MEIO AMBIENTE

Tempo de economizar água: mesmo com o calor, poupar o recurso é fundamental

Medidas de uso racional da água são cada vez mais necessárias. Embora sem o risco de uma crise hídrica, mudar os hábitos de consumo e evitar desperdícios reduzem os impactos na natureza e no bolso do brasiliense

Edis Henrique Peres
postado em 09/09/2021 06:00 / atualizado em 10/09/2021 09:00
Eliete Zorzin, síndica:
Eliete Zorzin, síndica: "Nossas campanhas estão surtindo efeito. Estamos vendo a diferença acontecer" - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

Adotar o uso consciente da água é cada vez mais necessário para diminuir os impactos no meio ambiente. Alguns exemplos são a reutilização da água que sai da máquina de lavar roupa para limpar o piso ou a captação da chuva para a rega do jardim, que além de contribuírem para o uso racional do recurso hídrico, também impactam na tarifa no fim do mês. Embora uma crise hídrica como a vivenciada em 2017 seja descartada pela Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), a mudança de hábitos continua necessária.

Como prioridade, muitos condomínios da capital conciliam sustentabilidade e economia nas campanhas de conscientização dos moradores. Últimos dados da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa) apontam que, em julho, o consumo médio por habitante foi de 133 litros diários. Em abril chegou a 142 litros.

Graças a campanhas de conscientização e diversas iniciativas de economia, Maira Coelho Silva, 54 anos, síndica do Edifício Mont Clair, no Sudoeste, reduziu em 30% o consumo de água dos moradores do seu condomínio. “Com todas as medidas que tomamos, de comprar uma máquina de reuso e as campanhas, conseguimos alcançar esse desempenho”.

A síndica explica que o benefício econômico costuma ser um atrativo aos moradores. “Quando afeta o bolso, eles se mobilizam mais facilmente, porque veem na prática o que a redução oferece. A gente sabe que precisamos de um ambiente mais sustentável e, para isso, fizemos diversas iniciativas, como comprar uma máquina de lavar piso, que reduz o consumo de água nas áreas comuns”. Contudo, Maira admite que “não é fácil, porque exige uma mudança cultural, e não acontece de um dia para o outro”.

O mesmo desafio foi enfrentado por Eliete Zorzin, 45, síndica do residencial Olympique, no Guará 2. “São várias cabeças com pensamentos diferentes, mas nossas campanhas estão surtindo efeito. Estamos vendo a diferença acontecer”. Preocupada com o meio ambiente, Eliete confessa que os projetos não param com reuso da água, implantados no prédio ainda em 2017. “As campanhas de conscientização são diárias. E agora trabalhamos com a coleta seletiva de recicláveis. Os pequenos atos trazem uma mudança muito grande, porque temos cerca de duas mil pessoas no prédio. Além disso, para o próximo ano, estamos avaliando medidas que podem ajudar também a diminuir o consumo de energia”, conta.

Conscientização

Daniel Sant’Ana, líder do grupo de pesquisa sobre água e ambiente na UnB, destaca que para incentivar as mudanças de hábitos, políticas tarifárias também são eficazes. “Essas iniciativas que estimulam a população a fazer um uso racional. Também políticas públicas, com metas realistas em edificações, costumam ser positivas. Na prática do dia a dia, medidas simples surtem um bom efeito, como vasos sanitários com descargas de direcionamento duplo ou chuveiros mais eficientes”, pontua.

Além disso, o especialista esclarece que, se em larga escala, as medidas de redução são implementadas, é possível diminuir os impactos não apenas sobre os reservatórios, mas também na preservação do meio ambiente. “A mudança de hábito não é simples. Por isso é necessário ação e incentivo, para que ela aconteça. Somente com o uso consciente poderemos impedir, por exemplo, que novas fontes hídricas sejam exploradas”, diz.

Na avaliação do superintendente de recursos hídricos da Adasa, Gustavo Carneiro, a redução do consumo de água ainda pode ser maior. “Nos últimos anos temos uma tendência de redução per capita do uso de água, mas isso de forma tímida, sem grandes transformações. No entanto, sabemos que temos uma linha de manobra muito boa que pode diminuir esses gastos. Por isso, a Adasa trabalha sempre com campanhas educativas, principalmente no período de estiagem, para fortalecer essa orientação de uso consciente”, afirma.

