Brasília (UnB)

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