Com isso em mente, o professor de matemática Heron de Sena Filho, 58, decidiu aplicar seu projeto de mestrado em Educação na Escola Classe 5 de Sobradinho, que atende alunos do ensino fundamental 1. “Estava desenvolvendo a minha pesquisa na linha de educação ambiental e percebi que na Escola Classe 5, no momento que os alunos iam beber água no bebedouro, muita água era desperdiçada pela torneira e era jogada fora. Com isso, adotamos uma caixa de água de 200 litros, para onde essa água que ia ser descartada foi direcionada”, detalha.

A água reaproveitada do bebedouro começou a ser usada na horta da escola. “Os alunos perceberam a importância dessas medidas. Além disso, eles casavam essas ações com outros estudos, como o funcionamento das plantas e a importância de não poluir os lençóis freáticos, por exemplo. O mais interessante é que esse é um projeto que pode ser adaptado e adotado facilmente, não apenas em escolas”, sugere.

Saiba Mais

Consumo diário por habitante

Confira as médias de litros consumidos por dia pelos moradores do Distrito Federal

» Janeiro: 132 litros por habitante ao dia (L/Hab.dia)

» Fevereiro: 138 L/Hab.dia

» Março: 133 L/Hab.dia

» Abril: 142 L/Hab.dia

» Maio: 130 L/Hab.dia

» Junho: 133 L/Hab.dia

» Julho: 133 L/Hab.dia

Fonte: Adasa

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Infraestrutura e abastecimento

 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

Sem riscos de crise hídrica no DF, as ações não deixam de ser pertinentes. De acordo com dados da Caesb, o reservatório do Descoberto está com 71,9% da capacidade e o de Santa Maria, com mais de 89,3%, além de uma boa disponibilidade hídrica no Lago Paranoá. “Os recentes investimentos realizados (novas captações no Paranoá e no ribeirão Bananal), aliada à gestão operacional dos sistemas de abastecimento de água, contribuíram para a manutenção do nível dos reservatórios”, salienta. Em agosto, a vazão média captada no Descoberto foi de 4,2 m³/s, enquanto na barragem de Santa Maria foi de 0,97 m3/s.

Contudo, a Caesb destaca que “para evitar nova crise hídrica, são necessários esforços conjuntos da população e do Governo do Distrito Federal (GDF), além de bons índices pluviométricos nos próximos períodos chuvosos. A necessidade de adotarmos o uso consciente da água reflete diretamente na redução da demanda dos sistemas de abastecimentos, contribuindo para o pleno atendimento à população”, destaca em nota.

Até o momento, outro investimento do órgão são as obras do Corumbá IV. “Atualmente a obra se encontra 97% concluída, com as estruturas operadas pela Caesb eletrificadas, liberando-as para a realização de testes operacionais. Porém, ainda está pendente a eletrificação da captação (feita pela Saneago, de Goiás). Ainda não há data para o início de operação de todo o sistema, mas a previsão é que ocorra até o final deste ano”, detalha.

Calor intenso no DF

 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press - 13/8/21)
crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press - 13/8/21

Depois dos brasilienses terem vivido o dia mais quente do ano na segunda-feira, quando os termômetros marcaram 35,9°C, a tendência é um tímido alívio nas temperaturas da capital federal nos próximos dias. A temperatura máxima foi registrada nas regiões de Águas Emendadas e, de acordo com Andrea Ramos, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a sensação térmica está agravada, nos últimos dias, porque além da alta temperatura, o DF sofre com uma baixa umidade e pouca frequência de ventos. O DF registrou, ontem, uma temperatura máxima de 33,6ºC e umidade relativa do ar chegou a 18%.

“Sexta-feira tivemos uma onda de calor que se estabeleceu no DF. Com isso, na segunda-feira passada tivemos a nossa maior temperatura do ano, com essa massa de ar seco favorecendo a sensação térmica. No entanto, depois de segunda, batemos um novo recorde, pois na terça-feira tivemos o menor índice de umidade relativa do ar de 2021: no Gama, chegamos a 11%”, explica.

Apesar disso, Andrea destaca que o pior já passou. “Vencemos os piores dias, o pico dessa massa de ar seco. Daqui para a frente a temperatura deve se manter entre 32°C e 33°C, e ainda teremos uma maior circulação de vento, o que colabora para uma sensação térmica mais branda. Mas vale destacar que estamos no alerta laranja”, destaca.

O alerta é emitido quando há riscos de saúde e incêndios florestais devido às altas temperaturas e baixa umidade. “A recomendação é beber bastante água, evitar o desgaste físico e procurar locais de refúgio nas horas mais quentes. Mesmo assim, amanhã (hoje) e o fim de semana não serão tão quentes. A tendência é a temperatura diminuir”, finaliza.

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